"Milton Ericksson é autor de uma nova terapia que começa a
ganhar milhares de adeptos nos EUA. Aos doze anos de idade, foi vítima da
poliomielite. Dez meses depois de contrair a doença, escutou um médico dizer a
seus pais:
- Seu filho não passa desta noite.
Ericksson, logo em seguida, ouviu o choro de sua mãe. Quem
sabe, se eu passar desta noite, ela talvez não sofra tanto? –pensou.
E decidiu não dormir até o dia amanhecer. De manhã gritou
para a mãe:
- Ei, continuo vivo!
A alegria em casa foi tanta que, a partir daí, resolveu
sempre resistir mais um dia, para adiar o sofrimento dos pais. Morreu aos 75
anos, em 1990, deixando uma série de livros importantes sobre a enorme
capacidade que o homem possui para vencer suas próprias limitações’’.
E um dos lugares em que me deparei como nunca com as minhas
próprias limitações foi fazendo o retiro de estudantes da Oficina de Valores. É
engraçado como em apenas três dias se descobre tanta coisa sobre si mesmo. E
então, a voz do meu ‘’médico’’ falava na minha cabeça:
- Você não passa dessa noite.
E eu comecei a acreditar. Só que, por incrível que pareça,
passei da primeira e da segunda noites e continuei viva. Falar de limitação não é uma coisa fácil
porque na maioria das vezes as pessoas julgam. Só que nesse retiro me deparei
com algo diferente: ninguém me julgou. E
naquele momento eu comecei a entender a frase ‘’ Não julgueis para não seres
julgado’’. Mas no fundo todos nós
julgamos. Quando nos deparamos com uma
situação nova logo pensamos: será que vai dar certo? Será que meu grupo vai ser
legal? Será que vou aguentar três dias na companhia de estranhos? Será?
A primeira coisa que pensei quando cheguei lá foi: tomara que
eu não decepcione meu grupo seja ele qual for. Digo isso porque sou muito
limitada, e tenho muita dificuldade em lidar com as pessoas. E então veio a
separação dos grupos junto com o maior presente que eu poderia ganhar:
PESSOAS. Mas como assim se eu sou
péssima com elas? Continuo sendo, mas minha definição dessa palavra foi mudando
ao longo do tempo que passei lá. A
primeira coisa que me marcou, logo de cara, foi perceber como o sofrimento tem
uma forma uniforme em qualquer lugar do mundo.
Ouvi tantas palavras sofridas, tantas almas rasgadas tantas pessoas
feridas que até perdi a conta. E aquilo
me doeu. Doeu porque eu infelizmente não
podia fazer nada por elas.
E, no decorrer
do retiro, fui observando como aquelas pessoas eram diferentes, agiam diferentemente,
olhavam, falavam e viviam diferentemente. E tentei buscar inúmeras explicações lógicas
para tal fato. E no final cheguei à conclusão de que Deus não se explica. Eu
tive momentos ali dentro que mundo nenhum me deu até hoje, droga nenhuma e
cigarro nenhum foram capazes de me proporcionar. Eu queria poder retribuir tudo o que me foi dado
nesse retiro, tudo que escrevi no meu
caderno e não tive coragem de dizer e tudo que aprendi e não tive coragem de
agradecer. A tal da limitação. E apesar de tê-la tido ao meu lado em quase
todos os momentos, de ter aquela voz dentro de mim dizendo que eu não ia passar
daquela noite, algo me dizia que se eu mantivesse os olhos e o coração abertos,
eu iria resistir mais um dia.
Algo me dizia que se eu me abrisse eu iria
descobrir o segredo daquelas pessoas. Algo dizia que o segredo estava mais
ligado a decisão do que a sentimento. Algo dizia que a decisão estava nas
coisas mais simples. Esse algo era Deus. Como Ele me disse tudo isso? Através das pessoas mais encantadoras do
mundo. Agradeço imensamente à Oficina
por ter me ensinado tantos valores.
Depoimento de uma participante do 5º Retiro para Estudantes da Oficina de Valores
1 comments:
Como é maravilhoso ler isso: "E no decorrer do retiro, fui observando como aquelas pessoas eram diferentes, agiam diferentemente, olhavam, falavam e viviam diferentemente. E tentei buscar inúmeras explicações lógicas para tal fato. E no final cheguei à conclusão de que Deus não se explica. Eu tive momentos ali dentro que mundo nenhum me deu até hoje(...)"
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