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Certa vez ouvi do músico católico Martin Valverde o seguinte pensamento:

Solidão não é estar sozinho. Solidão é quando estamos cercados por milhares de pessoas, mas nenhuma em quem confiar e entregar o seu coração. Solidão é quando as pessoas se aproximam de você pelo que você tem a oferecer. Pelo seu dinheiro, pelo seu sexo, pela sua influência, pelo que você pode dar, mas não pelo que você é”.

Muitas vezes, ao pensar nisso, reparei que eu proporcionei que as pessoas fossem sozinhas, e é claro, reparei que eu era sozinho também. Desde que ouvi essas palavras do Martin por volta de 1999, eu comecei a olhar com mais carinho e cuidado para as pessoas. Comecei a reparar que elas são mais, muito mais do que os olhos podem ver em dado momento. Que o que se manifesta no exterior é o somatório de muitas coisas que aconteceram e acontecem na vida delas e com isso, comecei a

entender o que é a compaixão.

Olhando com mais cuidado para a vida do outro, aprendi a olhar com mais cuidado para a minha própria. Entendendo os motivos, a história do outro que o levava a ser como ele era ou é, comecei a entender que eu sofro o mesmo processo, e que as coisas me afetam da mesma forma. Eu sou hoje fruto do que aconteceu comigo ontem, e o que eu sou hoje define quem eu serei amanhã. Isso não deveria ser - e talvez não seja - nenhuma novidade, mas entender isso de verdade não é tão simples quanto parece. Somos sozinhos justamente porque não entendemos isso... Colocamos nossa confiança, transmitimos nossas expectativas para as nossas relações com os outros, e, ao não entendermos esse processo de formação da pessoa, ao esbarrarmos em suas imperfeições, nos frustramos, nos decepcionamos, porque não fomos correspondidos naquilo que esperávamos que o outro pudesse ser, e aí nos sentimos sozinhos, e mais do que isso, nos afastamos dessas pessoas, e elas se sentem sozinhas também.

Nossas relações são interesseiras porque acredito que haja um pré-condicionamento na sociedade para que elas sejam assim. Sempre há aquela pergunta, ainda que não seja declarada: “o que eu ganho com isso?” Mas quem disse que é preciso ganhar alguma coisa sempre? Porque você não pode dar o que você tem sem esperar absolutamente nada em troca? Porque raios nos dias de hoje, dar sem esperar receber, para a maioria, é fazer papel de idiota? É engraçado que São Lucas nos atos dos apóstolos nos lembre que há mais alegria em dar do que receber. É engraçado pensar que seja só coincidência que em um mundo onde cada vez mais se negue um papel para a religião tratando-a como coisa de pessoas pouco instruídas, conselhos tão básicos como este estejam ficando para trás. Mas isso é outro papo, para uma outra oportunidade.

Acredito mesmo que a solidão de hoje é em parte consequência desse processo de não entender o outro e resumir toda a vida dele a um momento, não considerando sua história que o levou até ali, e acredito também que isso influencie os relacionamentos os tornando cada vez mais superficiais e virtuais. A não convivência faz com que as decepções diminuam porque evitam o conflito. Mas isso diminui a qualidade das nossas relações. Os conflitos são importantes porque nos formam, nos educam e nos preparam para outros relacionamentos e até mesmo para as adversidades que se apresentarão ao longo de nossa vida, e fugir deles é fugir a oportunidade de ser um ser humano melhor.

É muito difícil ter a medida certa do quanto devemos nos envolver, e isso só vem com a experiência. Às vezes tomamos as dores quando não deveríamos, deixamos que os problemas dos outros nos afetem mais do que deveriam, permitimos que os outros entrem mais na nossa vida do que deveriam e isso é sim muito prejudicial. Mas mesmo o contrário, não permitir que essas coisas aconteçam, é igualmente prejudicial porque não nos permite que conheçamos nossos limites, até onde podemos ir, até onde aguentamos ir. E lá na frente, descobrir isso pode custar caro demais. Talvez seja a falta de descoberta desses limites e a fuga desses conflitos, que faz com que tantos casais se tornem verdadeiros desconhecidos até se casarem. E quando, depois do sim dito com toda a empolgação e vontade, começam a conviver e não têm para onde fugir, descobrem que o outro é muito diferente do que se esperava...

Ter a justa medida do quanto se deve fazer cada uma dessas coisas só vem com a experiência de vida. Somente vivendo podemos encontrar essa medida que é diferente pra cada um e que pode até mesmo variar ao longo das várias fases da vida. E se conhecer é parte fundamental para começar a compreender o outro. Ao entender e enxergar seus limites, seu olhar para com o outro se transforma. Os defeitos e limitações do outro parecem que perdem força exponencialmente à medida em que você aprende mais sobre você mesmo.

Hoje temos nos negado a ter essa experiência e temos transformado nossa convivência em convivências virtuais. E quando não são virtuais, ao menor sinal de que possamos nos decepcionar, nos afastamos, corremos, fugimos com medo, evitando aqueles que podem vir a nos causar essa decepção. Nos refugiamos nos bate papos e redes sociais da vida. Querendo evitar a dor da decepção, mergulhamos cada vez mais em uma solidão, pensamos que o único jeito de não nos decepcionarmos é não nos relacionarmos, ou não nos comprometermos com ninguém.

Temos ainda a opção de construir relacionamentos superficiais, mas é só uma forma de solidão disfarçada, exatamente aquela sobre a qual falei no começo. Aproximamo-nos das pessoas pelo que elas podem nos oferecer, uma boa companhia para sair em um sábado a noite, um bom papo, um(a) companheiro(a) de copo... Mas quando a coisa começa a se aprofundar, quando começam a entrar em cena os problemas e as angústias do outro, tendemos a nos retirar dessa relação. Assim não conhecemos de verdade o outro, não nos comprometemos e nem colocamos nele expectativas e não corremos o risco de uma decepção, ao mesmo passo em que não nos damos a conhecer, não possibilitando que o outro se comprometa conosco, correndo o sério risco de nos vermos sozinhos quando tivermos nossas angústias próprias - e todos nós as temos - e a imensa vontade, ou mesmo necessidade, de contá-las a alguém. Mais uma vez nessa hora recorremos ao mundo virtual, onde eu posso “alugar” o outro para contar meus problemas e descarregar tudo que preciso desabafar - porque todos nós precisamos disso em algum momento - mas na hora de ouvir e dar atenção ao que o outro tem a dizer - opa, desculpa, tenho que sair aqui - e continuando online mudo meu status para off-line só para fugir e não ouvir. Falta comprometimento. Sobra interesse.

Relacionarmo-nos é fundamental para sermos provados pelo fogo. Como sabemos, o ouro só tem valor quando passa pelo fogo para ficar livre da impureza, o ferro só se transforma em aço “inquebrável” da mesma forma, e nós só conseguiremos fugir da solidão dos relacionamentos virtuais e superficiais se nos permitirmos passar pelo fogo da convivência que queima, arranha e espeta, que machuca e faz sangrar, e as vezes dói muito. Mas é pela dor dessa provação que conseguiremos construir relacionamentos saudáveis, verdadeiros e duradouros, ao invés dos relacionamentos descartáveis e interesseiros que temos, muitas vezes, encontrado nos dias de hoje.

E para terminar quero citar uma imagem que vi no Facebook, um casal de velhinhos e uma pergunta:

“_Como vocês conseguem manter um casamento que já dura 65 anos?

_Meu filho, nós nascemos em uma época, em que quando alguma coisa quebrava, éramos ensinados a consertar, e não a jogar fora.” 
Cleber Kraus

3 comments:

Anderson Dideco disse...

"(...) ao menor sinal de que possamos nos decepcionar, nos afastamos, corremos, fugimos com medo, evitando aqueles que podem vir a nos causar essa decepção. Nos refugiamos nos bate papos e redes sociais da vida. Querendo evitar a dor da decepção, mergulhamos cada vez mais em uma solidão, pensamos que o único jeito de não nos decepcionarmos é não nos relacionarmos, ou não nos comprometermos com ninguém."
Muito bom, Binho.

André disse...

Gostei muito Binho! Concordo com você.

Nossas relações são cada vez mais tratadas como um produto. Queremos cada vez mais consumir o outro, de alguma forma, em vez de conhecer o outro.

Recentemente tive duas experiências que acho exemplificam o caso. Uma foi com uns amigos que não via há muito tempo e uma das pessoas do grupo não queria saber do que estava acontecendo com os outros, queria somente que fosse ouvida. Isto sem espaço para comentar ou opinar.
E a outra, também com amigos que não via há algum tempo, foi de descobrir que eu mesmo conhecia pouco sobre apectos muito relevantes da vida daquelas pessoas, e eram pessoas que eu convivi por muito tempo e até hoje gosto muito.

Abração,
André

Ci disse...

Bom texto Binho! Tenho observado em nossas convivências essa questão de quantidade e pouca qualidade nos relacionamentos. Precisamos nos esforçar sobretudo hoje em que temos tantos "amigos" nas redes sociais e que nossas vidas muitas vezes se veem tão expostas por essas mesmas redes a formarmos vínculos de amizades fortes e verdadeiros e ter sempre a consciência de que essas pessoas serão sempre uma pequena fatia das pessoas que nos relacionamos. Ao mesmo tempo independente do grau de relacionamento que temos com as pessoas devemos fazer o "exercício" sempre de buscar nos interessarmos pelo outro não pela curiosidade mas pelo cuidado que o próprio Cristo tem com cada um de nós.
Abç, Cintia

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