A pior das corrupções
No
Brasil quando falamos de corrupção logo associamos à má conduta de agentes
públicos, políticos e funcionários do Estado, e/ou desvio de recursos públicos
para benefícios privados. Porém também existe uma dimensão muito mais próxima
da gente que é a de obter alguma vantagem em relação às demais pessoas em
situações mais práticas do cotidiano, desde colar numa prova a entrar num
esquema de compra de carteiras de motorista.
Como
todos sabemos, nos últimos meses vemos em nosso país o que pode ser o maior
caso de corrupção de sua história. Os escândalos envolvendo os contratos da
Petrobras envolvem altas cifras, líderes políticos, executivos da estatal e de
empresas privadas. O custo deste acontecimento para sociedade, independentemente
de seu resultado, já é alarmante. Ele pode ser medido, principalmente, pela
perda de valor das ações da empresa, fornecedores que têm seus contratos
atrasados e por isso tem que atrasar salários, dispensar empregados, ou, em
casos mais extremos, até fechar as portas, e pela perda de credibilidade no
exterior por parte de investigações que vem sendo realizadas paralelamente nos
EUA.
Por
mais que este escândalo nos choque, e deva chocar e causar indignação, pois
desviar recursos de uma empresa que pertence à sociedade é mais que um simples
roubo, que já é errado, é uma falta de caridade, uma afronta ao bem comum, ao
bem de todos, ao longo de nossa história sempre soubemos de casos de corrupção,
independentemente do partido no poder ou do regime no qual o país se
encontrava. E, felizmente, sempre que esses escândalos vieram à tona, nos
causaram indignação. Por mais que muitas vezes não tomemos medidas concretas
para combater a corrupção essa indignação que ela nos causa é boa, mostra que
nossa bússola ético-moral ainda aponta para o norte. Nossa bússola pode não ser
precisa, mas não se encontra completamente adulterada.
Uma
evidência de que ainda temos um senso de certo e errado é fato de um indicado
como envolvido em um esquema de corrupção majoritariamente adotar uma das
posturas a seguir: Negar a existência do esquema, negar sua participação, negar
seu conhecimento ou afirmar seu conhecimento ou participação em troca de uma
pena mais branda.
Já
na esfera privada um bom indicativo é que as pessoas que comentem essas
corrupções “cotidianas” não se sentirem à vontade para bradar aos quatro ventos
que cometem algum destes atos. Por exemplo, acho muito provável que um garoto
de ensino médio “tire onda” com os colegas que conseguiu colar na última prova de
física. Porém acho pouco provável de ter esta mesma atitude perante os seus
pais, por saber que é uma atitude condenável.
Em
ambos os casos ainda existe uma consciência do que é certo e errado. Por mais
que esta consciência não seja forte o suficiente a ponto de ter de evitar que
as pessoas hajam de forma condenável, esta consciência está ali filtrando o que
é louvável do que é condenável. O pior caso ocorre quando os critérios
utilizados para fazer estes julgamentos desaparecem, ou pior ainda, invertem-se
e o que é bom passa a ser visto como mau e o que é mal passa a ser visto como
bem.
A
pior das corrupções não é colar numa prova, desviar altas somas de dinheiro ou
a péssima conduta de um agente público, mas sim transformações destas e de
outras ações condenáveis como padrão adequado de agir e que deva ser imitado.
Com esta reflexão não quero de maneira alguma justificar e/ou minimizar os
escândalos de corrupção, passados, presentes e futuros, mas sim chamar atenção
que o pior não é fazer algo errado sabendo que está errado, mas sim que querer
chamar de “certo” algo que necessariamente é errado.
Por
isso, devemos estar sempre atentos aos critérios que usamos para julgar nossas
ações e a políticos que se mostram como idôneos e íntegros, e muitas vezes até
o são, mas suas bandeiras e causas vão no sentido de transformar em “certas”
coisas que são erradas.
André da Costa
Mestrando em Economia - UFRJ
Oficina de Valores
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