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A prisão pelas próprias regras
Imagine que há pouco
tempo tivemos uma experiência interessante: Conhecemos uma pessoa que não
gostava de comer picles em dias pares (02, 04, 06,..), de anos ímpares (2011,
2013, 2015)! Quão curioso seria uma pessoa com tal hábito milimetricamente
arquitetado!
Como ela adquiriu esse
hábito? Por que ela faz isso? E O MAIS IMPORTANTE: como é que ela faz para
lembrar de não comer picles nos dias pré-determinados?
Talvez você, assim como
eu, ache esquisito esse hábito vinculado a comer picles. Entretanto, quantas
regras sem sentido nos impomos e não nos damos conta? Fique tranquilo! A pessoa
com hábito de picles não é real! Mas queria aproveitar esse texto para falar de
tantas regras sem sentido que nos impomos que tornam nosso dia a dia e nosso
relacionamento com os outros mais difícil.
Antes de mais nada,
gostaria de refletir sobre o cerne desse assunto. É lícito termos regras que
balizem nosso dia a dia? A resposta é meio óbvia: Claro que sim! É muito natural
seguirmos algumas regras que garantam nossa sobrevivência. Por exemplo, ninguém
questionará a sanidade de um homem que diga que nunca pulará de um precipício.
Ou de uma mulher que decida por não dizer a primeira coisa que passa na sua
cabeça sobre as roupas das pessoas na rua.
Entretanto, o problema
começa a aparecer quando essas regras não tem um bem maior como objetivo e atrapalham
a convivência com os outros ou visam a deixar uma outra pessoa desconfortável
com base no nosso comportamento. Por exemplo, podemos citar uma pessoa que
coloque como regra na sua vida que não falará com nenhuma mulher/homem com a
qual seu namorado(a) já se relacionou.
Ou ainda, uma pessoa que tenha uma regra
imutável de que é impossível conversar sobre certos assuntos e nunca esteja
disposto a conversar com amigos sobre assuntos como religião, esportes ou
política, por exemplo.
Outras pessoas acabam
sendo dominadas por superstições vãs, como compra de ícones para atrair sorte
ou azar ou crenças que a posição dos astros afetará seu humor. Superstições que
afastam as pessoas do reto caminho e levam outros ao caminho da confusão.
O melhor direcionador
para julgarmos uma regra é a caridade. Quando nossas regras começam a
determinar com quais pessoas devo me relacionar e com quais não, ou qual
conjunto de crendices praticar a despeito do impacto disso na minha vida e na
dos outros, devo parar e me questionar se é a caridade que esta reinando nesse
princípio ou se é um orgulho muito profundo.
Se olharmos a nossa
volta, notaremos que as melhores pessoas para se relacionar são as de trato
“leve”. Essa “leveza” se dá pela rapidez em perdoar, a facilidade em
compreender e na vontade de se aproximar dos demais.
Os juízos sobre situações
podem mudar, porque as situações mudam. O juízo sobre as pessoas devem mudar,
porque as pessoas mudam. A caridade que nos ajuda a ver mais adiante,
principalmente no que tange aos outros... Afinal, a vida continua.
Triste é quem passa a
vida tentando lembrar quais são os dias pares dos anos ímpares antes de tomar
cada decisão de comer picles. Não sei qual é a sua situação hoje, mas te
garanto que uma vida cheia de regras é muito menos interessante que uma vida
livre. Que possamos colocar nossos esforços em pensar sobre como tornar o dia
dos outros mais agradável e mais feliz.
Jonathan Penha
Engenheiro de Produção - UFRJ / Oficina de Valores
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