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Por: Alessandro

Tenho acompanhado a cobertura jornalística acerca da renúncia do Papa Bento XVI e parado para pensar um pouco no que tenho lido e ouvido. Algumas coisas chamaram minha atenção, sendo a primeira delas o interesse que o Papa e a Igreja despertam. Páginas e mais páginas tem sido escritas sobre o assunto; além disso,  acredito que existam poucos círculos de conversa que não tenham tido discussões, mais ou menos inflamadas, sobre o papado.

Entendo que a Igreja Católica é uma instituição presente em todo o mundo e que a renúncia do Papa é um fato histórico. Isso, no entanto, não parece explicar toda a atenção gerada. Acompanhando as notícias e comentários em redes sociais desde o anúncio feito por Bento XVI, percebo que a maior parte das matérias gira em torno de supostos motivos ocultos que o teriam levado a renunciar. O fato de um senhor de 85 anos julgar não ter condições de guiar a maior instituição do planeta não parece ser uma resposta suficiente.

Conspirações no interior do Vaticano. Cardeais Corruptos. Traição eclesiástica. Tudo isso parece tornar a coisa mais interessante para quem comenta. Vejo pessoas que não vão a missa faz vários anos, e outras que provavelmente não sabem recitar o Pai Nosso, tornarem-se especialistas em questões religiosas da noite para o dia. Por vezes, ao ler certos comentários que generalizam erros individuais, parece que estou ouvindo uma torcida desejando que a Igreja seja podre.

Notem que não estou negando que existam erros graves cometidos por membros da Igreja. Não estou dizendo que tais erros não devam ser expostos e condenados. Chamo apenas a atenção para a falta de objetividade de alguns comentários. Parece que há prazer em dizer que um bispo é guiado por motivos escusos e em apontar supostos erros graves de cardeais até então desconhecidos.

Pensando bastante sobre essa postura cheguei a uma conclusão que, provavelmente, é polêmica, mas que não me sai da cabeça. Penso que o desejo de desmascarar a Igreja e expor seus podres está relacionado a uma espécie de critério comparativo autojustificador. A Igreja Católica é uma instituição que prega valores muito firmes e exigentes. Amor ao próximo e desapego são apenas alguns deles. Embora o discurso da Igreja não seja condenatório e tenha a compaixão como elemento essencial, penso que muitos se sintam intimamente criticados e condenados por tal pregação. Tal situação gera um ressentimento que, vez por outra, explode. Penso que isto esteja acontecendo agora. Falar sobre a hipocrisia eclesiástica acaba por ser um jeito de dizer: eles não são melhores que eu. São até piores. Embora isso possa ser verdade em muitos casos, o problema é que esta postura pode fazer com que seja justificado o mal presente naquele que critica.

É claro que o mistério da iniquidade presente na Igreja me incomoda. Fico triste e mesmo irado. Tento, no entanto, manter a objetividade. Não tenho a necessidade de defender a postura de todo e qualquer católico, afinal isso não afeta em nada minha adesão à proposta que tanto me encantou. Aprendi, nesta mesma Igreja tão criticada, que a verdade é algo valioso e que, mais cedo ou mais tarde, tudo que é escondido acaba por ser revelado. Aprendi também que uma pessoa é inocente até prova em contrário e que isto vale para todos os homens e instituições. Por fim, aprendi que não é porque algo é falado repetidas vezes que se torna verdadeiro.

Observo também que certas pessoas não percebem que criticam o cristianismo com valores que o próprio cristianismo ventilou. Pobreza, castidade, humildade são valores bem diferentes daqueles pregados no mundo helênico e romano onde a fé cristã surgiu. Criticam o cristianismo por não ser suficientemente cristão ao mesmo tempo em que acusam aqueles que buscam ser fiéis a fé que receberam de serem apegados a preconceitos e fechados à mudança. Creio não ser difícil notar a cruel contradição de tal postura.

O segundo ponto que chamou minha atenção na cobertura midiática sobre o atual momento da Igreja é a grande ignorância religiosa que permeia nossa sociedade. Mesmo pessoas inteligentes falam disparates. Um famoso jornal paulista, em seu site, deu a seguinte definição de Magistério: conjunto de normas que os católicos devem seguir. Não é necessário ser teólogo para saber que quem escreveu a matéria não sabia do que estava falando. Se por um lado me incomodou a falta de cuidado do profissional, por outro entendi um pouco seu deslize. Ele falava sobre algo que julgava conhecer, mas que na verdade não tem muita noção do que seja realmente.

O cristianismo é algo que permeia nossa cultura, por isso gera em muitos a ilusão de familiaridade. É como um velho móvel que contém os grandes clássicos da literatura e que fica na casa de nossos avós. Vemos o móvel com frequência, olhamos as capas dos livros, até decoramos a sequência em que estão arrumados. Tudo isso, no entanto não faz com que conheçamos as grandes aventuras que aquelas páginas trazem.

Julgo que erram, por exemplo, aqueles que julgam a renúncia do atual Papa e a eleição do próximo um assunto apenas político. Julgo que erram não porque não haja política envolvida, mas porque todos os outros fatores são desconsiderados.

Quando vejo o Papa Bento sendo taxado de retrógrado e inimigo do progresso sempre me pergunto: será que ninguém pensa que esse homem realmente acredita no que fala? Que ele pode não ter interesses escusos? Que não está tentando atrapalhar o avanço da humanidade, mas simplesmente expressa aquilo que aprendeu como bom, justo e verdadeiro? Quantos livros ou artigos escritos por ele, aqueles que o condenam leram por completo? Parece-me, por vezes, que há mais rapidez em condenar que esforço por conhecer.

Diante de toda essa cobertura midiática injusta, nutro uma esperança. Talvez a superexposição da estante desperte em alguns o interesse em abrir os livros que ela contém. Talvez as diversas críticas negativas, façam com que alguns queiram conferir com os próprios olhos os livros que por tanto tempo deixaram empoeirados. Talvez muitos sintam a necessidade de recorrer a estes livros para buscar confirmações para suas acusações. Que os livros sejam abertos! Como leitor assíduo posso dizer que suas páginas são surpreendentes.


Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Fundador da Oficina de Valores  



Este texto é parte de uma série de textos que publicamos ao longo da última semana do pontificado de Bento XVI. Para acessar todos os textos desta série especial basta acessar a tag Especial Papa Bento XVI clicando aqui

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