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Os jogos olímpicos vão chegando ao final e, mesmo com vários resultados ainda em aberto, é possível ter uma certeza: esse negócio de Olimpíadas contagia. E digo isso como alguém que não estava nem um pouco animado com essa história toda. Crise política, cada vez mais escândalos de corrupção surgindo, crise financeira no estado, atraso de obras e violência, entre outros fatores, pareciam suficientes para tirar o interesse dos jogos. Até que eles começassem.
O clima hoje é bem diferente, o “espírito olímpico” está espalhado por todos os lugares, desde as manchetes dos jornais até os papos de fila de mercado. Mas afinal, por que as Olimpíadas conseguem, mesmo num momento adverso, envolver tanto as pessoas? Acredito que, entre os vários possíveis motivos, um toque profundamente a cada um de nós: o esporte olímpico traduz alguns dos sentimentos mais humanos que temos.
O mais evidente talvez seja o desejo de vitória. Todos sonhamos em um dia combater um bom combate ou completar uma corrida, mesmo que não seja em sentido literal, ansiamos por conquistar um objetivo ou superar uma grande dificuldade. O lugar mais alto no pódio, a medalha de ouro são o desejo de qualquer atleta. Mas, assim como em nossas vidas, estas buscas dentro das arenas olímpicas são apenas o ponto alto de lutas que começaram bem antes. Vêm de um longo processo de autoconhecimento, aceitação e superação.
O nadador Michael Phelps suspendeu a aposentadoria anunciada nos jogos de 2012 para retornar à piscina e se tornar o maior recordista da história dos jogos olímpicos (com 28 medalhas, sendo 23 de ouro). O motivo da volta? A luta contra a depressão e a recuperação de um sentido para a vida. Também o americano Jesse Owens, negro e pobre, ganhador de quatro medalhas de ouro em plena Alemanha nazista, em 1936. Mesmo depois do feito, ainda precisou lutar muito contra o preconceito no próprio país.
Além de tantas outras histórias de superação - de lesões, pobreza, preconceitos, que nos remetem a nossas próprias lutas, o esporte nos toca num outro ponto essencial: mesmo em um mundo onde o individualismo e a maldade tomam proporções enormes, percebemos que ainda desejamos a justiça e a honestidade. Não queremos ver vitórias forjadas ou roubadas, nos interessa que se ganhe de forma limpa.
É claro que encontramos trapaças e injustiças. O erro do juiz, esportistas que tentam prejudicar adversários, atletas flagrados em casos de doping. Mas no “espírito olímpico” eles são repudiados e, quando expostos, assumem as falhas com vergonha e quase sempre acompanhadas de pedidos de desculpa. Na alegria que nos invade, ainda que um pouco eufórica, fica transparente que a bondade nos pertence mais do que o simples desejo de medalha.
Vemos aflorar também um sentimento que, em tantas esferas da vida, está quase desaparecido: a unidade. Torcemos sempre para o brasileiro (mesmo que ele não tenha chance de ganhar) e, na falta de um atleta, pode-se torcer até para o juiz. Quando algum esportista conterrâneo compete, celebramos no plural “ganhamos” ou lamentamos dizendo “perdemos”. Sentimos que alguém é responsável por nós e que, de certa forma, somos responsáveis pelos outros.
Para além desse patriotismo, é admirável o respeito entre os atletas. Quem não cumprimenta o adversário é vaiado. E quem ajuda, como no caso das corredoras Abbey D'Agostino, dos Estados Unidos, e Nikki Hamblin, da Nova Zelândia, que se ajudaram após uma queda mútua e chegaram nas últimas colocações, é aplaudido. Fora das pistas também vemos grandes exemplos, como o do treinador alemão que faleceu num acidente de carro logo na primeira semana dos jogos. Após a autorização da família, hoje seu coração continua batendo forte, mas no peito de um brasileiro que necessitava de um transplante.
Por esses motivos acredito que os jogos olímpicos vão além do antigo “Pão e Circo” do Império Romano, que consistia em dar ao povo comida e diversão para apaziguar suas insatisfações. Corremos o risco de ficar apenas na superficialidade das festas e não procuramos aprofundar nenhum desses valores? É claro que sim. Mas as Olimpíadas, além da boa diversão e entretenimento, podem nos recordar valores essenciais dos quais muitas vezes desistimos de procurar durante outros momentos da vida.
Vemos nos jogos aquilo que gostaríamos de ser todos os dias. Aspirar a metas superiores, superar limitações e dificuldades, desejar a honestidade e a justiça, repudiar a trapaça, fortalecer o sentido de unidade entre os nossos e também entre toda a humanidade. É possível que após esses dias percamos algumas destas conquistas. Mas o fato de as enxergarmos acende uma chama de esperança.
Diego Gonzalez
Mestrando em Engenharia Biomédica
Oficina de Valores
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