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#AvanteOficina

Por: Alessandro
Imagem de: talvezpravocetambem.blogspot.com



Vez por outra, um aluno aproxima-se pedindo indicações de livros. Lembro que há poucos dias, uma dupla de estudantes me procurou dizendo o seguinte: “Professor, o senhor pode fazer uma lista de livros para nós? Não livros para a matéria não, mas de literatura para nós lermos.” Confesso que, nesses momentos, abro um sorriso de orelha a orelha de tanta felicidade.

Indicações de leitura só são pedidas quando  certa identificação ocorreu e um laço de confiança se formou. Não que haja uma concordância de ideias, mas, quando algo assim acontece, há o reconhecimento do outro como alguém com quem vale a pena conversar. Quando um aluno solicita uma dica sobre o que ler, penso que meu papel de professor foi cumprido e o desejo pelo saber foi gerado. Além disso, ao me pedir um livro, por mais que não pareça, uma relação de igualdade está sendo estabelecida. O discípulo está se tornando
parceiro de diálogo na medida em que, paulatinamente, vai conhecendo minhas fontes e posicionando-se de forma própria perante elas.

Há também outro motivo pelo qual fico feliz diante da situação que descrevi acima: amo ler e julgo que poucas coisas têm tanta capacidade de alegrar quanto compartilhar os hábitos que despertam nosso amor. Sou daqueles que já passaram vergonha por tentarem ver a capa do livro que um desconhecido está lendo no ônibus. A meu ver, a leitura é um dos grandes privilégios da vida humana. E digo isso sem medo de estar exagerando.

Clichês sobre o hábito de leitura são mais do que comuns. Quem nunca ouviu o famoso “quem lê viaja” ou outros bordões do tipo? Os clichês são um via de mão dupla. Com o tempo enjoam e correm o risco de esconder aquilo que buscavam revelar. Apesar disso, dificilmente um clichê não guarda uma verdade. A leitura realmente amplia o mundo e oferece camadas diferentes ao cotidiano.

Os livros cristalizam as palavras e, por isso,  ampliam a possibilidade de conversa. Através das letras em uma página (ou uma tela) posso ter mestres geniais como Aristóteles, engraçadíssimos como Chesterton e Guareschi,  sensíveis como Fernando Pessoa .  Além disso,  posso “ouvir” contadores de histórias como Machado de Assis ou Tolkien. O livro é um instrumento humano que busca vencer o tempo e o espaço a fim de permitir que grandes palavras não se percam com o vento.

Pelo que ouvi dizer, no Brasil mais pessoas estão lendo. Não sou ingênuo a ponto de dizer que isto irá mudar radicalmente o Brasil, mas afirmo que esta já é uma feliz mudança. É bom que mais pessoas leiam e é bom por diversos motivos. Primeiro porque a leitura tem a estranha capacidade de nos ajudar a pensar. Claro que a relação não é mecânica. Ninguém é mais aberto ao conhecimento simplesmente porque lê mais; no entanto, o contato com a reflexão de outros levanta questões, gera incômodos, provoca inquietações; ao mesmo tempo,  conforta saber que outras pessoas fizeram perguntas parecidas com as que fazemos hoje e que suas respostas iluminam nossos caminhos.

Além de nos transmitir saber, os livros tocam nosso sentir. Lembro até hoje a sensação mista de alegria e saudade que experimentei ao fim de “O Senhor dos Anéis”,  da vibração vivenciada no princípio da adolescência quando li “As Aventuras de Robin Hood, do engasgo seco e da solidão que vieram do contato com “A Metamorfose” do  Kafka e com “A Morte de Ivan Ilitch” de Tolstoi.

Apesar de mais pessoas estarem com livros nas mãos e nos olhos, vejo dois preconceitos que ainda atrapalham bastante. O primeiro é o de que ler é chato. O segundo diz que a leitura é algo que deve ser reservado para uma espécie de elite. Preconceitos possuem grande força, mas caem quando confrontados com a realidade.

Ler não é chato, embora alguns livros, com certeza, o sejam. É claro que o investimento de tempo e atenção feitos em um livro normalmente são maiores que os que dispensamos a um programa de TV; cabe não esquecer que a recompensa usualmente também é superior. Também é importante lembrar que o elemento gosto sempre estará presente: algumas pessoas  amam biografias, outras não suportam. Alguns se emocionam com épicos de fantasia, outros têm preferência por enfoques mais realistas. Há aqueles que preferem usufruir de informações, outros de ficções. Existem também os que gostam de tudo...Os livros não são fins, são meios. Não são nem mesmo os tesouros, mas os baús onde são encontrados ou as minas de onde são escavados.

Poderia tentar mapear onde na história surgiu esta ideia de que livros são para poucos. Não vou fazer isso. Contento-me apenas em dizer que em certo momento essa realmente foi a realidade. Seja porque os livros custavam verdadeiras fortunas, seja porque a maior parte da população era analfabeta. Não digo que vivamos no melhor dos mundos possíveis, mas é importante reconhecer  melhoras nos dois âmbitos mencionados. Mesmo com todo o analfabetismo funcional, o ensino abrange parcelas cada vez maiores da população; ainda que existam livros com preço um tanto quanto salgado, obras bem interessantes podem ser compradas por dez reais.

Sei que a questão da resistência à leitura é tanto cultural quanto econômica. Sei também que há mudanças significativas e positivas. Mudanças, no entanto, ocorrem de maneira mais rápida quando há compromisso por parte dos que as desejam. Penso que algumas pequenas  atitudes podem contribuir bastante. Como exemplo cito as seguintes: 1 – Buscar, na medida do possível, gastar mais tempo com a leitura. 2 – Dar livros de presente ou, aos menos, boas indicações.   3 – Buscar falar com naturalidade daquilo que se leu, tal como se fala de um jogo de futebol. Não se trata de ser chato ou esnobe, mas de comunicar boas experiências que fizemos. Como é triste ver que há pessoas que têm vergonha de serem leitores.

Em diversos momentos da história,  livros foram queimados. Hoje felizmente isso não tem sido tão usual. Deixá-los fechados, no entanto possui um efeito bastante parecido. Embora não  destrua o objeto, mata o efeito. Enfeites podem ser bonitos, mas dificilmente são transformadores. Que os livros sejam abertos, que eles sejam lidos. Que vozes distantes de nós possam, através das letras, sussurrar e gritar em nossos ouvidos. Tais vozes com toda certeza carregam um forte poder de mudança, seja para nós, seja para o mundo.

Alessandro Garcia
Douturando em Sociologia / Fundador da Oficina de Valores

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