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#AvanteOficina

Por: Alessandro Garcia


Já se foi o tempo em que meninos se aglomeravam em torno de fechaduras para conseguir vislumbrar um corpo feminino nu. Foi-se também a época em que tais garotos eram repreendidos por isso. A situação das meninas não é muito diferente. A erotização precoce não tem sido propriedade exclusiva de nenhum dos sexos.

Não quero que pensem que vim aqui tratar o passado como um éden, no qual a questão sexual era bem resolvida. Os dramas existiam e eram muitos. O que não pode ocorrer é a crítica ao passado nos cegar para os males do presente. Se o ontem esteve repleto de

sombras, o hoje possui seus cinqüenta tons de cinza. Ou tons ainda mais escuros.

O comportamento em relação à sexualidade sofreu uma metamorfose brutal durante o século XX. Metamorfose tão grande que foi chamada de revolução sexual. E como toda revolução, esta também surgiu devido ao desejo de acabar com erros. O problema é que para combater os erros, muitas destas revoltas utilizam o método de implodir os acertos.


A chamada revolução sexual se insurgiu contra certas posturas tidas como repressoras. Talvez seja difícil para alguém de minha geração perceber, mas o sexo já foi uma espécie de assunto proibido, um tema do qual não se deveria falar. Um tabu. Cabe, no entanto ressaltar que muitos exageram ao falar de tal proibição; muito daquilo que hoje se julga uma censura, era apenas decoro e pudor decorrente da crença de que certos assuntos não se comentam em público. De qualquer maneira, houve sim certos exageros e muitas frustrações e violências vieram disso.


Os problemas da famosa revolução sexual não vem do desejo de resolver um problema, mas de, para fazer isso, causar outros ainda piores. Acredito que todos concordarão que não é correto cortar cabeças para se combater piolhos. Ou, em uma analogia melhor, que para resolver o problema de maus tratos nas prisões o melhor caminho seja acabar com as mesmas. Penso que no caso da revolução sexual, cujas consequências hoje colhemos, a atitude foi bem parecida com a das analogias acima.


Um episódio que testemunhei durante a graduação talvez me ajude a ser mais claro. Durante uma aula de psicologia, na qual se discutia a liberdade sexual uma aluna levantou a mão pedindo a palavra e fez a seguinte declaração:


- Fala-se muito dessa liberdade sexual hoje em dia, mas ela não existe. A liberdade também inclui a possibilidade de dizer não. E, hoje, nós não temos isso.


A declaração da garota gerou certo silêncio desconfortável. Muitos discordavam dela, outros talvez tenham se sentido pouco confortáveis com a declaração porque queriam discordar, mas não tinham bons argumentos. Minha memória falha quando tento recordar da resolução dada pela professora, mas a flecha disparada pela aluna permaneceu.


A mudança empreendida não foi da prisão para a liberdade, mas de uma situação na qual havia sim certa repressão, para uma de escravidão. Talvez a escravidão não seja sentida porque é travestida com a palavra libertação. Sim, barreiras e grades foram derrubadas, mas eram exatamente alguns destes limites que nos garantiam a liberdade. Em um avião são as janelas vedadas que garantem a pressão interna necessária ao vôo.


Se antes as questões sexuais eram um assunto a ser conversado a portas fechadas e que adolescentes e crianças ouviam por colarem o ouvido às portas, hoje são disseminadas aos quatro ventos e de todas as formas possíveis. As relações sexuais são superexpostas, o que faz com que caiam na banalidade.


É interessante pensar que muitas coisas para serem apreciadas precisam ser raras. Quando criança, por exemplo, ficava imaginando porque não faziam um bolo só de recheio. Hoje entendo que isso não acabaria só com o bolo, mas também com o recheio. O que sobraria seria apenas uma massa que logo enjoaria. A banalização mata a maravilha. Já vi depoimentos de dependentes de sexo afirmando que nem sentem tanto prazer, mas, por algum motivo, não conseguem parar a rotina que os frustra.


Preocupo-me bastante com o que hoje se chama “educação sexual”. Parece que, para algumas pessoas, educar é fornecer o máximo de informações o mais cedo possível. Algum tempo atrás quando visitava uma amiga em Teresópolis, sua mãe veio me mostrar um livro de educação sexual que chegou às mãos de sua filha mais nova, que, na época, cursava as primeiras séries do ensino fundamental. O tal livro descrevia em linguagem simples o ato sexual e era ilustrado. Em certa página, na qual havia o desenho de um homem deitado em cima de uma mulher, dizia-se: homens e mulheres quando fazem isso ficam muito felizes. Bom, ao me deparar com esse livro pornográfico para crianças pude entender as atitudes de muitas delas.


Antes o tabu era: sexo é algo proibido. O tabu atual é: sexo é algo obrigatório e deve ser feito em profusão. Tal obrigação machuca tanto ou mais que a antiga proibição. A quantidade de jovens e adolescentes dos quais já ouvi pessoalmente o relato das feridas causadas por uma vivência irresponsável da sexualidade não é pequena. As histórias que ouvi são apenas encarnações concretas de um movimento social mais amplo.


O ato sexual possui duas dimensões que não podem ser negadas: é lúdico e sagrado. É lúdico na medida em que oferece prazer e cria situações engraçadas; a relação sexual é uma espécie de jogo no qual são buscadas a realização e alegria dos dois parceiros. A ludicidade do ato sexual aparece na quantidade de piadas criadas acerca dele. Tenho a desconfiança que tais piadas sejam um fenômeno universal.


Por outro lado, este mesmo ato é sagrado na medida em que comunica a vida e une um casal. “Os dois serão uma só carne”. Penso que depois da gestação a maior intimidade que dois seres humanos podem ter é a relação conjugal. Essa sacralidade vem do fato de que o homem não é só carne, mas possui também espírito. Não é possível separar totalmente essas duas dimensões: em alguma instância a entrega do corpo é sempre a entrega de si.


Na relação conjugal ludicidade e sacralidade devem andar juntas, sendo uma a garantia da outra. Penso que em alguns momentos da história se sacrificou a ludicidade em prol da sacralidade e isso gerou tristeza. Hoje se sacrifica o sagrado para se ficar com o lúdico e tal atitude gera algo ainda pior: a instrumentalização do ser humano e a vacuidade do ato sexual.


É comum para aqueles que defendem a sacralidade da relação sexual ( eu estou entre eles) seguinte afirmação: sexo não é brincadeira. Hoje percebo que tal afirmação é equivocada. Na realidade, o sexo é uma grande brincadeira. E como toda criança sabe brincadeiras tem regras e são estas que permitem a diversão. Amarelinha deixa de ser amarelinha se cair a norma de que se deve pisar a maior parte dos quadrados com um pé só; pique esconde perde a graça se não houver a regra de que um dos participantes deve tapar o rosto enquanto os outros se escondem.


O sexo como toda boa brincadeira tem o potencial de trazer alegria e esta só é possível quando existe um conjunto de boas regras. Tal conjunto, no caso da relação sexual, tem um nome. Nome que está fora de moda, banido pelo novo tabu. Termino este texto simplesmente lembrando esse nome: matrimônio... 

Alessandro Garcia
Mestre em Sociologia - Coordenador da Oficina de Valores

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