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#AvanteOficina

Por: Fernando

Sempre que penso no problema das drogas, já partindo do princípio que todas são um problema, não consigo deixar de pensar de forma ampla, ainda que superficialmente, no assunto.. Nunca consigo afunilar essa questão para um único ponto e fazer desse único ponto uma base sólida para formular uma opinião. Não entendo essa questão do ponto de vista histórico, sociológico, teológico, psicológico...

De outro modo, também nunca convivi de perto por muito tempo com alguma pessoa que usasse drogas para saber o que aconteceu com ela ao final de muitos anos fumando, cheirando, inalando, tomando, injetando, para eu ter então uma opinião mais precisa. Na verdade, o tempo curtíssimo que eu conheci alguma dessas pessoas, quando elas não morreram, direta ou indiretamente por causa das drogas, elas acabaram tendo que se internar, ou estão precisando ser internadas imediatamente. Mas não vivi isso junto a nenhuma delas ou as suas famílias. Não sei de suas dores e angústias e nem sei por que elas começaram a usar drogas. Então eu só posso falar sobre isso sob uma perspectiva mais ampla, mais generalizada, ainda que corra o risco de parecer superficial.

Com olhar mais amplo, é fácil notar que as drogas são os placebos de uma civilização que está doente. Portanto, as drogas são um problema de todos nós. A geração dos mais jovens (entre os quais eu ainda posso me incluir) foi insistentemente taxada pela geração anterior como juventude perdida. Ao mesmo tempo, foi jogada nas costas de uma geração mais jovem a responsabilidade de um mundo e um futuro melhor.

Como assim? A geração perdida é, ao mesmo tempo, a geração do futuro? Projetamos uma geração num futuro apocalíptico: com mais desemprego, possibilidade de guerras, fome, problemas ambientais... Essa esquizofrenia de expectativas provocou expectativas incoerentes, desejos de curtíssimo prazo e, na ânsia de aliviar as angústias de uma vida que perdeu o sentido, muitos encontram nas drogas um meio de se entorpecer. Por isso são, obviamente, entorpecentes.

No entanto, tentar analisar o problema das drogas na nossa sociedade do ponto de vista da análise de gerações é trabalho que não cabe em um texto e eu não tenho condições de fazê-lo. Contudo, cabe explicar o que entendo por civilização doente, e porque as drogas são, para essa doença, um placebo. Talvez aí eu possa me aproximar um pouco do amigo ou da amiga, que não veem lá muitos problemas em fumar sua maconha para relaxar, ou cheirar pó para ficarem na pista a noite toda motivados.

Podemos resumir o nosso tempo como o tempo das medicações? Podemos! Para todas as dores, dificuldades e limitações, inventaram algum remédio. E para todas as nossas dores, dificuldades e limitações, nós queremos algum remédio. Estão no mesmo passo demanda e oferta. Claro que não estou aqui a dizer que os remédios são ruins, não é esse o caso. Mas devemos esclarecer uma coisa que parece óbvia e, como todas as coisas óbvias, passam a ser despercebidas: nós não queremos sofrer!

Nós evitamos, de todas as maneiras, todos os tipos de sofrimento. E é aí que todos os laboratórios farmacêuticos fazem sua fortuna! Não é também uma coisa óbvia, a passar despercebida, o fato de que tantos remédios produzidos denunciam uma sociedade doente? Não seria um grande problema se boa parte das doenças não se originasse nos problemas emocionais fazendo com que nós não só queiramos evitar o sofrimento das dores de um corte, o que realmente deve ser feito, como também queiramos anestesiar as dores da nossa alma e, se tivessem inventado, tomaríamos sem pestanejar, um anestésico para a tristeza, ou uma pílula cor maravilha da felicidade.

Pois olha só que coisa complicada: parece que inventaram esse anestésico! Ele pode ser ingerido, carburado, inalado, bebido... Enfim, todos causando efeitos diferentes, para uma mesma finalidade: fazer a gente se sentir feliz, menos triste, menos angustiado, menos preocupado, mais relaxado, mais autoconfiante... Bom demais para ser verdade? É porque não é verdade mesmo!

Se todo remédio é produzido por causa de um problema ou uma doença, assim também acontece com as drogas. Por causa de um problema, uma doença, se fuma, cheira, bebe... E é impressionante como existem similaridades nesses problemas: na verdade, se parassem para falar e ouvir seus problemas, quem necessita de drogas para se sentir feliz ficaria impressionado com o quanto a sua vida e a vida de outro colega que também usa drogas são parecidas: começam quase sempre pelos mesmos motivos e terminam (quando nada é feito) quase sempre da mesma maneira.

Não é à toa que amizades fundamentadas no uso das drogas possuem um certo tipo de trato e de cumplicidade velada, quase como um pacto: todos nós nos entendemos e o mundo é que não nos entende. E então se forma uma espécie de entendimento entre colegas que usam drogas, como uma rede de apoio solidário e de ajuda mútua. Muitas pessoas não conseguem largar a droga, porque já formaram um círculo de amizades que não conseguem romper. Mas esse círculo é muito frágil! Anestesiados das nossas próprias dores, ficamos anestesiados também das dores dos outros. 

Por exemplo, a maconha que começa a ser usada para descontrair num momento de diversão entre amigos, passa a ser usada para conseguir dormir, conseguir suportar o emprego, sentir fome, aliviar o estresse, suportar os pais dentro de casa, achar graça nos amigos, enfim... Para poder suportar-se!

Em um nível mais profundo, o desinteresse atinge todas as esferas da vida, se transforma numa incompreensão do mundo, do outro e de si mesmo. Boa parte dos amigos que usam drogas se sente sozinho, como se ninguém mais se importasse com suas vidas, porque eles mesmos não se importam muito com a vida de ninguém. E o pior é quando começam a agir como se nada realmente fosse importante e aí começa uma espiral de autodestruição, abrindo caminho para a entrada das drogas mais fortes.

Não estou falando nada que seja novidade! Também não é novidade no que essa espiral vai dar... Aquela droga que trazia euforia, satisfação, boas risadas e até certa dose de felicidade, acaba provocando, e fazendo voltar com muito mais força, a doença da qual tudo se originou: solidão. Surge um abismo enorme entre quem já usa drogas e o restante do mundo: esse se torna chato, repetitivo, desmotivador e não há nada nele que se admire por muito tempo.

Uma ressalva: deve ser lamentado sempre que muitas pessoas que se entregam às drogas são supersensíveis e têm muita possibilidade de se destacar nas mais diferentes áreas. São questionadoras, sentem vontade de transgredir. Mas confundem essa transgressão com negação e rompimento. Para essas pessoas, as drogas representam algum símbolo associado à liberdade. Bom, quando a pessoa não consegue mais voltar atrás, no lugar da liberdade, a prisão, no lugar da transgressão e do rompimento, o desespero...

E aí concluo a afirmação inicial de que as drogas são placebos de uma civilização doente!

Contudo, gostaria de pedir desculpas pelo tom pessimista... Diagnosticar uma doença sempre traz uma certa tristeza... Mas se você descobre que a doença tem tratamento e cura, então a tristeza diminui um pouco e, quando curado, você realmente começa a se sentir bem novamente! Tão óbvio que nem se percebe...

Fernando Duarte
Professor de História / Oficina de Valores

4 comments:

Anônimo disse...

O uso de drogas é intrínseco a sociedade humana, desde que se tem registro de atividade humana, se tem o registro do uso delas. Os índios usam alucinógenos por motivos bem diversos do que você aponta no texto, e hoje em dia muitas pessoas também. O problema é como as pessoas consomem as drogas, qual espectativa é colocada nelas. Essa visão do texto é uma visão realmente bem generalizada do usuário de droga da adolecência que se perde no vício, mas essa não é a regra. Enxerga-la dessa forma na verdade é a base para que muitas pessoas acabam a usando! simplismente por ser um tabu, e muitas vezes são essas mesmas pessoas que acabaram por lidar muito mal com elas. Vocês se impressionariam a quantidade de médicos, advogados, políticos, professores e todo tipo de pessoa que usam drogas... alias... porque quando se usa essa palavra "droga" se fala da maconha mas não se fala de anti-depressivos ? Sendo que ela é algo bem mais inofensivo... Bem mais inofensivo até que o álcool. O caminho da repressão aos usuários só os joga mais a margem da sociedade.
Enfim... joguei várias ideias... Reflitam.

Alessandro Garcia disse...

Olá caro anônimo,
Obrigado pelo comentário. Seja sempre bem vindo aqui ao blog
Acho que você foi injusto como o texto do Fernando. Não percebi essa generalização em torno da adolescência que você fala...Penso que os argumentos colocados aplicam-se a advogados, políticos, pessoas de qualquer profissão e idade. Além disso, a menção à maconha, como um leitura atenta do texto, mostra foi apenas em nível de exemplo. As outras como você mencionou também são drogas. Para terminar, não vi nenhum menção à repressão aos usuários de drogas no texto..
Suas "ideias jogadas", no entanto trouxeram alguns contrapontos...Será bem bacana ver um debate desenvolver-se aqui nos comentários
Abraço,

Fernando Duarte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando Duarte disse...
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