Por: Marcos Levi
Paço Imperial, entre nobres e
clérigos, Isabel se destaca. Uma multidão aguarda ansiosa do lado de fora, e às
três da tarde, está assinada a Lei Áurea.
Da sacada é anunciado o fim da escravidão no Brasil, a multidão se rompe
em felicidade!
Lentamente os últimos tijolos
estão sendo arrancados da senzala da antiga fazenda. Não havia mais escravos na
fazenda, pois o dono, aos poucos, foi concedendo a alforria aos seus.
Isidoro, ao dar o último passo
para fora das ruínas da senzala, comenta com o idoso fazendeiro:
-Lembro-me do que Frei Francisco
disse na missa domingo passado! Que logo ao nosso modo iríamos comemorar nossa
Páscoa como os antigos hebreus. Bem, verdade que não entendia o que ele queria
dizer. Hoje eu sei, ele quis dizer que nós seriamos livres, todos nós! É isso
que significa a Páscoa, e é assim que me sinto hoje, um homem LIVRE!
Aquele antigo dono de escravos
então diz:
-O Frei tinha razão, a festa da
Páscoa já era celebrada pelos hebreus, eles festejavam a libertação do Egito,
um momento único na vida deles; o povo de Israel que era cativo, assim como
você era, foi liberto. Deus os tirou da escravidão, os fez passar - a pés
enxutos - através do Mar Vermelho e nesse percurso fez uma aliança duradora com
este povo e só assim eles alcançaram a Terra Prometida!
E Isidoro completou:
-Jesus Cristo deu outro sentido para
a Páscoa não é verdade?! Ele nos libertou do pecado e da morte eterna. Através
da sua morte e Ressureição está presente no meio de nós até hoje.
-Percebo, meu caro e livre
Isidoro, que você estava atento as palavras de Frei Francisco! Essa festa
comemoramos desde pelo menos o século II em Roma. Sinto saudade da minha Terra,
sinto saudade da minha Itália. O Imperador Constantino convocou a cristandade
para que se reunisse em Nicéia no ano de 325 em um Concílio para que estes homens
reunidos ali resolvessem quando os cristãos deveriam comemorar a Páscoa e, mais
tarde, após a Reforma Gregoriana no século XVI, ficou definitivamente decidido
para os cristãos latinos o momento em que comemoramos a Páscoa.
Sorrindo, Isidoro comenta:
- É meu senhor, disso eu não
lembrava. Espero de verdade que todos meus irmãos possam viver uma Páscoa feliz
e que eles consigam perceber que o que Cristo fez por mim é exatamente o mesmo
que fez pelo senhor, que todos somos iguais e que fomos remidos pelo mesmo
sangue!
O velho dono da fazenda, sorrindo,
caminha em direção à Casa Grande. Isidoro caminha ao seu lado. Ambos em um papo
cordial e livre!
Este texto faz parte de uma série especial de textos da semana santa deste ano de 2013. Para acessar aos outros textos da série clique aqui.
Marcos Levi
Historiador - Oficina de Valores
0 comments:
Postar um comentário