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#AvanteOficina

Por: Alessandro Garcia

Antes que aqueles que não torcem para meu time deixem de ler e os chatos de plantão comecem a reclamar, quero dizer que não estou aqui para me ufanar do meu time (embora julgue que ele mereça). Escrevo esse texto ao fim de uma noite de domingo após corrigir uma grande pilha de provas. Há poucas horas o fluminense sagrou-se campeão brasileiro de 2012. Como sou tricolor de coração, já dei alguns gritos de “é campeão” e pendurei a
bandeira na janela de minha casa. Resolvi também escrever um texto para o blog cujo tema será esse clube que tantas alegrias e tristezas já me trouxe.

Não estou aqui para empreender uma discussão sobre os méritos do clube ou implicar com os que torcem para outros – isso farei nas rodas de conversa. Quero apenas narrar alguns fatos da história recente do “flu” e utilizá-los como metáforas. Acredito que embora o clube seja de alguns, as ideias podem ser para todos...

Bom, como todos que acompanham minimamente o futebol nacional sabem, o fluminense foi campeão brasileiro duas vezes nos últimos três anos. Este ano o clube fez uma campanha ímpar vencendo o campeonato com algumas rodadas de antecedência. Além disso, no ano passado o time, embora não tenha vencido, ficou em terceiro lugar.

A atual atuação de gala, no entanto não pode ser vista como um improviso, sendo fruto de um projeto. Projeto que tem profundas ligações com a parceria com a Unimed (que os torcedores rivais adoram mencionar). Deixando de lado as questões financeiras (que são essenciais) quero focar na atuação do time dentro de campo nos últimos seis anos. Em 2007 o fluminense conquistou um título nacional após um longo jejum. Em 2008 chegou à final da Libertadores da América e perdeu para a equatoriana LDU. Em 2009 chegou a final da Copa Sul Americana e perdeu para a mesma LDU. Neste mesmo ano lutou para não ser rebaixado.

Desejo parar e refletir um pouco sobre este ano de 2009 porque julgo que ele é fundamental para o que direi a seguir. A fuga do rebaixamento era altamente improvável com o fluminense precisando vencer praticamente 100% dos jogos das dez últimas rodadas do campeonato brasileiro. Lembro bem como a torcida “abraçou” o time que sob o comando do “Cuca” conseguiu desafiar o que era considerado impossível e permanecer na série A do campeonato brasileiro.

Ao mesmo tempo em que lutava para ficar entre os grandes clubes do país, o tricolor carioca disputava uma competição internacional, da qual chegou a final. Os dois últimos jogos seriam contra o algoz do ano anterior: a Liga Desportiva Universitária. Havia ali um gosto de revanche. Bom, a primeira partida foi disputada no Equador e a malfadada altitude atrapalhou o fluminense que perdeu por estonteantes 5x1. No jogo de volta, mesmo a vitória por 3x0 não foi suficiente e o tão sonhado título sul americano não veio.

Não contei esta história toda a toa e, embora seja prazeroso para mim escrever tais fatos, friso que meu interesse é pedagógico. A jornada tricolor do fundo ao topo tem muitos pontos interessantes e boa parte deles podem ser utilizados como parábolas. Ao começar este texto fiquei com medo de cair em um discurso de autoajuda. Caso isso ocorra quero deixar bem claras duas coisas: 1 – texto de autoajuda contém grandes verdades; o problema é que elas estão caricaturadas; 2 – Acredito que minhas comparações se afastem de tais livros justamente porque incluem um elemento que os autores de tais gêneros poucas vezes falam: a derrota.

Hoje ao ouvir as entrevistas de alguns jogadores do fluminense chamou muito a atenção o fato de que por diversas vezes o ano de 2009 foi mencionado como importante para o cenário atual do clube. O que marcou tanto? O fato de que mesmo não tendo vencido nenhum campeonato, o fluminense ganhou um título: o de “Time de Guerreiros”. Esta foi a alcunha que, por diversas vezes nos anos seguintes, motivou os jogadores e a torcida.

Mesmo sabendo que um apelido não ganha jogos, é importante frisar que o olhar que alguém recebe lhe confere identidade. É o que a sociólogo Robert Merton chama de “profecia que se autorrealiza”. Dando um exemplo do meu cotidiano de professor: taxar um aluno como “burro” contribui para o seu baixo desempenho porque ele internaliza os olhares que lançam sobre ele. É claro que existem grandes e belas exceções de pessoas que contra tudo e contra todos vencem os estereótipos negativos. Infelizmente estas exceções são apenas exceções e não constituem a regra.

A partir disso, desejo apontar três coisas: o título de guerreiros motiva e faz com que aquele que o recebe busque viver à altura do epíteto que recebeu. Os jogadores se consideraram guerreiros porque foram tratados como tais. Esta reflexão me faz pensar nas potencialidades à minha volta que não são desenvolvidas porque não são percebidas e reconhecidas por meu olhar. Meu olhar (e o seu) tem um peso maior do que pensamos, afinal, no futebol, assim como na vida, é mais fácil jogar com a torcida gritando a favor.

Outro ponto que chama a atenção é que para nós torcedores do fluminense o ano de 2009 marcou tanto (ou mais) que as grandes conquistas que vieram depois. Mais uma lição: nem sempre as maiores vitórias serão as que nos trouxeram mais destaque ou prestígio, mas as que envolveram mais esforço e superação. Como bem tenho buscado aprender o mérito não pode ser medido pelo lugar a que se chegou, mas pela distância que se caminhou. Como seria bom se tantos outros percebessem isso.

Antes de encerrar quero ressaltar um ponto que facilmente esquecido: as derrotas são importantes em nossas histórias. Sempre lembro de uma frase do filme “Shadowlands” quando o protagonista ao ser indagado sobre a morte da esposa responde: “a tristeza de agora faz parte da alegria de então”. Penso que há grande verdade nessa afirmação, mas seu reverso também é verdadeiro: a tristeza de então faz parte da alegria de agora.

Nossos tropeços, falhas e derrotas fazem parte de nossas histórias, tanto quanto nossas virtudes e vitórias. E mais: talvez tenham sido estas mesmas quedas que tenham possibilitado soerguimentos que nos levaram às alturas que até então não sonhávamos. Digo isso porque parece que hoje a vida imita o futebol e parece tentar excluir aqueles que não chegam em primeiro lugar. Ser campeão é ótimo, mas não ocorrerá sempre...Os aplausos e vaias provavelmente se alternarão em nossas vidas.

Cabe então nos percebermos como objetos do olhar de Alguém que nunca deixa de perceber nossas potencialidades. Este olhar permanece estável nos diversos momentos e quando o descobrimos temos um pouco mais de liberdade frente aos nossos condicionamentos. Uma famosa frase de Nelson Rodrigues diz que “a história tricolor traduz sua predestinação para a glória”. As nossas histórias também, mas talvez a glória seja um tanto diferente daquilo que fomos acostumados a pensar...

Havia ainda algumas coisas para dizer, mas já passei do limite estabelecido para os textos do blog. Vou ficando por aqui, mas não sem antes me despedir com um cumprimento apropriado ao dia de hoje:

Saudações tricolores a todos!
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Coordenador da Oficina de Valores

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