Lembro que há alguns anos havia uma propaganda
na televisão com essa frase “e se fé e ciência fizessem as pazes?”. Parei pra
pensar na questão e cheguei à conclusão que isso seria impossível. Não porque
sejam inimigas, mas porque nunca brigaram. Nessa hora alguns podem se perguntar
“Mas e o Galileu que morreu queimado? A Igreja não é contra as pesquisas científicas
com células tronco?” Enquanto outros questionarão: “Mas a evolução não vai
contra os princípios da Bíblia? E, se Deus criou o mundo, por que insistem no
Big Bang?”
Se deixarmos de lado nossos preconceitos e nos aprofundarmos um pouco mais nessas e em outras questões, veremos que, como disse o Nobel de química, Paul Sabatier, “Querer estabelecer contradições entre as Ciências Naturais e a religião, demonstra que não se conhece a fundo nem uma nem outra disciplina”.
Se deixarmos de lado nossos preconceitos e nos aprofundarmos um pouco mais nessas e em outras questões, veremos que, como disse o Nobel de química, Paul Sabatier, “Querer estabelecer contradições entre as Ciências Naturais e a religião, demonstra que não se conhece a fundo nem uma nem outra disciplina”.
Tanto a fé quanto a ciência se propõem a
buscar a verdade, mas são áreas diferentes. A aparente contradição aparece
quando algumas pessoas tentam atribuir à ciência respostas que cabem à fé
responder, e vice versa. É o caso da senhora que não acreditava em dinossauros
porque não estavam na Bíblia e do jovem que não acreditava em Deus porque a
ciência “provou” que Deus não existe. A fé católica nos ensina que o livro do
Gênesis se propõe a explicar o que Deus fez, e não como o fez. Da mesma forma
que a ciência nunca apresentou nenhuma prova coerente da não existência de
Deus. Outra divergência pode surgir quando alguns cientistas esquecem que a
ciência existe para ajudar o ser humano, não para destruí-lo. Para um cristão,
o fim não justifica os meios. Nesses casos, cabe aos homens de fé lembrarem-se
da importância da moral e da ética, que para muitos foram deixadas de lado.
O que muitos não sabem é que a Igreja
sempre apoiou o desenvolvimento da ciência. O professor Léo Moulin, agnóstico,
que lecionou na Universidade Maçônica de Bruxelas disse numa entrevista que a
Idade Média foi um dos pontos mais luminosos da história do ocidente. Na que
muitos chamam de “Idade das Trevas”, surgiram invenções como a bússola
magnética, os óculos, a imprensa, além de inúmeras outras. Também nessa época
surgiram, por iniciativa da Igreja, as universidades. O Papa Pio XI reinstitui
em 1936 a Pontifícia Academia das Ciências, que conta com cientistas de todo o
mundo, independente da religião ou nacionalidade. O físico ateu Stephen
Hawking, por exemplo, é membro desde 1986, quando foi convidado por João Paulo
II. Pio XI convidava seus membros a “progredir, cada vez mais nobre e intensamente, as ciências,
sem nada lhes pedir a mais; isto porque, neste excelente propósito e neste
nobre labor, consiste a missão de servir à verdade, da qual nós os
encarregamos”. A Academia é hoje a maior assembleia científica com membros que
receberam o Prêmio Nobel.
Não podemos negar que
houve erros por parte do clero em algumas situações. O Beato João Paulo II,
relembrando o Concílio Vaticano II, lamentou certas atitudes que existiram até
entre os próprios cristãos, por não terem entendido suficientemente a legítima
autonomia da ciência. Falou nesse ponto sobre o caso de Galileu, que, embora
não tenha morrido na fogueira como dizem por aí e tenha sido fiel à fé
católica, não foi bem compreendido pela Igreja na época. O próprio Galileu
afirma que fé e ciência não podiam contradizer-se. Vemos isso ao observarmos
que cientistas famosos como Mendel, Pasteur, Copérnico, Newton, o próprio
Galileu, além de muitos outros não só acreditavam em Deus, como professavam de
forma clara e fiel a sua fé. Fazendo um curso à distância do Observatório
Nacional, sobre a origem do universo, descobri que a primeira pessoa a propor a
teoria do Big Bang foi Georges Lemaître, um belga que era astrônomo, físico e
padre.
Assim como nesses casos
a religião colaborou com a ciência, esta também pode colaborar com a fé. Para
cada resposta da ciência, surgem novos enigmas. Para monsenhor Lemaître (que
também foi presidente da Pontifícia Academia das Ciências) ambos, o crente e o
sábio não crente, se esforçam pra descobrir a verdade. Mas o crente possui
talvez a vantagem de saber que o enigma tem solução, afinal, é obra de um Ser
inteligente. E completou: “Isto não lhe dará talvez novos recursos na
investigação, mas contribuirá para o conservar neste são otimismo sem o qual um
esforço suportado não pode manter-se por muito tempo”. Hawking disse em um de
seus livros que, quando desvendarmos os enigmas do universo, entenderemos os
pensamentos de Deus. Entender como funciona um relógio
não nos faz entender o que passava na cabeça do seu criador. Mas, pelo menos,
aceitar que o universo foi pensado já é um bom começo.
Diego Gonzales
Estudante de Engenharia de Controle e Automação - UFRJ / Oficina de Valores
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