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#AvanteOficina

Por: Alessandro Garcia

No texto de hoje buscarei refletir um pouco sobre a ação do Ministério Público para que a frase “Deus seja louvado” seja retirada das notas de real. Tal situação tem sido motivo de calorosas discussões e pensei que seria interessante colocar um pouco mais de lenha na fogueira.

Quando foi perguntado acerca de tal ação do Ministério Público um conhecido senador da República, cuja fama não é das melhores, deu a seguinte declaração: “É falta do que fazer”. Confesso que, embora não morra de amores por tal figura pública, minha reação foi

parecida, apenas esboçada em uma frase um pouco mais longa.

A função do Ministério Público é ser uma espécie de advogado da sociedade frente ao Estado. Tal órgão deve fiscalizar a aplicação de nossas leis e dos tratados que firmamos com outros países. Quando fiquei sabendo da luta iniciada por tal instituição para retirar a frase religiosa de nosso “suado dinheirinho” pensei que talvez fosse até uma boa notícia. Tudo devia estar indo muito bem no Brasil para que os nobres funcionários públicos pudessem ter tempo de procurar pelo em ovo ou chifres em cabeças de cavalo.

Minha euforia inicial logo passou ao continuar lendo as notícias. O Brasil continuava o mesmo com seus diversos problemas sociais e políticos. A Constituição e diversas outras leis continuavam a ser desrespeitadas e os dramas de nosso povo não haviam desaparecido. O que levou então o Ministério Público a mover tal ação? A justificativa apresentada foi de que o Brasil é um estado laico e que a palavra Deus no dinheiro poderia ser ofensiva a quem não é cristão.

Quando li isso, passei a imaginar legiões de pessoas gritando nas ruas: “Não queremos Deus no nosso dinheiro! Basta de ofensa e perseguição religiosa através das cédulas!” Embora o exercício de imaginação estivesse interessante, a coisa permaneceu no nível da fantasia. Na prática, as diversas religiões do Brasil não se sentem ofendidas com a afirmação. Embora a palavra Deus esteja ligada à tradição cristã católica do Brasil, ela é utilizada por diversos outros seguimentos religiosos. Umbandistas, espíritas e muçulmanos também fazem menção a esta palavra. Até pessoas que não possuem religião alguma frequentemente se despedem desejando que o outro “vá com Deus”.

Mesmo no caso dos ateus não vejo tantos motivos para se sentirem ofendidos, afinal podem ler a frase como um tributo à cultura de nosso povo. Ou mais ainda: como uma piada! Se nas notas estivessem escritas frases que eu considerasse falsas, mas jocosas, não veria problema. Imaginem escritas em nossa moeda frases como “Viva o coelhinho da Páscoa” ou então “Esperem pelo Papai Noel”. Eu poderia rir ou achar uma “maluquice”, mas nunca ficaria ofendido.

Continuando a pensar sobre a razão que motivou tal luta jurídica para retirar “Deus seja louvado” das notas de real, acredito ter chegado a uma conclusão. Há um motivo oculto, mas forte. A frase que clama o louvor a Deus ofende o núcleo do sagrado contemporâneo. Para que a coisa fique mais clara vou utilizar um exemplo do meu cotidiano. Como acredito que os leitores do blog saibam, sou católico e como católico valorizo muito nossos rituais. Quando vejo uma missa sendo celebrada de forma desleixada, por exemplo, fico irritado. Acredito que seria bastante ofendido em meu sentimento religioso se entrasse em uma Igreja e visse uma imagem de Buda colocada dentro de um sacrário. O sagrado de um budista profanaria a sacralidade de espaço cristão.

Creio estarmos diante de algo parecido. A frase “Deus seja louvado” estampada no dinheiro é vista como profanação. O mundo materialista possui diversas divindades: prazer, poder, fama. E todas elas podem ser compradas pela divindade máxima que em outras línguas costuma atender pelo nome de “Money” e à qual tem sido feito grandes sacrifícios (até mesmo virgens tem oferecido sua virgindade para angariar o favor do grande Money, isso sem falar no tráfico de drogas e no sangue humano feitos em seu nome).

Assim como o Brasil, os EUA possuem uma frase religiosa em suas valiosas cédulas. Se aqui Deus é louvado, lá Deus é objeto da confiança. In God We Trust! Penso que tais declarações possuem uma intuição interessante mesmo para aqueles que tem lá suas dúvidas para com o transcendente. Quando o divino é mencionado de tal maneira no dinheiro, uma cultura me parece estar dizendo: “há algo que julgamos mais importante. Nossos corações buscam e anseiam por algo maior”.

Temo que, ao expulsar Deus do dinheiro, estejamos divinizando ainda mais aquilo que infelizmente, é, por muitos, considerado divino. Para seus adoradores, a moeda costuma ser uma divindade sedutora, mas é também cruel. Adorar o dinheiro pode significar depreciar aqueles que não o possuem. Lembro de um amigo da adolescência que costumava dizer diante de certas situações: “coisa de pobre”. Isto que, na boca de meu colega, era uma brincadeira, pode, para a nova religião, se tornar a condenação de uma heresia. Para aqueles que louvam o dinheiro a declaração de renda facilmente pode se tornar um atestado de valor.
 
Caso um dia vá a Índia, ficarei feliz se encontrar nas rúpias frases que engrandeçam Ganesha, Brahma ou Vishnu. Também me alegrarei se venerações a Buda estiverem estampadas nos Ienes. Embora não creia em tais divindades ou nos ensinamentos do iluminado oriental, julgo que há sabedoria em um povo que dessacraliza sua moeda reconhecendo algo superior a ela.

Admito que se a frase “Deus seja louvado” fosse tirada das notas sem alarde eu nem perceberia, afinal não nutro o hábito de passar horas do meu dia contemplando o papel timbrado do dinheiro. Empreendi essa discussão apenas por julgar que há um “politicamente correto” que chega a ser burro, que a laicidade do Estado é por vezes mal compreendida e que os deuses da cultura materialista são cruéis.

Bom...já disse o que tinha que dizer. Despeço-me fazendo apenas um pequeno clamor:

Por Deus, que o dinheiro não seja louvado!
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Coordenador da Oficina de Valores 

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