Por: Alessandro
Estive em um retiro nos últimos dias e, por isso, longe da
internet. Fiquei sabendo da renúncia do Bento XVI e li a carta na qual ela foi
declarada. Conversei apenas com amigos que estavam no retiro e não acompanhei
as notícias. Agora, de volta à minha casa, parei para ler um pouco daquilo que
os meios de comunicação divulgaram. Li algumas reportagens interessantes e
algumas nem tanto. Parei então para escrever algumas palavras que contenham um pouco
da minha visão sobre este Papa.
Acredito que todos os que me são íntimos saibam o quanto eu
admiro o papa Bento XVI, ou mais propriamente o grande homem Joseph Ratzinger.
Não sou teólogo, mas amo ler seus livros. Li também todas as suas encíclicas e
gosto de me inteirar sobre suas declarações.
O pensamento de Bento XVI me encanta. Suas atitudes me
comovem. Acredito que poucas vezes na história tivemos um Papa tão capaz de
dialogar. Seu lema "colaborador da verdade" diz muito sobre ele. Não
se julga dono dela, mas não nega sua existência. Consegue observar
posicionamentos de pessoas das quais discorda e enxergar pontos positivos. Não
tem medo de discordar e sabe que o relativismo é a maior das ditaduras.
Joseph Ratzinger é um homem de grande honestidade
intelectual. Confio na sinceridade de suas palavras. Faço isso porque sempre
que o vi abordando questões difíceis percebi grande humildade e sensibilidade.
Admiro pessoas que sabem dizer “não sei”.
Este Papa fez isso algumas vezes. No momento me recordo de duas. Uma
diante de uma questão sobre a crise da educação religiosa em escolas e outra
quando questionado por uma criança japonesa acerca do motivo do sofrimento de
seu povo após um terremoto.
Embora o tenha visto apenas uma vez, no Pacaembu e ao lado
de outros 40 mil jovens, sentirei saudades de Bento XVI. Saudades de um Papa
que é com certeza um dos maiores intelectuais vivos hoje. Saudades de alguém
que nunca se prendeu a rótulos. Não foi nem progressista, nem conservador. Para ele
basta ser cristão.
Joseph Ratzinger nunca foi carreirista. Quando leio sua
biografia percebo um homem que de certa maneira não fez sua própria vontade.
Queria ser professor e foi nomeado bispo. Queria ser teólogo e foi nomeado
presidente da Congregação para Doutrina da Fé. Amava sua Alemanha e foi viver
na Itália. Queria voltar para sua querida Baviera e foi nomeado Papa. Atitudes assim são
típicas daqueles que se veem como servos de algo maior que suas vidas; de
alguém que encontrou um Outro que lhe conduz os passos. Não sei como será a
vida de Bento XVI daqui para frente, mas de coração desejo que ele tenha tempo
para dedicar-se à leitura e à oração, sonho que nutre há tempos e do qual abriu
mão por diversas vezes para trabalhar na vinha do Senhor.
Sei que quando se fala no Papa há uma grande dose de cinismo
por parte de certos grupos. Parece que muitos creem num dogma não proclamado
sobre o papado: o da falibilidade total. O Papa é visto como um vilão e está
errado até prova em contrário. Como católico não nego que houve algumas páginas
ruins na história dos Papas, mas ao mesmo tempo celebro o fato de estar vivo em
um século onde grandes páginas poéticas foram incorporadas a essa mesma história.
Sinto tristeza quando vejo que o preconceito impede a tantos
de aproveitar aquilo que uma pessoa como o atual Papa oferece. Ele, por
diversas vezes, recebeu acusações que são literalmente inversas às suas
atitudes. Foi chamado de intolerante, mas foi ele quem fez questão de dar
palavra aos agnósticos em um encontro internacional entre religiões. Tido como
um ditador de opiniões conclamou a Igreja a organizar um pátio dos gentios,
espaço onde o diálogo com homens das mais diversas posturas pode ocorrer. Tido
como insensível chorou pelos abusos com crianças. Fez questão de encontrar as
vítimas. Em nenhum momento poupou a Igreja das críticas necessárias e sempre
presou mais a verdade que os aplausos.
O mundo ganhou muito com os diversos sins de Bento XVI. Eu ganhei muito com os sins desse homem.
Vibrei quando foi escolhido sucessor de Pedro. Como já mencionei sempre confiei
em seus juízos. Hoje confio também quando ele diz que não tem mais uma saúde
condizente com o desempenho de suas funções. Confio, mas não deixo de sentir
saudades.
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Fundador da Oficina de Valores
Segue abaixo um breve vídeo que traduz um pouco meus sentimentos. O longo aplauso ocorreu durante a missa da última quarta-feira de cinzas.
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