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#AvanteOficina

Por: Alessandro
Após receber a notícia da morte de mais de duas centenas de jovens em uma casa noturna de Santa Maria – RS, pensei em empreender uma reflexão sobre o que ocorreu, mas as palavras simplesmente não saíam. Ou melhor, até saíam, mas pareciam vazias. Tudo o que pensava em colocar no papel simplesmente parecia insensível ou até ofensivo. Acabei por insistir em virtude do tamanho da tragédia.

Há tragédias que nos calam e das quais, ao mesmo tempo, temos a necessidade de falar. As emissoras de televisão não param de trazer imagens e notícias sobre o ocorrido. Confesso que julgo de mau gosto muitas das matérias exibidas. Fico irritado quando vejo um repórter entrevistando um pai desesperado pela perda do filho. Apesar disso, entendo o sentimento daqueles que não conseguem desligar a TV.

Pais e mães, ao terem contato com esta tragédia, não apenas pensam que o mesmo poderia ocorrer com seus filhos, mas enxergam seus filhos naqueles jovens. Moças e rapazes, por sua vez, veem a si mesmos e seus colegas naqueles que “curtiam” o show. Penso que isso ocorra não apenas porque nestas horas pensamos: “poderia ser comigo” ou “poderia ser com alguém que amo”. Acredito que a dor pela morte destes jovens, que para a grande maioria de nós são desconhecidos, ocorra porque apesar dos pesares existem laços profundos, ainda que invisíveis, a unir todos nós.

No dia a dia, acabamos por viver uma fraternidade meio rala. O corre-corre da vida somado a outras circunstâncias e atitudes faz com que andemos como que alheios àqueles que nos cercam. Alheios não apenas a quem está longe, mas também àqueles que estão perto. A tragédia rompe a crosta de nossa indiferença e faz com que percebamos o outro como aquilo que ele de fato é: um irmão.

Com toda a certeza, a morte de tantos jovens em Santa Maria é o principal assunto do dia de hoje. Com certeza, além dos familiares e amigos próximos aos jovens, muitos outros derramam lágrimas e sentem o coração compungido. Esse sentimento, embora nobre, acaba por vezes tendo um efeito por demais superficial. Sempre que ocorre algo tão drástico lembro-me de uma cena do filme “Hotel Ruanda”. Em determinado momento do filme um cinegrafista dos Estados Unidos consegue filmar parte dos massacres que estavam ocorrendo. Ele chega ao hotel em que estava e envia as imagens para a rede de TV. O gerente do hotel diz:

- Agora que sabem o que está ocorrendo enviarão ajuda?

O repórter envergonhado responde:

- Infelizmente o que ocorrerá é que isto será mostrado em jornais. As pessoas assistirão e lamentarão. Logo depois voltarão a jantar como se nada houvesse acontecido.

Como disse acima, a tristeza pela tragédia brota quase que espontaneamente dos laços que nos tornam irmãos. Transformar essa tristeza em solidariedade, no entanto, não é algo automático. Sentir que sou irmão é algo que, por vezes, se me impõe. Agir como irmão é algo que devo escolher.

Gostaria muito de reverter as mortes dos jovens e permitir que cada um deles voltasse a buscar sonhos e metas grandiosas. Isso infelizmente está além do meu poder. E também do seu. Não podemos desfazer a tragédia. Podemos apenas buscar unir nossos corações àqueles que hoje tanto sofrem. Alguns que estão mais próximos poderão ofertar uma ajuda mais tangível. Penso, no entanto, que uma boa forma de honrar a memória das vítimas desta tragédia seja o esforço para evitar que outras desgraças, deste e outros tipos, ocorram.

Evitar tragédias está nas mãos de todos. Dos governos, da sociedade mobilizada e das diversas instituições. E também de nós indivíduos. Provavelmente os dramas nos quais podemos atuar sejam de natureza muito distinta, mas isso não deve nos eximir de assumir nossa responsabilidade.

Encerro o texto por aqui sentindo que já falei demais e que ainda falta algo a dizer. Encerro apenas dizendo que, em minhas orações, lembrarei dos que partiram e dos que foram feridos seja física, seja emocionalmente. Rezarei também por seus amigos e familiares. Por fim, rezarei por mim para que, ao contrário do que disse o repórter de Hotel Ruanda, eu seja verdadeiramente tocado pelo drama e pela dor de meus semelhantes.

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Fundador da Oficina de Valores

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