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O Sol se foi e uma noite sem lua envolve o mundo com sua escuridão.
Se, por um momento, o som à volta parasse, seria fácil crer que não havia mais mundo.
Que minha solidão finalmente havia engolfado tudo e todos.
Sozinho...mesmo quando rodeado. Fulminado pela dor de não habitar nenhum coração.
Pensando bem, as trevas ao redor são como luzes quando comparadas com aquelas que carrego.
Mesmo com o sol a pino não há aurora dentro de mim.
Vivo constantemente na hora mais fria da madruga. O Sol não nasce dentro, apenas fora.
O que é uma pena.
Os raios do Sol incidem sobre meus olhos...caminho...mas, de alguma maneira, parece que não desperto.
Sou como um sonâmbulo que além de caminhar, fala e até sorri, mas não está verdadeiramente acordado.
O crepúsculo vem. A jornada fica para trás. Sinto-me velho, cansado.
É estranho, mas parece que não deveria ser assim.
A noite está como todas as outras.
Alguém se aproxima como tantos já se aproximaram.
Vozes vazias, palavras prontas...ecos ocos que muitas vezes até já me distraíram da frieza que carrego.
Cansei deles! Viro as costas! Fecho os olhos e tapo os ouvidos...
As horas passam. Abro os olhos e percebo que ele continua lá...a me olhar. Apenas isso.
Aquele olhar me incomoda. Sinto que há um interesse diferente que julgo bastante inconveniente.
Possuo minha vida! Minha tenda! Minhas coisas. Não devo nada a ninguém e ninguém deve se meter onde não é chamado.
O olhar incômodo persiste... e nada é dito. Não sei como é possível, mas as trevas não me impedem de ver aqueles olhos.
Não aguento e esbravejo, grito e expulso. Meu companheiro continua apenas a me olhar.
Uma calma me atinge e meu amigo fala.
“Sei que te sentes só. Conheço bem tuas trevas porque são semelhantes às minhas. Engana-te, no entanto, quanto à fonte do problema. Não sofres solitário porque não habitas em nenhum coração, mas porque vives encastelado no teu e nele ninguém , além de ti, habita”.
Choro amargamente...ele está certo. Não diz novidade alguma, apenas verbaliza aquilo que nunca tive coragem.
Quero sair, por favor. Tire-me de mim!
Não posso! Sou apenas a voz, não a Palavra. Mas posso comunica-la. Estou tentando fazer isso desde que te encontrei. Deseja que eu a diga?
Sim.
E ele diz.
Fico confuso, resisto, mas abraço. Nisso, o impossível acontece e o Sol nasce. Não fora, mas dentro. Montanhas de frieza degelam em meu coração e as lágrimas sinalizam isso. Pela primeira vez, acordo. Estou desperto. Enxergo...
Pela primeira vez percebo que o caminho não ficou para trás. A estrada está à frente. Ouvi a Palavra e fui arrancado de mim. Liberto de minha tristeza. Ainda há trevas, mas o Sol as atinge e aos poucos podem ser desfeitas
Sem perceber, torno-me também uma voz. Voz diferente da de meu companheiro, mas que fala em outros tons da mesma Palavra. Há um mundo, outras tendas. Vou até elas. É meu caminho, minha jornada. Uma jornada não de lamúria e lamentação. De tristeza, frieza e trevas. Mas uma jornada de alegria, entusiasmo, luz. Enfim, não uma jornada de decadência, mas uma jornada de juventude.
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia / Fundador da Oficina de Valores
Poesia apresentada na I Noite de Talentos da Oficina de Valores, 18/Maio/2013
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