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#AvanteOficina

Por: Larissa




“Por que você está aqui?!” – É assim que gosto de estabelecer meu primeiro contato com meus alunos. E esse “aqui” refere-se tanto à carteira onde estão sentados quanto ao que fazem “aqui” nesse mundo, nessa vida. Para ambos os sentidos respondem quase unanimemente: “ué fessora (sic), pra ser alguém na vida”.
Bem, se fosse descrever detalhadamente o resto da sabatina, o texto seria só sobre isso, mas o que fica claro nesse diálogo é que qualquer pessoa tem pelo menos algum objetivo na vida. Se for analisado a fundo, pode ser que esse objetivo se mostre bastante vazio ou irrealizável, na maioria das vezes extremamente abstrato, mas revela ao menos que existe uma tensão em direção ao futuro, uma esperança que dê sentido ao que faço agora. No entanto, a questão que se coloca é se tudo o que quero vale a pena, possui algum sentido. Ou, em outras palavras, se quero diversas coisas existe alguma diferença entre sonhos, ideais e projetos?

Salta aos olhos a confusão que se passa na cabeça – e na vida! – das pessoas com relação a seu futuro. Não sabem bem o que querer, como conseguir etc. O problema está na confusão entre ser alguém melhor e conquistar muitas coisas. O “ser alguém na vida” é entendido como ter um diploma, emprego, família, estabilidade e essas coisas que todo mundo quer. Mas a questão que fica é se esses bens podem fazer alguém feliz. São um ótimo começo, sem dúvida, mas parece que não são tudo...

E não o são porque conquistar coisas pode ser simplesmente realizar sonhos. Os sonhos são coisas que quero, projetadas para o futuro que, posso simplesmente dizer “seria muito bom consegui-los”. Gostaria muito de dar a volta ao mundo, conhecer diversos lugares, ir a determinados espetáculos etc. O problema é que nem tudo o que quero pode ser entendido como um sonho. Existem coisas que, mesmo projetadas para o futuro são mais próximas, mais imediatas e por vezes mais necessárias: como alguém que quer passar no vestibular e cursar faculdade, conseguir um bom emprego, casar-se etc. A essas realidades eu não chamaria sonho, mas projetos, porque dizem respeito diretamente à forma como conduzirei minha vida, e mais: é realizando meus projetos – concretamente – que vou formando minha personalidade. Posso ser a mesma depois de conhecer as Ilhas Malvinas, mas não o posso depois de tanto esforço para um vestibular, ao constituir uma família. Os projetos, quando concretizados, ou melhor, para serem concretizados exigem uma resposta eficaz de minha parte e não apenas um suspiro fruto da imaginação.

Daí o risco de se levar uma vida baseada em sonhos: se alguém coloca suas esperanças nesses, como se tudo fosse um sonho, acaba perdendo-se da realidade e a vida torna-se uma sucessão de euforias e frustrações, uma vez que “sonhar não custa nada” e realizar projetos custa muito suor e atrevimento. Olhar para o futuro como se tudo fosse um sonho é confessar que não se realizará nada, porque sonhos foram feitos para serem sonhados... (e a realidade para ser vivida!). Uma vida escondida sob os sonhos é uma vida não vivida, uma vida vazia...
No entanto, conquistar coisas também não é capaz de preencher a sede de felicidade própria do ser humano. É bom ter sonhos, ótimo ter projetos, mas... e aí? A sensação de estar faltando alguma coisa ainda permanece. E permanece porque o coração humano não se satisfaz apenas com conquistas. Ele precisa de um sentido. De algo para o qual passa olhar, uma direção a seguir e um motivo mais profundo para o viver e o morrer.  E isso um projeto não mo dá, muito menos um sonho!

O que o coração humano precisa é de um ideal. O ideal é o fundamento de toda a vida, aquilo que dá unidade a toda diversidade de uma existência – desde um bom dia a um vizinho a uma grande empreitada. Formalmente, o ideal poderia ser definido como um conjunto de valores que conformam a conduta ao longo da vida. No entanto, é mais que isso: ter um ideal é ter um modelo a seguir. É um arquétipo ao qual imito, um tipo tal ao qual pretendo chegar. Ter um ideal não é ter um conjunto de sonhos e projetos a serem realizados, é muito mais! É ter um motivo para viver e pelo qual morrer. É olhar e dizer: “é isso!”. Pode ser que ao cabo da vida eu me frustre por não ter meus sonhos realizados, mas se não tiver um ideal... tudo terá sido em vão.

Por fim, como na vida o mais elevado não se sustenta sem o mais baixo, é preciso estar consciente de que a vida é uma tarefa: se estou aqui, é para algo, para realizar algo, concretamente – e não apenas sonhar um mundo melhor – e para isso, para que a vida seja colocada em prática, é necessário o esforço, que nada mais é que colocar os meios para determinados fins. Como aconselhou um grande sábio: “ter a cabeça bem no alto e os pés muito no chão”. Pensar grande e agir concretamente!!
E se me perguntasses a respeito de tal Ideal, daria a pista fazendo minhas as palavras iniciais do filme “V de Vingança”:

“Lembramos da ideia totalmente, mas não do homem, pois um homem pode fracassar, podem capturá-lo e esquecê-lo. Mas [...] anos depois uma ideia pode mudar o mundo. Presenciei pessoalmente o poder das ideias. Vi pessoas serem mortas em seu nome... e morrerem defendendo-as. Mas uma ideia não pode ser beijada, tocada ou abraçada [acrescento: não se reclina a cabeça sobre o peito de uma ideia]; ideias não sangram, não sentem dor ou amam. Não sinto falta de uma ideia, mas do homem”.
Uma ideia não  é capaz de fazer um coração feliz. Se dou minha vida por um Ideal, é porque esse já o fez por mim. Seu nome? Ecce Homo...

Larissa Nobrega
Professora de Filosofia - Oficina de Valores 

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