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Por: Alessandro Garcia
Nunca dei bola para essas profecias que marcam a data do fim do mundo. Para falar a verdade, nunca conheci ninguém que levasse a coisa realmente a sério. Já encontrei, no entanto, diversas pessoas que ficaram com a “pulga atrás da orelha” quando ouviram tais previsões. A pergunta que faziam normalmente era: “E se for verdade?”

Quando ligo a TV, percebo que existem pessoas que acreditam. Diversas cidades, que supostamente sobreviveriam ao grande fim, ficaram lotadas de turistas com medo do apocalipse. Em outros supostos dias finais houve até suicídios coletivos - confesso que nunca entendi muito bem essa atitude. Por que alguém, ao saber que o mundo vai acabar, se mata antes? Será que gosta tão pouco desta terra que quer ter certeza?

Bom, estas divagações iniciais estão me afastando do objetivo central deste texto. Hoje, um amigo escreveu sugerindo um tema para um texto do blog. O tema sugerido, como o título acima já revelou, foi: E se o mundo acabasse realmente hoje, dia 21 de dezembro? Confesso que a questão levantada me deixou tão inquieto que passei logo a escrever. O blog tem uma programação e já tinha um texto separado para hoje, no entanto pedi a nosso editor que abrisse uma exceção. Afinal de contas, o que pode ser mais importante que o fim do mundo?

Pelo que observei, mesmo com toda a propaganda feita acerca das profecias maias, o término do mundo pegaria todo mundo de surpresa. A virada de ontem para hoje não acarretou uma diminuição do número de pessoas nas redes sociais, aumento da frequência aos templos religiosos, euforia e desespero em escala suficiente para significar que a humanidade realmente esperava pelo fim. Aqueles que acreditaram foram uma exceção. O que é totalmente justificável, afinal diversos armagedons já foram previstos e decepcionaram a muitos quando não se realizaram.

Convido o leitor a um exercício de imaginação: E se esta última previsão se concretizasse? O que faria se hoje fosse o último dia? Darei a minha resposta. Como boa parte dos que acompanham o blog sabem, eu sou católico, sendo assim, apesar da ansiedade e do medo da hecatombe mundial, encararia o fim com certa esperança. Ou melhor, olharia para ele como o término de um capítulo e não o encerramento de uma obra. Se acreditasse que hoje o mundo terminaria, iria me confessar. Faria uma confissão bem acurada, embora rápida, afinal outras dezenas ou centenas de penitentes poderiam estar na fila. E o resto do dia? Bom, sinceramente não sei direito. Passaria ao lado da minha esposa, com certeza. Acredito que eu e ela tentaríamos juntar nossos pais para passarmos juntos esta data tão intensa.

A resposta que cada um dá a questão acerca deste último dia, com toda a certeza está em relação a forma como viveu toda sua vida. A proximidade do fim lança uma luz sobre o todo e esta luz pode ser acalentadora ou desesperadora. Cada um carrega sua cota de medo, culpa, alegria e bondade. Cada um amarra isso a partir de sua visão de mundo. Eu me confessaria porque acredito nisso – a fé cristã organiza minha vida: passado, presente e futuro.

A postura diante da morte reflete a postura diante da vida. Sei que nem todos pensam como eu o objetivo deste texto não é fazer com que o leitor se torne outro Alessandro; é simplesmente fazer com que surja a reflexão sobre o que tem dado sentido a cada um dos nossos dias. O último pôr do Sol tem raízes em todos aqueles que vieram antes dele. 


É comum ouvirmos o seguinte conselho: viva cada dia como se fosse o último. Nunca gostei dele. Primeiro por achar sua aplicação impossível, segundo por julgá-lo absurdo. Se hoje fosse meu último dia,  certas coisas que são importantes nem passariam pela minha cabeça. Tenho que redigir um relatório para o trabalho e gastarei grande parte do meu dia fazendo isso. Se hoje fosse meu último dia, nem o relatório, nem esse texto, seriam escritos.

Julgo impossível viver cada dia como se fosse o último. Não há como, em condições normais, não contarmos com o amanhã. O trabalho continua, marcamos encontros com os amigos, sonhamos com o futuro. Se acordássemos cada dia pensando que não veríamos outro nascer do sol, rapidamente ficaríamos loucos. Penso que mais que viver cada dia como se fosse o último, devamos viver cada dia de forma que ele seja digno de ser o último. Claro que alguns dias serão mais chatos e outros mais interessantes, mas a única forma de temos certeza de que o fim, mesmo que  nos pegue de surpresa, será bem vivido,  é viver extraordinariamente o ordinário e encontramos o fantástico no comum.

Se o último dia reflete os anteriores, pensar no fim ajuda a iluminar o cotidiano. Já conversei com diversas pessoas que viveram a angústia da própria finitude. Sei na pele como isso dói, mas sei também como transforma. Conheço pessoas que diante de tal angústia prefiriram escondê-la e esquecê-la por causa do incômodo causado. Perderam a chance de atravessar a rio e renovar o olhar para a própria vida. Não se resolveram e, ao esconder o fim, deixaram de renovar o hoje. Claro que aqui não falo dos que  patologicamente não param de pensar na morte, mas daqueles que se recusam a acreditar que um dia o próprio mundo vai acabar.

O mundo acabará tanto para cristãos quanto para materialistas. A morte vem para todos. O fim do universo também, embora demore um pouco mais. Como já assumi minha posição acima, não vejo problema em reconhecer aqui que julgo que o fim é mais uma elevação que um término. Como todo ser humano, tenho medo do que não conheço. Apesar disso, assumo que, no meu caso, o temor junta-se à esperança. E isso ocorre tanto agora quando no fim – seja ele hoje ou não.


Se hoje realmente fosse o fim do mundo muitas coisas bacanas também aconteceriam: o consumismo desenfreado do fim do ano seria revelado como sem sentido. Opções banais apareceriam como são. Picuinhas seriam deixadas de lado. O pão seria repartido e o perdão seria pedido. Distâncias seriam quebradas e bondade seria ofertada. Se hoje fosse realmente o fim, para muitos o essencial que se encontra encoberto viria à tona. O mal seria visto como um grande erro e o bem seria celebrado. O arrependimento aconteceria e muitos diriam “se eu tivesse mais tempo faria tudo diferente”.

 
Sabe o que é mais maravilhoso de tudo? O mundo não acabou. Temos mais tempo! Podemos fazer diferente e todas as maravilhas que postei acima não precisam esperar o fim para serem realizadas.

Alessandro Garcia
Doutorando em Ciências Sociais - Fundador da Oficina de Valores

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