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#AvanteOficina

Ante a notícia da estreia da peça Camille e Rodin, em São Paulo, com Leopoldo Pacheco no elenco e direção de Elias Andreatto, senti vontade de assistir – já que estava mais ao meu alcance – ao filme de 1988 Camille Claudel (França, California Filmes), que relata a vida da famosa escultora e o seu rumoroso caso com o mestre. O filme tem direção de Bruno Nuytten e a participação de Isabelle Adjani (Por onde andará esta excelente atriz?) no papel de Camille e de Gérard Depardieu como Rodin, além do ator Laurent Grévill, que interpreta no filme o irmão da protagonista e igualmente célebre poeta Paul Claudel.

Talentosa, mas incompreendida em sua época, Camille verá sua trajetória encaminhar-se para um final dramático: vítima de esquizofrenia, ela morre após 30 anos de internação em

um sanatório, e o tão desejado (e merecido) reconhecimento artítisco de seu trabalho só seria alcançado postumamente.

Alguns dados, no entanto, chamaram-me deveras a atenção nesta história verídica, e é o que me suscitou estas linhas. O filme faz referência à conversão ao catolicismo do até então ateu ou agnóstico Paul Claudel; e deixa também claro que partira de sua irmã a decisão de abandonar a fé cristã e a sua prática, culminando no afastamento de toda a família – exceção feita a Paul, que assim, em certo sentido, se libertava do jugo obsessivo e autoritário de Camille para render-se ao “jugo suave” do Bom Pastor de Nazaré.

Não vou aqui esmiuçar as questões humanas e afetivas que permearam a vida de Camille e que têm direta relação com o estado deprimente em que sua vida, e mesmo sua arte, acabaram por declinar. É suficientemente conhecido – ou, ao menos, largamente documentado para os que aí queiram se aprofundar. Limito-me a notar que, segundo o citado filme, a jovem escultora francesa do início do século XX teria cometido um aborto, que hoje se sabe (segundo o trabalho de instituições científicas sérias) ser causa de traumas e condicionamentos de terríveis consequências para as mulheres.

Mas quero mesmo é me debruçar sobre a figura do irmão Paul Claudel, esse poeta católico que se vê às voltas com a difícil responsabilidade de autorizar a internação da própria irmã, sua quase idolatrada companheira de infância e juventude. Não é preciso dizer o quanto deve ter sido uma escolha dolorosa, principalmente sendo ele um cristão.

Fiquei meditando em quanto é, por vezes, duro compreender o mundo pela ótica cristã; principalmente quando tantos à nossa volta vivem como se Deus não existisse, ou como se Jesus fosse apenas um mito entre outros, mais ou menos importantes para a história da humanidade. Ter consciência de que a Verdade existe, de modo absoluto, e que não é sujeita às relatividades e/ou subjetividades em voga, não deixa nada a dever, enquanto martírio, aos cristãos dos tempos romanos, que eram lançados aos leões. Penso até que os leões contemporâneos são mais ferozes e famintos que os do antigo Coliseu.

Não é verdade que vemos (dentro de nossas próprias casas, no seio de nossas famílias e em todos os demais ambientes que frequentamos) pessoas muito próximas de nós perderem o vínculo com a realidade, e em alguns casos irremediavelmente? Não é fato que, em grande parte, estes “deslizes” para a loucura poderiam ter sido evitados por uma vida de fé, uma prática sacramental mais intensa e fervorosa, um diálogo franco e amoroso com um Deus que é vivo e atuante, e poderoso para nos salvar, até de nós mesmos, nossas misérias, nossas mazelas e neuroses?

Ter claro, à nossa frente, a existência de um remédio, um medicamento eficiente para um sem número de situações que beiram o abismo da insanidade, e não poder ministrá-lo a quem amamos porque simplesmente não acreditam como nós. Poderá haver maior sensação de impotência? Poderá haver algo mais angustiante do que ver perderem-se aqueles por quem daríamos nossa vida, se preciso fosse – e não porque a ciência não lhes tenha alcançado a cura, mas porque rejeitaram uma cura que ciência alguma lhes disponibilizaria, mas que estava bem diante de seus olhos incrédulos, e não quiseram enxergar.

Obviamente, não falo aqui de patologias incuráveis. E nem sou dessa opinião reducionista de que todos os problemas mentais possam ter raízes espirituais: em muitos casos, a medicina é necessária e eficaz. Mas a esquizofrenia de Camille não terá, possivelmente, derivado de outros pequenos distúrbios psicoemocionais não imediatamente diagnosticados e não prontamente medicados, por recusa do “paciente” em aceitar o tratamento?

À nossa volta, está cheio de pessoas assim: com sintomas, graves ou não, de que alguma coisa está fora do lugar em seu interior. São os medos e fobias, as manias, os maus humores, inconstâncias de temperamento, agressividades e carências, isolamentos e apegos, dificuldades diversas de relacionamento, enfim, que sinalizam uma só coisa: o foco está trocado. Lance-se, por exemplo, luz demais sobre as necessidades materiais do homem, e outros primordiais anseios da alma humana ficarão embaçados, impossibilitando enxergar-se o “todo”. E eis nossa “imagem e semelhança” (quiçá para sempre) comprometida.

Que fazer quando temos acesso à Verdade que liberta, ao Caminho que leva à salvação e à Vida abundante – mas os que nos cercam não aceitam trilhar por onde, como setas, lhes apontamos? E parecem preferir “contentar-se” com um simulacro de existência, fingindo não perceber os sinais inquietantes de que se encaminham a passos largos para um precipício sem possibilidade de retorno?

A solução, me parece óbvio, está na aceitação humilde de nossas limitações e na impossibilidade mesma de mudar todas as circunstâncias (e menos ainda as pessoas). Recordar que Cristo nos remiu da Cruz, onde, pregado de mãos e pés, achava-se na impossibilidade “humana” de realizar os milagres e curas que antes causavam admiração – e do alto da qual chegou a ouvir chacotas sobre não poder salvar-se nem a si mesmo!

Mas não uma aceitação passiva, inerte e, sim, uma aceitação ativa, confiante, moldada na tal “onipotência suplicante” que se atribui a Nossa Senhora; a confiança plena de quem se abandona como instrumento nas mãos de Deus, deixando que Ele realize a Sua obra, crendo que Ele a quer e pode realizar.

Paul Caudel abandonou-se, decerto, desprezando a dor de ver sua amada Camille definhar entre camisas de força e sedativos. Terezinha de Lisieux teve de ver seu querido pai enlouquecer sem poder (e nem querer) desfazer seus votos de religiosa. Confiaram no Onipotente, e no poder da oração, não somente enquanto súplica, mas sobretudo como esperança de vitória. A que vem “depois” da cruz – pra terminar com uns versos certeiros da cantora Católica Ziza Fernandes.
Anderson Dideco
Paróquia de Cascatinha - Pastoral da Comunicação - Amigo da Oficina de Valores

1 comments:

André disse...

Gostei da relfexão, em especial da conclusão.

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