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Começo esta reflexão tendo como base o conhecido
ditado popular que tem me feito refletir, e muito, depois de um debate em família após o almoço.
Algumas pessoas à mesa sustentaram veementemente com exemplos “inequívocos” o
conteúdo verdadeiro que a sabedoria popular emana. Utilizando inclusive a
premissa de que: o povo é infalível e a sabedoria popular sempre foi
vanguardista em desvendar as verdades científicas. Como se o empirismo nunca
falhasse e a ciência fosse apenas um suplemento posterior que daria as bases
racionais para ratificar as verdades populares.
Pois bem, nesse debate, fui voz vencida. Meus argumentos,
divergente do dito popular, não convenceram. Não faz mal, por mais que fossem
maioria, eles também não me convenceram. E digo o porquê.
Primeiramente, tenho uma forte tendência a rejeitar
tudo aquilo que demostra uma visão inexoravelmente determinista sobre a vida ou
sobre as pessoas. Talvez pela minha juventude, ainda conserve em meu espírito
um quê de utopia. Muito embora tenha os pés no chão, não hesito em sonhar, em
imaginar a realidade de uma outra maneira. Não consigo me conformar ao ‘status
quo’ (o estado atual das coisas), ou numa visão mais cristã, “não me conformo
com esse mundo” (cf. Rm 12,2). A isso denomino – como outros antes de mim já
chamaram –, de realismo esperançoso.
Depois, porque paralelamente à rejeição ao
determinismo, não consigo sustentar, tampouco concordar, com uma visão
pessimista e desacreditada do ser humano. Tenho consciência de que muitos
exemplos gritam contra o meu ponto de vista, provando o que a condição humana é
capaz de fazer. Não bastasse os exemplos históricos, os noticiários nos
relembram quotidianamente desse fato, tornando viva e atual a força da miséria
humana. Frente a isso, muitos param, conformando-se e absolutizando todo o
resto, isto é, tomam esses exemplos como verdades absolutas. Desta forma, o ser
humano é mau, oportunista, sanguinário, interesseiro e para conter a maldade
humana, a única palavra de ordem é repressão. Mudança, educação,
(res)socialização, jamais.
Pois bem, diante de tudo isso, meus questionamentos naquela
mesa e depois dela, foram os seguintes: Por que somente os maus exemplos são
considerados? E por que o ser humano só mostra quem ele é quando age mal?
Durante aquela refeição, foram citados exaustivamente
os maus exemplos, mas quando os bons exemplos eram levantados, sumariamente também
eram ignorados, como se tratasse de balela, não tivessem importância alguma.
Depois, mais absurdamente ainda, foi trabalhada a ideia de que as más ações do
ser humano demostram quem de fato ele é. Isso significa dizer que a vida de uma
pessoa é jogada no lixo quando um erro é cometido, como se as boas ações se
configurassem em um grande fingimento, uma máscara da maldade. Não importando
mais o bem feito em outrora.
Pergunto-me por que os erros não podem ser entendidos
como deslizes? Por que ignorar o que motivou esses erros? Por que ignorar a
desigualdade social, por exemplo? O sistema injusto em que vivemos? A cultura
individualista e competitiva que vê o cidadão como mercadoria e não como ser
humano, dotado não só de necessidades físicas, mas também de afetivas,
culturais, espirituais, etc.?
Vejo em tudo isso uma simplificação dos problemas
sociais. Pois é muito mais fácil dizer que: “Pau que nasce torto não se
endireita”, do que refletir por que há mazelas e desigualdades e,
consequentemente, dar respostas a isso. É mais cômodo agir por meio da
repressão do que pela educação. É mais simples ver o ser humano como sendo mal,
do que acreditar que ele seja capaz do bem. Os que sustentam essa visão
ignoram, porém, que também são homens e, portanto, estão sujeitos a cometer
erros. Resta a dúvida: se estiverem nessa situação, agirão da mesma maneira
consigo mesmos? Ou serão exceções à regra?
Diante
do exposto, não consigo me resignar à tentação fatalista. Não quero, por outro
lado, me conformar ao bom selvagem de Rousseau, que idealiza o homem, quase
divinizando-o. Quero, no entanto, colocar-me no justo meio entre essas duas
posições, acreditando, conforme disse o paraibano Ariano Suassuna, que “O
otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista
esperançoso”.
Tauat Resende
Estudante de Direito - UFF / Oficina de Valores
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