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#AvanteOficina

12:53
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Por: Nathalia


Imagem de: www.fanpop.com


Sam: o herói amigo ou o amigo herói?

O Senhor dos Anéis, sem dúvida alguma, ocupa o primeiro lugar no meu top 10 em Literatura. Claro que o livro, por si só, é gigantesco, não só pelo número de páginas, mas, sobretudo, pela capacidade de nos levar a uma época primordial, com todo o encantamento que Tolkien tem para nos oferecer. Ao pensar no livro muitas cenas vêm à minha mente, o cenário em que se passa a história, a descrição minuciosa de tudo. No interior de uma obra assim, há uma gama bastante variada de personagens e os que julgo mais interessantes são Gandalf, Aragorn e Sam.

A reflexão do texto, hoje, será sobre este último personagem: Samwise Gamgi. Ao olharmos a trajetória de nosso querido Sam na história, desde o início observamos uma característica mais marcante, aquilo que o torna um herói: a amizade. Por isso o questionamento do título. Sam é um herói por que é um amigo ou é um amigo por que é um herói? Já respondendo à pergunta, ele só se torna um herói porque soube ser um amigo. A história da qual o personagem faz parte é uma história hobittocêntrica, isto é, os hobbits desempenham o papel central na trama. Pensando bem, esses serezinhos habituados às coisas simples e amantes de uma vida pacata não poderiam fazer diferença quase nenhuma, comparados aos superpersonagens, mas é aí que Tolkien quer mostrar e trabalhar com o enobrecimento dos pequenos, das pequenas atitudes que têm a capacidade de mudar tudo.

Algumas atitudes ilustram muito bem isso que eu estou falando. O exercício do texto não é fazer verificar se as pessoas são um “Sam” na sua vida, mas se você tem conseguido sê-lo na vida das pessoas. Ao pensar na história de Frodo, e consequentemente na de Sam, lembro-me de dois capítulos muito marcantes. O primeiro é quando Frodo tenta se desvencilhar da Sociedade do Anel, porque sabia que a jornada que empreendia era muito arriscada e não queria colocar Sam e os outros em perigo. Ele tenta ir embora sozinho, mas Sam se dá conta e começa procurá-lo com desespero. Quando o encontra, Frodo o alerta para o risco de morrer no caminho e a resposta de Sam é genial: “Não seria uma morte tão certa quanto a de ser deixado para trás”. Ele vai com o amigo livremente.

Sam sabia dos riscos que correria e mesmo assim quis caminhar ao lado do amigo. Nós, muitas vezes, já não temos tempo para ser como o Sam, não temos tempo para ser amigos. Não temos tempo para trilhar a vida ao lado de alguém com quem nos importamos. O que quero dizer não é que devamos deixar de viver nossa vida para estar com alguém, mas que toda amizade é um êxodo, é uma saída de si para ir ao encontro do outro e esse outro, muitas vezes, tem a capacidade de nos fazer tocar o Extraordinário. É muito duro viver uma vida inteira sem passar pela experiência da amizade, e isso tem sido uma realidade muito presente. E é claro que não se envolver não gera problemas, mas também não envolve amor e quantas vezes nossas relações de amizade são superficiais, não conseguimos manter um laço profundo e duradouro.

A outra parte que me marca bastante é quando Sam e Frodo já estão em Mordor, quase chegando à Montanha da Perdição. Os dois estão exaustos e Frodo não consegue dar um passo, também pelo peso do fardo que carregava, O Anel. Sam então o pega e coloca-o nas costas e começa a subir. Quando li pela primeira vez, antes de assistir ao filme, achei impressionante a descrição da cena. Alguém exausto que se dispõe a carregar alguém mais cansado ainda. Não se pode imaginar um amor sem sacrifício e em nossas vidas essa cena se repete muitas vezes, é claro que não carregando fisicamente, mas pessoas nos ajudando nos momentos de dificuldade, de sublevação, alguém que nos acalme. Como é bom experimentar o sacrifício de alguém por nós! E também poder ser um ombro amigo quando alguém chega a Mordor, nos momentos de crise.

Já falei que acho Sam o personagem mais digno de admiração em O Senhor dos Anéis e há ainda muitas coisas nele a nos ensinar: Sam foi alguém que não desistiu de Frodo, mesmo quando seu amigo agiu com hostilidade. Sam viu seu amigo fracassar e se manteve ao seu lado. O amigo tem essa capacidade de não nos deixar parar e de nunca nos abandonar, ainda que as dificuldades sejam épicas.

Uma amizade madura exige tempo, paciência e constância e por isso precisamos viver em um contínuo treinamento, ser um bom amigo é exercício de uma vida inteira. Às vezes, as pessoas não precisam do seu conselho, da sua palavra de sabedoria, da sua inteligência, enfim, dos seus dons, precisam de você, de alguém que as escute, de alguém que seja presente, mesmo não estando presente fisicamente. Ser amigo consiste também em saber esperar o momento do outro, amar, carregar, ouvir, chorar, rir, respeitar, perdoar, compreender. Dar a vida nas pequenas coisas.


Muito provavelmente o seu fardo, em uma amizade, não será acompanhar alguém para destruir o Um Anel, mas será permanecer fiel na vida, não será lutar contra Laracna, mas lutar contra os medos juntos. Será dar a mão que levanta quando as esperanças já vão se dissipando. Isso é ser um Sam. Alguns amigos já me decepcionaram, outros eu já decepcionei, outros ainda me ensinam o significado da palavra amizade. Mas uma certeza eu tenho: “Um amigo leva a gente pra longe”.


Nathalia Pereira
Licenciada em Letras / Coordenadora da Oficina de Valores

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