imagem de: sobreavida.com,br
Adianta rezar quando eu não
quero?
Eu cresci em uma família de
raízes católica (avô e avó), que acabou caminhando para veios mais ligados ao
espiritismo, ao sincretismo ou mesmo aquele amor ao próximo básico (“acredito
em tudo, não sigo nada, o que importa é fazer o bem”). Uma das coisas de que
mais me lembro de ouvir em casa na infância mais tardia é que Deus está em todo
lugar, citava-se muito a passagem em que lemos que Deus está debaixo da pedra,
conversava-se muito naquela linha da Teologia da Libertação que reduz todo o
sobrenatural do cristianismo a um ideário socialista. Enfim.
O que isso causou em minha
impressão inicial da nossa relação com Deus? Que Ele está comigo o tempo todo
(confere); que não preciso ir à Igreja para me comunicar com Ele (confere); que
devemos fazer o bem sem olhar a quem (confere); que se eu não estiver no clima,
se eu não estiver afim de rezar, minha oração não vai adiantar nada pois não
vai ser “de coração” (opa!).
Aí vem um grande problema. Lembro
de uma vez, andando com minha amiga (e autora deste blog) Juliana Benevides,
vimos um famoso (pelo menos aqui em Juiz de Fora) adesivo de carro que diz
“Espiritismo: fé e razão”. Lembro que foi um fato recente em relação à minha
conversão e tínhamos ouvido muito sobre isso em um encontro da Oficina: a fé e
a razão são coisas separadas? Esse adesivo nos diz que o espiritismo consegue
conjugar essas duas coisas, ou seja, afirma que são separadas. E isso tem tudo
a ver com meu argumento aqui.
Se eu assumo que fé e razão não
andam juntas, eu subjugo minha fé a um dado emocional. Eu vou segregar minha
crença a um canto da minha vida em que o raciocínio perde e entra algo que não
é razão. É óbvio que frente à fé meu raciocínio vira um grão de areia, mas não
por serem coisas separadas: é que quando encontro minha fé e seu Objeto, sou
eu, humana, frente o infinito de Deus.
Então: adianta rezar quando eu
não tô no clima, quando eu não me emociono com minha prece, quando eu acabo
tendo que rezar o terço no ônibus porque são os únicos vinte minutos que vou
ter no meu dia? Essas questões, porque vazias de fator emocional, esvaziam
minha oração e a invalidam? Vou aceitar que minha fé se resume a eu ter que
estar no maior clima do mundo com o rezar? Como eu fico nos dias de muito
cansaço? As perguntas poderiam ser infinitas indo por esse caminho.
Por isso, devemos rezar sempre,
mesmo não estando afim, mesmo não estando no clima, mesmo se eu não choro,
mesmo se naquele momento eu não estou sentindo aquele calor da mão de Deus
tocando meu coração. Sabe, Ele toca meu coração o tempo todo, e não é chorando
que eu sei disso. Eu tenho a fé que me permite sabê-lo como fato da minha vida,
e não como algo emocional que depende de um clima.
Nossa oração chega a Deus apesar
de tudo. Do ambiente em que se está, da emoção que sentimos ao rezar, do clima
do dia. Devemos rezar porque necessitamos desse contato com nossa parte divina
em Deus, que nos chamou pra ser membros de Seu corpo e com Ele construirmos uma
unidade de amor. Devemos rezar porque, por nossa própria natureza, não somos
plenos e, é através da nossa fé – baseada no terreno certo – que chegaremos a
Ele.
Joyce Scoralick S. Weber
Mestre em Estudos Literários
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