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#AvanteOficina

Por: Alessandro Garcia
  
Reza a lenda que certa vez uma famosa dançarina de axé, em uma entrevista, ouviu a seguinte pergunta: Você tem algum hobby? A esta questão, a moça não hesitou em responder: “Possuo dois. Um azul e um rosa”. Para evitar confusões como esta, começarei este artigo definindo aquilo sobre o que quero escrever.

Um hobby diz respeito a uma atividade desenvolvida regularmente com fins lúdicos. Em certo sentido, todo hobby é inútil. Pode ser até que traga grande bem aquele que o pratica, no entanto não é esse o interesse primeiro. Alguém que coleciona selos pode ser que faça

uma fortuna, mas o dinheiro não é o objetivo da sua coleção. Seria mais correto dizer que a coleção, em muitos casos, é o objetivo do dinheiro.

Por diversas vezes, Chesterton disse que não havia assunto que pudesse ser em si mesmo considerado desinteressante. Pois bem, quem possui um hobby coloca isso em prática em microescala e se torna capaz de perceber o extraordinário de alguma coisa ou situação. Talvez este caráter maravilhoso da atividade seja desconhecido da grande maioria, mas “ele” pode ver. E essa visão o fascina. Falando pessoalmente, não sinto o menor interesse em colecionar figuras de jogadores de futebol, mas entendo muito bem a paixão que move os colecionadores.

Outro aspecto fantástico dos hobbies é que eles têm a capacidade de unir as pessoas. Descobri isso quando passei a me interessar por fubebol e comprei uma camisa do fluminense. Quando uso tal veste sou mais cumprimentado na rua, pessoas puxam assunto, brincadeiras são feitas. A camisa é um sinal externo que o outro interpreta como o signo de uma confraria. O símbolo parece dizer: Eu o compreendo e me empolgo com as mesmas coisas que você.

Qualquer pessoa que possua um hobby menos popular que o futebol conhece a sensação quase mística de encontrar alguém que partilha o mesmo gosto. Poucas coisas são tão prazerosas quanto estar em companhia de outros que compartilham o mesmo interesse. Lembro com gosto das tardes jogando RPG com os amigos e dos papos sobre revistas em quadrinhos. Ah...também gosto muito de literatura e filosofia e papear com pessoas que se empolgam pelas mesmas questões não tem preço.

Uma tradução utilizada para hobby no Brasil é passatempo. Esta tradução se por um aspecto é boa, por outro passa uma falsa impressão. Realmente um hobby faz o tempo passar mais depressa. Isso acontece porque nele imergimos de tal maneira que deixamos de prestar atenção nos tique-taques e ponteiros. Por outro lado, a palavra passatempo pode dar a ideia de que um hobby é algo que fazemos quando não temos nada para fazer. Isso é falso. Penso, por exemplo, nos jogos de tabuleiro: para mim são excelentes para “matar” o tempo em um dia de chuva. Tenho um amigo, no entanto, que ama de paixão tais jogos e busca arrumar tempo para jogá-los. Eu busco passar o tempo, ele faz algo de uma qualidade totalmente diferente.

Um hobby, quando bem vivido, é algo que faz um bem enorme porque amplia os horizontes. Quando alguém fica gratuitamente atento a um ponto, o minúsculo se torna enorme e o aparentemente banal fica maravilhoso. Além disso, para muitas pessoas, as profissões começaram como hobbies e os grandes projetos como passatempos. Não foi a toa que C.S. Lewis disse que muitas das maiores coisas do mundo começaram como brincadeiras entre amigos.

Por outro lado um hobby, como tudo neste mundo, traz riscos. O grande risco do hobby é seu imperialismo. Como tal atividade é algo porque nos apaixonamos, temos a tendência de dar a ela um espaço maior do que o saudável. Parafraseando (e modificando um pouco) C.S. Lewis: quando um hobby se torna um Deus é porque se tornou um demônio.

Vez por outra encontro pessoas que se isolaram em seu mundinho e não se interessam por mais nada. Neste caso, o hobby, em vez de ampliar os horizontes confinou o olhar. Por mais extraordinário e amplo que possa ser um mundo microscópico, penso que muito perde quem escolhe viver apenas nele.

Pegando meu caso: como já disse várias vezes aqui no blog, amo histórias em quadrinhos. Leio literalmente milhares de páginas mensalmente e acompanho com gosto as aventuras dos mais diversos personagens. Penso, no entanto, que esse universo imaginário que tanto me alegra seria uma infindável fonte de tristeza se me impedisse de viver com gosto a vida no universo real que me cerca.

É comum um cônjuge ou namorado (a) ter ciúmes do hobby do outro por se sentir ameaçado. À guisa de exemplo, basta dizer que não são poucos os relatos de mulheres que reclamam da “pelada” de domingo de seus maridos. Algo parecido pode ser dito dos maridos acerca dos passatempos das esposas. Penso que tal situação se deva ao fato de que o gosto não é partilhado o que faz com que o mesmo se torne um concorrente. Se algum leitor vive uma situação de ciúmes deste tipo, cabe pensar na medida do próprio amor. Duas perguntas podem ajudar nesse exame de consciência: Será que o outro é amado e tem sua individualidade respeitada? Será que não há o desejo de reduzir o parceiro à minha vontade e meus gostos?

Cabe dizer no entanto que, em muitos casos, tal reclamação procede. Recentemente li com tristeza, a notícia de que o jogo de videogame FIFA 13 foi responsável por 12% dos divórcios no Reino Unido. Claro que o problema não foi o jogo, mas a relação estabelecida com o mesmo. Quando alguém valoriza mais um jogo (ou qualquer outra coisa, como tempo na internet ou as novelas) que a própria família há uma grave inversão de prioridades. E, como todos sabem, inverter prioridades causa sofrimentos.

Faz muito tempo que gostaria de tratar desse assunto, e com certeza voltarei a falar sobre hobbies aqui no blog mais cedo ou mais tarde. Algo que muito me motivou a escrever sobre isso agora foi um artigo do Chesterton (sempre ele) que li faz umas duas ou três semanas. Neste artigo, o obeso escritor inglês disse que durante muito tempo pensou em escrever um texto defendendo o uso de temperos. Este desejo tinha raiz na preocupação em combater certa visão moralista que só importava aquilo que era útil. Um tempero, como um hobby, é inútil. Só serve para dar sabor e contribui pouco na nutrição.

Este projeto foi deixado de lado porque Chesterton julgou ter chegado o tempo em que muitas pessoas deixavam de lado o bife para comer apenas o tempero. Cabia então a defesa do bife ( ou da alface, caso o leitor seja vegetariano). Cabia para Chesterton e cabe para nós. Comer apenas tempero além de ser ruim, é venenoso. Se a comida sem sabor é chata, o sabor sem a comida é suicida.

Se há conselhos que desejo dar neste texto, eles são os seguintes: Tenha hobbies, mas que sua vida seja maior que eles. Converse sobre seus passatempos, mas também sobre o mundo e seus mistérios. Não reduza sua capacidade de maravilhar-se. Um hobby é fantástico porque o universo e os seres humanos são fantásticos.

Termino fazendo uma breve oração: Meu Deus, que perceber o extraordinário de um ponto possa ser apenas o prelúdio do aumento da capacidade de enxergar o encantamento que o todo oferece. Assim seja, amém.

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Coordenador da Oficina de Valores

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