imagem de: .digitalinformationorld.com. Na foto: O Fenômeno #Selfie |
A moda do autorretrato
fotográfico, ou simples e estilizadamente selfie,
tornou-se título e tema de uma nova série de comédia da Warner Channel. Eu, que
costumo gostar bastante das séries cômicas do canal, resolvi assistir aos dois
primeiros episódios depois de ter visto cinco minutos de um deles
acidentalmente (eu estava procurando por The
Big Bang Theory ou Friends, pra
variar).
Devo dizer que a série não é
extraordinariamente engraçada, o enredo é simples, com alguns clichês e os
personagens não são lá muito cativantes. Mas apesar de não ser uma série que
tenha conquistado minha fidelidade para acompanhá-la, devo dizer que gostei
muito da reflexão que ela pretende: fica evidente que a série quer criticar a
virtualização exagerada dos últimos tempos.
A personagem principal,
Eliza, é uma viciada em redes sociais que tenta compensar a falta de amigos e o
bullying sofrido na adolescência ganhando o máximo de atenção possível na
internet. Ela consegue, da pior forma possível, quando um vídeo humilhante seu
“viraliza” e ela passa a ser ridicularizada no trabalho. Eliza recorre a um
publicitário da sua empresa, o melhor deles, para que ele possa melhorar a sua
imagem como faz com os produtos da empresa. Henry, o publicitário, é o seu
oposto: viciado em trabalho, não tem vida social, real ou virtual, e não se
rende aos encantos da internet (e nem os da vida, note-se). Já tendo criticado
os clichês, comprovo ao contar que eles vão mudando-se mutuamente: Eliza faz de
Henry menos “chato” e ele faz dela menos “fútil” e fica óbvia a semente do
romance que vai se desenrolar entre eles ao longo da série.
O que me ganhou é que os
episódios estão cheios de frases reflexivas sobre o uso exagerado da internet,
sobre a superexposição nas redes sociais, sobre a incoerência de certos
“códigos de conduta” dos usuários. Parece-me uma tentativa de dizer um
“vamos devagar” para essa virtualização das relações.
Há um tempo já eu penso (e
nisso a faculdade tem muito mérito) sobre essas novas formas de “existir”
socialmente: eventos, notícias, recados pessoais, fofocas... tudo(!) está em
alguma, ou todas, as redes sociais. E
uma moda contemporânea em especial me desperta a curiosidade e, por vezes, um
incômodo: as selfies.
Os autoretratos não são uma
invenção recente, só seu nome estilizado e seu valor de status estético-social nas redes. Só a moda de
fotografar-tudo-o-tempo-todo, grandemente instigada pela facilidade cada vez
maior para se fotografa/filmar com quase qualquer aparelho já seria um fenômeno
e me é mais compreensível: as pessoas fotografam para guardar e mostrar o que
viram/viveram. Daí a desejarem estar na foto em vez de atrás da câmera, também
me parece um comportamento coerente. O que me intriga é que, já não satisfeitas
em estarem ali, fazendo o que for, quererem guardar uma imagem como memória e
quererem estar na imagem, as pessoas querem ser ainda fotógrafas de si mesmas.
Lembro-me de ter descoberto
que havia um nome “americanizado” para o ato de fotografar a si mesmo, faz
pouco tempo. Achei uma grande bobeira, pois, como já disse, autorretratos não
são novidades. Achei ainda mais bobo quando (e acontece muito) junto a um grupo
de amigos, havendo a possibilidade de pedir para alguém tirar uma foto nossa,
alguns insistiam em fazer suas selfies. Ou
seja, não era a necessidade, mas a escolha que fazia aquelas pessoas me pedirem
para congelar o sorriso por muito tempo e por várias vezes até que elas
conseguissem enquadrar uma foto sem estar vendo-a. (deixo aqui o meu “muito
obrigado” aos inventores de câmeras frontais”)
Bom, é lógico que eu não vim
aqui dizer que selfies são “mais um
dos males da contemporaneidade blá blá
blá..”. Eu só queria dizer, como alguém que não faz selfies, a você que faz, que elas podem fazer de você um chato! Ou
pior: alguém fútil. Quero dizer, pra não ser tão “agressivo”, que o exagero
pode estar fazendo você perder momentos importantes da sua vida, como um
passeio em família ou uma festa com os amigos, porque você pode estar mais
preocupado com o número de “conhecidos” “curtindo” a sua foto na internet. Há
poucas coisas tão chatas em um momento de lazer quanto a companhia de alguém
que só quer fotografar tudo, que parece extremamente narcisista querendo
dividir a atenção dos seus “seguidores” entre seu próprio rosto e uma paisagem
ou qualquer outra coisa legal que encontre. E pior, alguém que exige que você
compartilhe, no sentido humano não-rede-socialesco da palavra, aquela pratica
incômoda.
Eu entendo o desejo de
guardar memórias ou de dividir com as pessoas que se gosta e não estiveram
presentes naqueles momentos. Entendo até mesmo as vontades menos dignas, como
esfregar a felicidade na cara de um(a) ex... Não concordo, mas compreendo. Eu
só acho que a falta de equilíbrio, o “extremismo”, nessa situação como em quase
todas da vida, pode fazer perder-se um ganho.
Eu me preocupo com essas
fotos porque elas pretendem solucionar um problema causando outro: imagino que
deva ser angustiante viver uma experiência legal e não ter uma foto que me
permita lembrar mais tarde, ou dividir com as pessoas que eu gosto. Fotos de
grandes momentos evocam a experiência vivida. Mas se eu não viver a experiência
ao máximo, a foto perde o seu sentido: não haverá em mim nada daquela alegria
nostálgica para ser despertada, eu não vivi aquele
momento que fotografei. Eu só fotografei.
Gustavo Lima
Estudante de Jornalismo - Oficina de Valores
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