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Começo,
pois, essa reflexão utilizando como base essa passagem de São Paulo direcionada
à comunidade de Corinto não despropositadamente. Aqui, o Apóstolo dos gentios
faz uma relação entre a corrida dos atletas em vista de uma coroa corruptível e
a corrida dos filhos de Deus em vista da Pátria Celeste.
Se ao
atleta se faz necessário uma disciplina rigorosa, quanto mais a nós, que
buscamos não um prêmio terreno, passageiro, efêmero, mas o que há de mais
precioso: a comunhão dos Santos, o ser um só para sempre com o próprio Deus.
Todavia, um ponto importante que pode nos passar por despercebido nesse fragmento é logo o seu começo: “Os que correm no estádio correm todos juntos, mas um só ganha o prêmio”. Influenciados muitas vezes por uma cultura mercadológica que sacraliza o individualismo em detrimento da comunhão, do abandono e aparente indiferença dos outros, ou até mesmo diante da fraqueza e miséria do irmão, agimos por nós mesmos, ou nos restringimos em pelotões. Como numa corrida de atletismo, os que não conseguem acompanhar-nos, vão ficando para trás, enquanto nós, que temos fôlego e disposição para continuar a corrida, nos aproximamos do nosso objetivo: a coroação.
Tratando-se,
porém, da vida espiritual e do caminho que o carpinteiro de Nazaré nos apontou,
essa lógica é vã, não faz sentido, ousaria inclusive dizer, que nos afasta do
prêmio que Ele tem para nós ao final da corrida (para os mais ágeis) ou
caminhada (para os que estão sem fôlego, tropeçaram ou se perderam em alguma
parte do caminho). Nesse percurso ganhar a corrida não implica identificar quem
chegou primeiro, mas quem conseguiu lançar um olhar de misericórdia e
condescendência àqueles com dificuldades, àqueles que não conseguiram manter o
mesmo ritmo, os que tiveram dificuldades em prosseguir decididamente (cf. Fl 3,
16). Ajudar aos que sofrem na carne e no espírito, os famintos de pão e os com
sede de Deus, os que estão ao nosso lado e, sobretudo, os que ficaram para
trás. Essa é a lógica de Jesus, por conseguinte, essa deve ser também a lógica
daqueles que são chamados a ser ‘Alter
Christus’ – outros Cristos. Vivendo a lógica inversa, do último que será
primeiro, do humilhado que será exaltado, do pecador que terá sua vida
transformada pela graça, do enfermo que será curado, afinal o médico veio para
os doentes e não para os sãos.
Ora, diante
do exposto, fica a advertência: “Correis de tal maneira que conquisteis o
prêmio!”. E a maneira de conquistar o prêmio não é outra senão corrermos
juntos, num verdadeiro espírito cristão de unidade e comunhão, recordando
continuamente da necessidade de irmos ao encontro do outro e encontrar Cristo
na pessoa do outro. O caminho da santidade e o seu fruto maior – a salvação –
se dá pelo caminho com a comunidade. Deus não nos chamou a caminharmos sozinhos,
seu exemplo é um inequívoco chamado à humanidade, pois Aquele que tudo pode,
quis voluntariamente precisar do homem, para através do Deus feito homem,
resgatá-lo. Ele quis contar conosco, isso é um fato na história da salvação! E
continua querendo contar conosco, com todos nós, com cada um de nós. E ao
perceber que uma única ovelha se desgarrou do rebanho, o Bom Pastor vai atrás
da ovelha perdida até encontrá-la (cf. Lc 15, 4), assim também devemos
proceder!
Tauat Resende
Estudante de Direito - UFF / Oficina de Valores
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