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#AvanteOficina

23:44
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Por: Alessandro


Frente ao mundo e à vida, duas são as posturas mais comuns: o otimismo e o pessimismo. Estas posturas são traduzidas naquela velha metáfora: diante de um copo até a metade, o otimista diz que o copo está meio cheio e o pessimista que está meio vazio.  Ou então, naquela outra, menos famosa, criada pelo ilustre Santo Agostinho: dois homens olharam através das grades de uma prisão – um viu o céu, o outro viu a lama.

Antes de fazer uma crítica a uma ou a outra atitude, é importante lembrar que, quando não absolutos, os dois pontos de partida podem gerar personalidades saudáveis. Há aqueles que olham primeiro a lama, mas não negam que o céu existe. Há também aqueles que olham para o céu sem esquecer a lama que está abaixo.

Quando tornadas absolutas é que tais posturas tornam-se perigosas. Perigosas porque fazem com que a realidade não seja percebida e impedem que o mal seja combatido. Se tudo é bom, por que lutar para que fique melhor? Se tudo é mau, de que adianta lutar? Tanto o otimismo quanto o pessimismo vividos em seu estado de pureza não são apenas falsos, são danosos.

O grande Chesterton costumava dizer que o otimista é alguém que acha tudo bom, exceto o pessimista. E o pessimista é alguém que acha tudo ruim, exceto a si mesmo. Embora essa definição seja fantástica, gostaria de hoje acrescentar outra:

O pessimista é aquele que não acredita porque julga não haver razões para tal. Já o otimista acredita mesmo sem ter nenhuma razão para fazer isso.

Para aqueles que não se contentam com nem uma nem outra posição, resta a questão:

Existem razões para acreditar?

Acreditar em quê? Em Deus, no bem, no futuro, na amizade, na família, no amor, na possibilidade de um mundo melhor, na capacidade de tornar-se alguém melhor. Enfim, em tudo aquilo que podemos julgar bom, belo e verdadeiro.

Será que existem razões para acreditar nestas coisas? Ou teremos que viver a triste situação de crer que tudo o que julgamos ser bom é falso e tudo o que julgamos ser verdadeiro é triste?  Será que a única opção está entre o otimista e o pessimista? Entre os que acreditam sem ter razões e os que afirmam ter razões para não acreditar?

Entregando de cara o ouro: sim, existem razões. Muitas delas. Inúmeras. E um dos grandes problemas que temos em percebê-las é justamente o fato de o número delas ser incontável. Um peixe não tem consciência de que vive na água, afinal ela é todo o seu mundo.

Penso que dar uma atenção mais cuidadosa ao que está à nossa volta permite que tais razões comecem a saltar aos olhos. Mesmo em meio a tanto caos e tristeza, o bem não deixa de estar presente.  O mesmo podemos dizer do belo. E do verdadeiro. Acontece que tais atributos costumam ser discretos. Não são espalhafatosos. Não fazem propaganda de si. Simplesmente estão ali... Esperando que os percebamos.

Mais uma vez lembro o velho Chesterton que dizia que “o mundo nunca sofrerá pela falta de maravilhas, mas pela falta da capacidade de maravilhar-se”.  O “maravilhamento” deu origem a praticamente tudo de grande que realizamos.  Um dia alguém julgou que o mundo microscópico era fabuloso e que por isso valia a pena gastar tempo e esforços com ele. Outro dia alguém pensou em como seria fantástico voar como os pássaros e começou a jornada que nos levou até o avião e aos foguetes espaciais. Isso para não falar na quantidade de pessoas que de tão encantadas com alguma outra, julgam que vale a pena casar-se. E mais: que acham tão fantástica a vida que desejam comunicá-la...

Para aqueles que julgam que a esperança desapareceu do mundo, um remédio interessante é passar um dia com um casal que recentemente conseguiu engravidar. Repare nas reações das pessoas a quem dão essa notícia. Elas vão de um parabéns afetuoso até um sorriso meio abobalhado.

Todas essas razões que estou apontando são mais intuídas que argumentadas. Funcionam mais ou menos como as cores. É impossível argumentar com alguém a favor da existência do vermelho.  Basta, no entanto, ver um pouco de sangue ou uma rosa para saber que ele existe.

Nesse ponto, creio que o leitor de tendência mais pessimista possa estar pensando que sou do bando dos otimistas, daqueles que insistem em falar que o copo está meio cheio mesmo quando percebem que ele está esvaziando. Talvez já comece a apontar minha ingenuidade de falar de aviões, pássaros e casamentos enquanto existe tanto mal no mundo.

Não nego que o mal está por aí. Basta abrir os jornais ou ligar o computador. Muitas vezes nem isso é necessário. Ele está em nossos bairros, em nossa casa, em nós mesmos. Apenas comecei pelo que é bom por uma questão de lógica. O mal é ausência. Ausência de bondade, de beleza e de verdade. Se estas não existissem, sua falta não seria sentida.

Sem medo de exagerar, e sabendo que por vezes é difícil sustentar isso, acredito que a maldade é justamente uma das razões para acreditar na bondade. Ou melhor, o incômodo que a ausência gera é um grande indício da existência da presença. Retomando a metáfora do peixe, quando este é retirado da água, a necessidade imperiosa de voltar a ela não é sinal de que a água não existe. Muito pelo contrário!

Sim, existem razões!  Um famoso escritor brasileiro utilizou, para opor-se tanto ao otimista quando ao pessimista, a expressão “realismo esperançoso”. É realismo porque não nega a realidade, porque reconhece que neste mundo há muita dor e tristeza, que nele muitas lágrimas são derramadas. E é esperançoso justamente porque é realista e sabe que a realidade mais profunda é luz e não trevas. Sabe que, apesar dos pesares, há algo além, um fundamento transcendente que dá sentido a todas as coisas. Por fim, sabe que, por mais que as aparências por vezes possam enganar, o bem é mais potente em sua bondade que o mal em sua maldade.

Tanto o otimista quanto o pessimista tendem a deixar as coisas como estão. Ou até a piorá-las. O otimista porque não reconhece o mal de suas imprudências e o pessimista porque julga inútil o compromisso de mudar a atual situação. E o realista esperançoso? Ah, esse é um saudável agente da mudança. De uma mudança que pode ser lenta, mas é constante. De uma mudança discreta, mas eficaz. De uma mudança que por vezes pode parecer invisível, mas que, quando percebida, torna-se mais uma das inúmeras razões para acreditar.


Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia
Fundador da Oficina de Valores

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