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Por: Alessandro



Ontem começou a Semana Santa. Para os católicos esta semana é a mais importante do ano, afinal nela celebram o núcleo de sua fé.  Como o Brasil é o “maior país católico do mundo”, não é de se estranhar que a próxima sexta seja um feriado. Desde o domingo de Ramos é possível perceber o clima de celebração: milhões de pessoas participam de procissões, as Igrejas ficam lotadas, a venda de carne diminui e a de peixe aumenta.

Apesar disso tudo,
não é incorreto dizer que para grande maioria dos brasileiros, muitos deles católicos declarados, as celebrações dessa semana não são significativas e a Semana Santa é apenas um esperado feriado prolongado. Já disse muitas vezes e reafirmo agora: o cristianismo é algo que todos julgam conhecer, mas que muito poucos sabem do que se trata.

Neste texto não vou explicar as celebrações da Semana Santa. Desejo apenas refletir sobre os elementos que tais celebrações buscam atualizar. Penso que muito do que será dito possa ser interessante mesmo para aqueles que não professam o cristianismo, afinal os pontos comentados fazem parte de uma proposta bimilenar que teima em não desaparecer e que marca profundamente a nossa cultura.

Chesterton certa vez disse que o cristianismo não pode ser considerado como uma última observação banal após uma longa conversa. Por estarmos imersos em uma cultura tão marcada pelo catolicismo talvez a sensação de banalidade em relação à fé cristã seja nossa postura cotidiana. Ela não nos incomoda, não é exótica, parece não trazer nenhuma novidade.

Apesar dessa letargia, o cristianismo pode ser tudo, exceto banal. Durante toda a história,  gerou reações apaixonadas, sejam elas de ódio, sejam de devoção. Penso que uma das melhores colocações acerca das reações cristianismo vem de São Paulo, quando o mesmo diz que, para alguns, a fé cristã é loucura, para outros é escândalo.

 A fé cristã fala de um Deus que assumiu a natureza humana por amor ao ser humano. De um Deus que, mesmo quando o homem se afastou, quis se fazer próximo. De um Deus que se fez homem. Na Semana Santa relembramos a reação da humanidade a este fato.  Segundo a história, em sua louca tentativa de aproximação, Deus foi mais uma vez negado. Violentamente negado. Mas esse mesmo Deus envolveu essa violência com amor e, na ressurreição, arranjou uma forma de insistir ficar ainda mais próximo.

O escândalo cristão consiste no fato de que em Deus o poder coincide com o amor e que seu modo de agir é sempre aquele no qual o amor é mais expresso. Ao revelar seu caráter em Jesus Cristo, Deus quis nos ensinar que, mesmo para nós, o amor é o maior poder. Poucas coisas são tão difíceis de acreditar... Basta olhar ao redor para sentir que o mundo desmente essa divina afirmação. O ódio, a cobiça e o egoísmo parecem dispor de forças muito maiores. Mesmo os bem-intencionados parecem crer que os fins justificam os meios e que a violência,  por diversas vezes,  é o melhor, se não o único, caminho para a  justiça.

Um texto do Evangelho que foi lido na celebração do Domingo de Ramos aborda muito bem essa questão. A passagem a que me refiro trata do momento em que Jesus Cristo é apresentado ao povo e sobre este povo é colocada a opção entre Ele e o salteador Barrabás. Um dos dois poderia ser liberto aquela manhã em virtude de um indulto oferecido pelo governador por causa da Páscoa dos judeus. Não é segredo para ninguém que a escolha recaiu sobre o Barrabás.

A opção feita não foi meramente entre duas pessoas, mas entre dois projetos. O Papa Bento XVI, em seu livro Jesus de Nazaré fez uma reflexão muito profunda sobre tal assunto. Neste momento do texto, não consigo deixar de ceder a palavra: 

“Barrabás (no original, Barabba, “filho do pai”) é uma espécie de figura messiânica; na proposta da anistia pascal duas intepretações da esperança messiânica aparecem frente a frente. Segundo a lei romana, trata-se de dois criminosos acusados do mesmo delito: sediciosos contra a pax romana. É claro que Pilatos prefere o “exaltado” não violento, como aparecia Jesus aos seus olhos. Mas as categorias da multidão e também das autoridades do templo são diferentes. Se a aristocracia do templo, no máximo, chega a dizer: “Não temos um rei a não ser César!”, isso só aparentemente é que constitui uma renúncia à esperança messiânica de Israel: este rei, nós não o queremos. Desejam outro gênero de solução para ao problema. A humanidade se encontrará sempre de novo perante a mesma alternativa: dizer “sim” àquele Deus que age apenas com o poder da verdade e do amor ou apoiar-se no concreto, naquilo que está ao alcance da mão, na violência”.

O cristianismo trouxe ao mundo a centralidade do amor. Nunca antes na história, este havia recebido tanto destaque. Hoje o discurso de que o amor é necessário à salvação do mundo é praticamente um clichê. Apesar de tudo, penso que o amor como projeto para a vida e para a sociedade continua tão fora de moda quanto a dois mil anos. Muitos dizem que toda essa conversa sobre o amor não passa de uma postura romântica, outros afirmam que até é uma proposta bonita, mas não é prática. Barrabás parece continuar com a popularidade alta.

Quando Cristo diz que o amor e a verdade são os maiores poderes e traduz isso em sua vida até as últimas consequências, está dizendo que a história tem dois níveis. Em um nível superficial parece que a violência e a mentira são invencíveis, mas há outras dimensões que não podem ser negadas. O Nazareno morto ressuscitou, um punhado de seus discípulos venceu o Império Romano, a semente plantada há dois mil anos ainda germina,  em culturas marcadas pelo cristianismo  surgiram as noções de direitos humanos e igualdade entre todos.

Há uma força estranha no cristianismo. Por mais paradoxal que pareça, Deus, que é todo poderoso,  tem um gosto por revelar-se no insignificante. Mais uma vez cito as palavras de Joseph Ratzinger: 

“Aí está a Terra, um nada no cosmos, escolhida por ele para ser o cenário de sua ação. Aí está Israel, um nada entre as potências, escolhido por ele para ser o cenário de sua aparição no mundo. Aí está Nazaré, outro nada dentro de Israel, escolhido para ser o lugar de sua vinda definitiva. E, finalmente, está aí a cruz em que pende um homem, uma existência fracassada, e é justamente nele que podemos tocar Deus até fisicamente. E aí está também a Igreja, a figura discutível de nossa história, que afirma de si mesma ser o lugar permanente de sua revelação.”

O amor é discreto e não age por imposição. A força do amor vem de sua resistência e de sua recusa da morte. Mesmo quando negado ele permanece aberto a quem o negou... Mesmo quando jogado em um sepulcro recusa-se a ficar lá porque sabe que é necessário para aquele que o matou. O amor não busca os próprios interesses e parece não ligar muito para o próprio status. Parece não temer a pequenez e o sofrimento. É tão radical na sua fidelidade que cruza todos os limites.

Diante de todo esse divino absurdo, não há como não pensar em escândalo e loucura. Também fica impossível não dar graças aos céus porque Deus não age segundo cálculos egoístas.

Uma boa Semana Santa a todos.

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Fundador da Oficina de Valores  

Este texto faz parte de uma série especial de textos da semana santa deste ano de 2013. Para acessar aos outros textos da série clique aqui.

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