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A magia escondida na sua vida cotidiana
Todos nós já tivemos uma fase da
nossa vida que era encantada por
contos-de-fadas, seja através de filmes, livros, histórias bizarras contadas
por nossos avós e por aí vai. Quando somos crianças e temos contato com esses
contos, interagimos de tal forma com eles que chegamos a nos sentir como os
próprios protagonistas do conto ou participando dele de alguma forma.
Definitivamente, quando somos pequenos, temos uma capacidade maior de usar da
imaginação pra tornar a vida mais empolgante. Contudo, conforme vamos
crescendo, assumimos responsabilidades, compromissos e temos a vida mais
corrida. Isso torna nosso cotidiano muito mais desgastante, banal e repetitivo,
e toda aquela magia de possuir outra vida dentro de um conto-de-fadas é deixada
lá atrás, junto com nossa infância. Mas será mesmo que esse cotidiano precisa
ser tão banal quanto sentimos que é? Será que somos necessariamente confinados,
a partir de certa idade, a viver algo tão desestimulante quanto essa rotina
corriqueira?
Bom, não podemos simplesmente
largar todas nossas responsabilidades e dizer: “Chega! Agora eu quero viver na
Terra do Nunca, ou no País das Maravilhas!”. Então temo dizer que sim, uma hora
precisamos assumir essa rotina de responsabilidades e compromissos. Seria um
tanto quanto desrespeitoso com o leitor escrever um texto simplesmente para
falar algo tão desanimador quanto essa rápida reflexão. Afirmo de antemão que
não farei isso. Escrevo esse texto pra oferecer outro ponto de vista quanto a
esse tal de “cotidiano banal”.
Recentemente assisti a um filme o
qual tem me feito pensar bastante. O nome do filme é Big Fish e foi dirigido por um dos diretores mais geniais que
conheço: Tim Burton. Aconselho o leitor a assistir ao filme para entender
melhor o que quero tratar aqui, mas, em resumo, Big Fish trata de um homem chamado Ed Bloom, conhecido por sua fama
de “um grande contador de histórias”, que se encontra em estado terminal e conta
sua vida em forma de histórias épicas, com gigantes, bruxas, um peixe enorme
que rouba alianças e outras coisas extraordinárias e bizarras. Durante boa
parte do filme, assisti às histórias contadas pelo protagonista como meros
contos fantasiosos com diversos efeitos para entreter o espectador, contudo, no
final do filme percebi que as histórias contadas, na verdade, não eram apenas
contos fantasiosos, mas sim a forma com que Ed Bloom enxergou a própria vida, e
levava aquela imagem com ele. Quando isso ficou claro na minha mente, implicou
em que eu observasse a minha própria vida como uma “fantasia real”. Afinal,
contos-de-fadas existem para relembramos o quão extraordinário é o cotidiano.
Mas a resposta ainda não é tão clara... Se o cotidiano é realmente tão extraordinário,
onde está esse diferencial?
Quando possuímos uma rotina de
estudos, trabalho e outras coisas, é inevitável que isso se torne repetitivo e
realmente é muito difícil ver algo de extraordinário dessa forma. Claro que há
dias que somos convidados, por exemplo, para alguma festa, ou descobrimos um
feriado repentino, ou uma greve na faculdade, entre tantas outras ocasiões que
podem proporcionar uma quebra nessa rotina. Fazem com que tenhamos a
possibilidade de experimentar coisas novas e fugir um pouco, mesmo que seja só
um pouquinho, desse ciclo. Seria ótimo se essa fosse a solução do problema....
Não sei se o leitor irá concordar comigo, porém viver uma vida de expectativa
desses eventos é, para mim, um tanto quanto frustrante, e corremos o risco de
viver uma vida fútil. Como eu disse anteriormente, vim oferecer uma nova ótica
para nossa vida...
Enquanto refletia sobre esse
tema, lembrei-me de um amigo que dava uma explicação excelente sobre a
diferença entre um andarilho e um turista. Em resumo, a principal diferença
entre os dois é que o turista espera que a viagem passe o mais rápido possível
para que ele possa chegar logo ao seu objetivo, que pode ser conhecer uma
cidade bonita ou qualquer outro lugar que tenha vontade de ir, enquanto o
andarilho possui a mesma cobiça de conhecer algum lugar novo, porém ele
aproveita a viagem e repara nos detalhes durante o caminho. Não podemos viver a
vida como turistas que aguardam algo extraordinário em um feriado. Devemos ser
como andarilhos e ver o extraordinário durante o caminho, nos dias comuns. Se
pararmos para pensar, todos nós somos protagonistas de algo extraordinário para
alguém. Para um piloto de avião, um dia de trabalho pode ser apenas mais um dia
de trabalho, uma viagem pode ser apenas mais uma viagem, mas para um dos
passageiros pode ser a realização de um sonho, ou então o dia especial em que
ele vai matar a saudade da família ou começar uma nova vida. Para um padre, a
celebração de um matrimônio pode ser apenas mais uma de tantas outras
celebrações das quais já teve o privilégio de participar, mas para aqueles que
trocam as alianças durante a celebração, é um momento único, um novo começo. Talvez
uma ligação para algum amigo seu pode ser apenas
mais uma ligação para você, mas para seu amigo pode ser o diferencial do dia, o
que vai torná-lo diferente de todos os outros. Preparar uma prova, para um
professor, pode ser apenas mais um trabalho cansativo, mas para um aluno que
estuda durante dias é como um desafio, que empolga e amedronta. Não importa a
situação, todos os dias somos protagonistas de algo especial na vida do outro,
mesmo que não tenhamos ciência disso.
Sim, nossa vida é um conto-de-fadas.
O cotidiano é sim algo extraordinário. Todos os dias, temos a oportunidade de
ser o diferencial na vida de alguém, por isso é necessário que vivamos a cada
dia com paixão. Estar atento às necessidades alheias e pensar: “O que de
diferente eu ofereço todos os dias?”. Se esse diferencial ficar bem claro na
nossa mente, faremos nossas obrigações com outro olhar, de uma forma diferente,
e apreciaremos o caminho. Como bem disse Marcelo Jeneci, “o que vale nessa vida é ver o quanto você
aproveita desde a hora que levanta até a hora que deita”. Talvez vivendo a vida
como andarilhos possamos sentir novamente a magia de viver dentro de um
conto-de-fadas.
Yuri Weilemann
Estudante de Engenharia / Oficina de Valores
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