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#AvanteOficina

Sei que meu texto dessa semana no blog deveria ser um comentário sobre o segundo filme do Batman. Essa resenha já está escrita, mas vamos parar com nossa programação normal para comentar sobre o evento que tem estado presente em rodas de conversa pelo mundo todo nos últimos dias: as Olimpíadas.

O espetáculo máximo do esporte se aproxima do fim e, reconheço, não tive condições de acompanhar como gostaria. Em decorrência de diversos compromissos, assisti a pouquíssimos jogos. No entanto, acompanhei as notícias diariamente, além de ver e ouvir diversos comentários, seja em papos informais com amigos, seja nas redes sociais. É sobre o conteúdo de tais comentários que agora

desejo me manifestar.

Vi muitas pessoas afirmarem estar decepcionadas com o desempenho do Brasil nos jogos olímpicos. Alguns brasileiros chegaram ao cúmulo de ofender atletas que não tiveram o rendimento esperado. Vi também um grande número de manifestações virtuais defendendo esses atletas e acusando o governo por não investir nos esportes. Alguns culpam os indivíduos, outros culpam o Estado; de qualquer maneira a palavra que mais ressoou, ao menos para mim, foi decepção.

Confesso que também me vi decepcionado. Não com o desempenho nos jogos, mas com tais comentários. A primeira coisa que me chamou atenção, nas diversas opiniões manifestadas, foi nossa ausência de senso histórico. Dizer que a delegação brasileira decepcionou é uma declaração apaixonada que decorre do pouco conhecimento da história do esporte em nosso país e do desempenho brasileiro em olimpíadas anteriores.

As Olimpíadas de Londres são a edição dos jogos em que nosso país mais conquistou medalhas. Não falo do número de ouros, cujo máximo foi de 5 nos jogos de Atenas. Neste quesito o Brasil ficará com 3 ou 4 – não sei ainda porque escrevo durante a dramática final do vôlei masculino. De qualquer maneira, seja qual for o resultado, pelo menos 16 pódios já estão garantidos. A última vez que o Brasil conseguiu um feito parecido foi em Atlanta m 1996, com 15 medalhas.

Querendo os críticos mordazes ou não, o desempenho de nosso país melhorou bastante nos últimos tempos. Para ter uma ideia, em Barcelona em 1992, o Brasil subiu ao pódio apenas 3 vezes. Antes disso, temos alguns resultados pouco melhores e outros bem piores. Convido aos leitores a realizarem uma rápida pesquisa na internet para conferirem nossa sensível evolução a partir da década de noventa.

Sei que podem argumentar que ainda é pouco, que passamos do nada para alguma coisa e que a política pública para os esportes é muito ruim. Concordo com tudo isso e por isso sigo afirmando: não temos motivos para estarmos decepcionados. A decepção só ocorre quando temos expectativas que são frustradas. Minha linha de argumento é que não tínhamos razões para grandes expectativas. Sofremos e reclamamos porque esquecemos esse fato tão simples e, de certa maneira, evidente. Esquecemos porque, no fundo, não nos importamos com os rumos do esporte brasileiro. Queremos apenas elevar nossas autoestimas com a subida ao pódio de atletas que atuam como nossos avatares. Queremos o momento catártico da vitória e quando ele não vem, ficamos muito irritados.

Sei que toda torcida tem algo de irracional. Sou torcedor também. Fico com raiva e vontade de xingar. Fico triste quando perdemos. Grito e vibro como todos... E acho tudo isso muito bom. Mas acho melhor ainda pensar um pouco antes de emitir uma opinião apaixonada que não é pautada pela realidade.

Nossa política voltada para os esportes ainda é pífia. Há uma gestão ruim, desvio de recursos e tudo aquilo que todos sabem ou desconfiam. No entanto, acho que o ponto não é esse. Nosso interesse pelo esporte (fora o futebol) também não é lá grandes coisas. Pergunto quantos de nós já gastou tempo e dinheiro para assistir um torneio de judô ou uma apresentação de ginástica olímpica. Ah! Não estou falando de assistir pela televisão, embora acredite que, se incluir a audiência televisiva na minha pergunta, o resultado não vá ser tão diferente.

Há desinteresse do poder público pelo esporte porque há desinteresse social pelo esporte. Quando descobri que o ingresso para uma partida de vôlei é R$ 2,50 e ainda assim o estádio costuma ficar vazio fiquei um pouco espantado e decepcionado. Não há como o esporte em nosso país evoluir se ele não for tratado com importância por mim e por você.

Confesso que não sentei para escrever esse texto para falar apenas das Olimpíadas. Julgo que o que vivemos estes dias é uma metáfora de uma postura cotidiana. Postura não apenas de desconhecidos, mas minha e de amigos meus. Quando olhamos os grandes dramas de nosso país tendemos a ficar revoltados e chateados, mas esta é uma revolta passiva que não possui poder transformador.

O comprometimento com a realização do bem comum não pode ser algo pontual, tem que ser permanente. Há pouco um familiar e um amigo tiveram que utilizar o sistema de saúde público e tiveram grandes dificuldades. Fiquei chateado e revoltado. Contatos foram feitos, pressões foram feitas e, graças aos céus, tudo terminou bem. Estes fatos, no entanto, me fizeram pensar muito no drama cotidiano de tantos e tantos que sofrem esperas intermináveis por atendimento. Senti uma indignação maior porque os números tomaram rostos quando pessoas próximas foram atingidas. Não consigo deixar de ficar incomodado ao pensar que os problemas pessoais foram resolvidos, mas o drama de milhões continua.

Cada vez estou mais convencido de que o caminho para a realização do bem comum não pode ser delegado. Uma sociedade melhor é construída com a participação cidadã; Essa participação inclui cobrar do governo, mas vai muito além disso. Sinto-me um pouco chateado quando escuto brasileiros falando mal do Brasil sem fazer uma autocrítica. Os outros são alienados, os outros não fazem nada. Tem horas que gostaria de pedir que me mostrassem esses outros para que tentássemos resolver o problema; nesses momentos lembro que criticar o outro as vezes é apenas uma máscara para esconder o fato de que não contribuo. Máscara tão bem colocada que por vezes faz o próprio indivíduo achar que ela é seu rosto.

Para encerrar, digo que ficamos com a prata no vôlei. Dou parabéns a nossos atletas que tantas alegrias nos deram e que hoje caíram frente a uma Rússia que não desistiu mesmo quando tudo parecia perdido. Se a campeã olímpica de vôlei nos ensina algo hoje é que a virada é possível. Várias vezes os atletas brasileiros nos mostram isso também... Desejo do fundo do coração que essa metáfora seja uma lição aprendida por mim e por você. 


Alessandro Garcia
Mestre em Sociologia - Coordenador da Oficina de Valores

4 comments:

Anderson Dideco disse...

Como sempre, excelente! Ao final do parágrafo 11, vc não terá querido dizer "que NÃO possui poder transformador"?
Lembrei-me, p confirmar o dito, que foi o jornalista João Saldanha quem cunhou o termo "torcedor" para os aficcionados dos esportes, querendo mesmo com isso dizer que "torcem" os fatos. Achei pertinente comentar. Abç.

Alessandro Garcia disse...

Opa...
Obrigado pela correção Dideco.É exatamente isso. A falta dessa palavrinha deixa o argumento sem sentido.

Alessandro Garcia disse...

Ah...e bacana essa informação que vc trouxe. Bem bacana mesmo. Se soubesse disso antes teria incluído no texto. : )

Anderson Dideco disse...

Os comentários de um blog deveriam oferecer a opção "Curtir", né? Facilitaria, rs. Abç, Alessandro.

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