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#AvanteOficina

Parto de um episódio familiar, restrito, buscando alcançar uma dimensão mais abrangente.

Deu-se que eu me impacientei com o meu pai, neste fim de semana. Reagi (confesso) exageradamente às suas reclamações acerca do que ele chama a “falta de coerência” de um determinado autor de telenovela. Como esse tipo de comentário tem sido, da parte de meu progenitor, bastante frequente, reconheço que

desta feita acabou sendo a gota d’água, o estopim de uma ‘polvorosa’ discussão.

Não se tratava, eu sei bem, de uma crítica pura e simples; menos ainda construtiva. Era, na verdade, o seu velho hábito de reclamar. No caso em questão, iniciou-se a partir do dia em que eu lhe disse que (ao contrário do que ele estava convencido) a referida telenovela ainda estava pelo meio, e a sua exibição deveria estender-se por mais longos oitenta capítulos. Desde esse momento, ele ‘decidiu’ interiormente que não ia gostar mais de assisti-la – coisa que vinha fazendo, até ali, com frequência,e mesmo com acentuado interesse.

Tudo bem, meu pai está com 69 anos; e, em que pese a idade, sempre foi uma pessoa difícil no quesito ‘mudar de opinião’. Trocando em miúdos: quando ‘encasqueta’ com uma coisa, não há autoridade alguma que o convença do oposto. Que dirá a opinião de um reles ‘filho’, por mais bem intencionado, e ainda mais quando este perde as ‘estribeiras’...

Assim, embora não tenha deixado de assistir a dita, o sr. Dideco passou constantemente a chiar, apontando-lhe diversas ‘incoerências’ no roteiro – coisa que qualquer pessoa que assista a esse tipo de atração sabe bem que vai acontecer: é um produto de entretenimento de massa, sujeito a várias influências, desde a famigerada busca por ibope até os chiliques de atores e diretores. Sem contar que o autor não está obrigado a mudar seu modo de escrever porque eu (ou quem quer que seja) assim o deseje.

Estava, como se vê, declarada a guerra. Hoje podemos rir das fúteis motivações de tamanho estresse familiar; mas, na hora, a trincheira estava bem explosiva e enfumaçada.

Narrado o inusitado episódio, procuro agora analisar, em maior profundidade, esta estranha característica – que nem sei dizer se é apenas brasileira ou se será propriamente da raça humana em geral: a MANIA DE RECLAMAR; e, quase sempre, no ouvido de quem não pode fazer nada para mudar a situação que gerou a queixa. E, sim, cá estou eu fazendo o mesmo: alugando, senão vossos ouvidos, leitores, ao menos vossos olhos com o desfiar de minha própria reclamação.

Quem de nós já não se deparou, em filas de ônibus ou de banco, com aquela gente ‘indignada’ com tamanhas injustiças sociais que grassam pelo mundo, quer em âmbito municipal, estadual, federal, quiçá planetário (vide os ‘ecochatos’, por exemplo)? Gente que começa, portanto, a ‘vomitar’ sua insatisfação com esse ou aquele estado de coisas que, a eles, parece inadmissível? Vão-se minutos preciosos (que, de acordo com minha fé, seriam mais bem aproveitadas rezando) de nosso corrido tempo e, o que é pior, vai-se juntamente a nossa já de si tão precária paciência.

A pergunta que, invariável, me ocorre em tais momentos é a seguinte: ADIANTA ALGUMA COISA ficarmos resmungando, murmurando contra algo que, na maior parte das vezes, não tomamos as devidas providências para modificar?

Se nós votamos mal, trocando nossos votos por interesses particulares imediatos; se nos recusamos a nos organizar comunitariamente para influir nas devidas instâncias a favor das melhorias que almejamos; se morremos de medo (resquício, talvez, dos tempos de ditadura, em que as liberdades individuais estavam sob a mira constante de um Estado totalitário?) de associar nosso nome a qualquer movimento ou um simples abaixo-assinado que possa significar um avanço nas negociações de assuntos que nos dizem diretamente respeito – QUE DIREITO ACHAMOS QUE TEMOS DE RECLAMAR?

À força de esbravejar e gritar – diga-se de passagem, nas oiças erradas! – achamos mesmo que seremos ouvidos e atendidos? Se – para ficarmos em um único exemplo – não boicotamos os ônibus, insuficientes e insatisfatórios (que, no entanto, param de circular quando os interesses DELES estão em jogo), como pretendemos que o sistema de transporte melhore? Despejando ‘rabugices’ no ouvido alheio, tornado assim um ‘penico’ à disposição dos ‘jorros fisiológicos’, do despejar de nossas (vá lá que justas) reivindicações reprimidas? Ora, façam-me o favor! ´

Eram da mesma natureza inútil e descabida as queixas de meu pai. O dramaturgo que ele desancava diante de mim não tomará sequer conhecimento de seu desagrado; tanto mais que o velho continua assistindo à novela, acrescentando o seu aparelho de tevê ao número estatístico dos que estão ligados naquela emissora, naquele horário. O cara vai lá se importar se discordo dos rumos que está imprimindo ao seu folhetim se a minha audiência constante garante que, bem ao contrário, estou admirando muito o seu trabalho?

Sinto que precisamos rever nossas posições, nossas atitudes perante os problemas que enfrentamos. Se determinado programa não me agrada, não sou de modo algum obrigado a vê-lo. Mas se opto por ver, preciso me sujeitar ao que me está sendo apresentado. Não vejo quase ninguém murmurar contra roteiros de filmes americanos, repletos de incoerências as mais estapafúrdias; ao contrário, se riem e se deliciam da ‘mentirada’. Agora, numa novela – que é tão ficção quanto o cinema! – querem exigir coerência? A propósito de quê?

E assim agimos nas outras realidades que nos cercam, conforme alguns exemplos já apresentados, e outros em que vocês mesmos poderão se reconhecer como protagonistas. Não será isso a erupção, o cuspir de lavas de nossa profunda insatisfação com o mundo, da maneira que hoje se nos apresenta? E se é isso, qual deve ser a nossa atitude: reclamar, murmurar, resmungar com nossos semelhantes, que – coitados – estão no mesmo barco que nós? Ou tomar atitudes mais contundentes, coerentes (aí sim!) com a nosso desejo de mudança? Deixo a questão para outros mais capacitados que eu responderem. 


Anderson Dideco
Paróquia de Cascatinha, PASCOM - Amigo da Oficina de Valores

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