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#AvanteOficina

Por: Alessandro Garcia




Quando a Marvel Comics surgiu nos anos 60, ela trouxe uma série de inovações para os quadrinhos. Uma das principais é que seus diversos personagens habitavam o mesmo mundo. Ou melhor, a mesma cidade. Hulk, Thor, Homem-Aranha, Demolidor, Homem de Ferro e muitos outros viviam na cidade de Nova York. O que acontecia na revista de um herói afetava a história do outro e, apesar de algumas incongruências que se acumularam com o passar das décadas, esse princípio foi mantido. Surgiu assim o famoso Universo Marvel.

Quando lançou seu primeiro filme, a Marvel Studios seguiu a mesma receita: a criação de um universo compartilhado onde deuses, supersoldados, homens de ferro e gigantes verdes viveriam suas aventuras. A receita dos quadrinhos era aplicada aos cinemas e ninguém até então sabia se daria certo. Hoje, 11 filmes depois, não restam dúvidas de que o jeito Marvel tornou-se um grande sucesso. Tão grande que já é imitado por outras franquias cinematográficas. Claro que o modelo pode esgotar-se, mas, ao menos até agora, tudo está indo muito bem. Vingadores: A Era de Ultron está aí como prova suficiente da vitalidade dos heróis e do universo idealizados 50 anos atrás por Stan Lee e Jack Kirby.

Essa postura de manter-se fiel ao espírito dos quadrinhos não diz respeito apenas à integração dos personagens em um universo. A Marvel faz filmes de heróis que não tem vergonha de serem filmes de heróis. Todos os elementos estão lá, todo o colorido é mantido. Não há a busca de tornar a coisa mais densa ou ignorar elementos que poderiam ser considerados ridículos. Há confiança na força dos ícones que eles criaram e publicaram durante anos. Há a crença de que tais personagens são interessantes e atrativos à imaginação. Isso é algo tão visível que um filme recente teve como personagens centrais um Guaxinim atirador e uma árvore que sabia dizer, aparentemente, apenas uma única frase. Não é preciso lembrar que ambos caíram nas graças do público.

"Eu sou Groot!"...opa...Voltemos ao filme dos Vingadores.

Vingadores 2 é o filme mais Marvel já feito pela Marvel! Creio que pelo pouco que foi dito acima, quem já viu o filme entenda o que quero dizer. Mas há outros motivos além dos já expostos. “A Era de Ultron” trabalha conceitos clássicos dos gibis da casa das ideias. O primeiro deles é que o mal que os heróis enfrentam foi criado por eles mesmos em seu desejo de fazer o bem. Bruce Banner e Tony Stark criam uma inteligência artificial que deseja extinguir a humanidade. Embora tenha sido manipulado pela Feiticeira Escarlate, o Homem de Ferro constrói um robô assassino simplesmente porque deseja ver a terra protegida e tem medo de que seus amigos sejam mortos. Boas intenções, inteligência privilegiada, crença hipertrofiada em si mesmo a ponto de não levar em conta a opinião dos outros. Eis o que gera a terrível ameaça que tanta dor de cabeça trará aos heróis mais poderosos de Terra.

Se há um ensinamento que os quadrinhos Marvel sempre trouxeram é que mesmo os bons podem fazer grande mal. No entanto, este mal não faz que boas pessoas fiquem paralisadas diante das consequências dos erros cometidos. Ao contrário! O arrependimento é uma poderosa força de heroísmo. Pensem no Homem Aranha e na morte do Tio Ben, em Tony Stark e seu trabalho na indústria armamentista, na bomba gama que criou o Hulk...Diante do mal que causaram, os heróis não se dobram nem se escondem. Simplesmente seguem em frente e fazem aquilo que podem para combatê-lo.

Outro tema clássico da Marvel que está no centro de “Vingadores: A Era de Ultron” é o vilão que se torna herói. A segunda geração de Vingadores nos quadrinhos foi composta praticamente por vilões regenerados: Gavião Arqueiro (sim, ele era um vilão), Feiticeira Escarlate e Mercúrio. Esses últimos eram vilões de “sangue”, já que são filhos do terrorista mutante Magneto.

Mais uma vez a Marvel segue sua receita dos quadrinhos e coloca algo semelhante no cinema. Embora, por motivos contratuais, Pietro e Wanda não possam ser chamados de filhos de Magneto e nem de mutantes, eles são vilões que mudam de lado. Suas ações estavam ligadas ao sofrimento que as armas de Tony Stark causaram em suas vidas; ao perceberem que faziam algo muito pior, voltam-se contra aquilo que até então defendiam. Avançaram porque souberam voltar atrás. E voltar atrás mais que remoer o passado significou ressignificá-lo para dar vez ao futuro. Como disse o Gavião Arqueiro em uma cena memorável: “Não importa o que você fez no passado. Se quiser ficar aqui, ficará em segurança. Se decidir sair por aquela porta, será uma vingadora”.

Creio que se o leitor me acompanhou até aqui, já percebeu que tive grandes dificuldades em articular esse texto. Deve ter percebido as ideias mal amarradas... A dificuldade em redigir veio da experiência que tive em assistir. O filme foi para mim vertiginoso. Em alguns momentos fiquei literalmente prendendo a respiração. Vibrei com os heróis, ri com as piadas, sofri com a derrota. Reconheço que o adulto mais crítico sumiu por um tempo. Naquela sala estava o garoto que 20 anos atrás começou a colecionar quadrinhos. Lá estava o fã. Lá estava alguém que acredita que as pessoas podem ser redimidas seja lá quais forem os erros que tenham cometido. Lá estava alguém que se emocionou com a ideia de amigos que se juntam para combater males que não conseguiriam vencer sozinhos. Lá estava uma das melhores partes do que sou. 

Assim que saí do cinema comecei a pensar nos pontos fortes e fracos da história, da direção, dos atores. O filme traz um gama enorme de personagens e praticamente todos têm seu momento. É fascinante como Joss Whedon consegue com poucas cenas apresentar elementos que fazem com que nos liguemos àquelas figuras fantasiadas e nos importemos com seus destinos. O diretor fará falta na sequência. 

De negativo fica o fato do roteiro não ser tão elaborado e em alguns pontos confuso. A estratégia de Ultron, por exemplo, não foi das mais inteligentes. Confesso que também fiquei um pouquinho incomodado com a mudança nos poderes da Feiticeira Escarlate. Ela ficou muito parecida com a X-Man  Jean Grey. Isso, no entanto, é purismo de fã e não deve ser levado tão a sério.

Verei o filme novamente e sei que provavelmente as fraquezas ficarão ainda mais claras. Isso, no entanto, não apagará a alegria que tive e que vi presente em boa parte do público. Vingadores é um filme muito bacana, mas não é uma obra prima da sétima arte. Talvez nem seja o melhor filme da Marvel até agora. Mas trouxe uma sensação que raramente tenho, uma empolgação contagiante. Quero ver mais filmes assim e fico feliz que vários outros com a “mesma pegada” estejam sendo produzidos. Alegra também saber que a Marvel tem melhorado com o tempo e que seus últimos filmes têm sido melhores que os primeiros.

Avante, Vingadores! Avante, Marvel! Obrigado por, com sua ficção, fazer com que eu acreditasse no heroísmo. Obrigado por cada quadrinho no qual ficou claro que os limites não impedem uma pessoa de fazer a coisa certa e que ter poderes não é o que faz de alguém herói. Obrigado por esse último filme que fez com que eu reavivasse mais uma vez essas verdades e que fez com que outros pudessem sonhar o sonho que um dia sonhei. E que, graças a Deus, ainda sonho...

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia / Fundador da Oficina de Valores

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