Por: Rodrigo Moco
Segundo Frankl (1991), todo homem nasce inclinado a buscar ideais superiores, ou seja, todo homem nasce com Sede de Sentido. Ao longo da vida, todos os homens se deparam com as grandes questões: Quem sou eu? De onde eu vim? Para onde irei após a morte? E a forma como essas questões são respondidas determinam todo o rumo de uma vida. O que a Logoterapia defende é que existem diversas maneiras diferentes de responder a estas perguntas, mas elas são comuns a todos os homens, e por trás destes questionamentos, na realidade encontra-se a vontade de obter respostas para as grandes questões, a esta vontade dá-se o nome de Sede de Sentido. Que consiste basicamente em uma busca, que de maneira alguma é ignorada pelo homem, porque afinal de contas, se deparar com perguntas sem respostas é descobrir um vazio e a partir do momento em que este vazio é descoberto, inevitavelmente há uma busca por algo que possa preenchê-lo. Então parece que a questão esta fechada. O homem se descobre em busca de algo e vai de encontro à correspondência desta sua necessidade! Não é tão simples como pode se demonstrar anteriormente, muitas vezes na busca pela correspondência deste vazio o homem encontra mais vazio, ao invés de se deparar com as respostas que acreditou que encontraria. Para Frankl é esta dinâmica da não-correspondência da Sede de Sentido que ocasiona as patologias, as neuroses. Enfrentar frustrações na vida é natural e é bom, porque se aprende e cresce, na medida em que se encontra significado nelas. O problema é quando as frustrações são frequentes a ponto de fazerem com que o homem experimente um constante e aparentemente irremediável vazio. O referido estado é denominado Vazio Existencial e para representá-lo, o autor utiliza-se do esquema D = S-S, que significa: Desespero é igual a Sofrimento sem Sentido, o diferencial, portanto, é o sentido que é dado a cada experiência vivida.
É uma teoria que se concentra, sobretudo, na liberdade e na responsabilidade pessoal, enfatizando o que levou o indivíduo a uma determinada escolha sem descartar as influências presentes na hereditariedade, no ambiente, na sociedade, pelo contrário, as considera e trabalha bem em cima de suas implicações.
O homem tem a liberdade da vontade, apesar de todas as circunstâncias presentes na história de vida de uma pessoa, sejam elas consequências do passado, preocupações com o futuro ou até mesmo, sobrecargas do presente, ainda assim o homem é livre para escolher. É até proposto aos pacientes um exercício para melhor lidar com as escolhas, que se baseia na seguinte suposição: “A cada situação pense que você já passa por ela pela segunda vez, e que na primeira vez agiu de uma maneira tão ruim que de forma alguma você pode repetir o que fez, mas se vê preste a agir da mesma maneira, por isso você tem a necessidade de se reportar e corrigir o comportamento”.Frankl (1991) É um exercício da vontade, um reconhecimento da responsabilidade presente em cada escolha.
Com relação ao tempo, Frankl faz uma bela leitura do passado, como um “tempo eternizado”, ou seja, tudo o que foi vivido é, jamais será apagado, nem pelo passar do tempo e nem mesmo pela morte. O futuro é um vir a ser, um nada que depende das nossas escolhas para ser algo, podendo ser grandioso, ou terminar sendo um mar de frustrações. O presente é o que temos, para lidar com o passado e nos organizarmos com liberdade e responsabilidade no sentido da realização de um futuro grandioso, de uma vida que se consuma, que atinja um objetivo, uma meta, um ideal. A realização deste ideal de vida depende diretamente da vontade de sentido. Como dito, o sentido deve ser buscado no dia-a-dia, nas atividades cotidianas. Pode ser encontrado no trabalho, na família, no estudo etc. É subjetiva a resposta dada a esta sede de sentido, em certa medida, porque esta Vontade de Sentido é comum a todos os homens, e se é comum a todos os homens é porque pertence à natureza humana e assim como as perguntas são comuns a todos, a resposta dada a elas também o é. Neste ponto se encontra a noção de Supra-Sentido, o ideal último da vida humana, a realização do Ideal, que se dá através de uma vida voltada para a realização de ideais éticos, e dos valores, ir além de si, transcender a experiência humana.
Em suma, a teoria apresenta uma visão otimista do ser Humano como um ser que é feito para a felicidade e livre para buscá-la ou não. Diante deste dilema há a possibilidade de escolher uma vida sem objetivo, que vê o tempo passar, sem esforços e nenhum empenho, procurando sempre transferir a responsabilidade pelas suas escolhas e frustrações. E uma vida que se consuma, que enxerga claramente um porquê viver, e, sobretudo, o motivo de doar-se por causas nobres, por ideais superiores, levando a sério questões essenciais do homem. Agindo assim, o homem transcende a própria experiência vital, vai além de si mesmo, vai ao encontro do outro e da espiritualidade, relatada pelo autor. Só sentimos fome porque existem alimentos, só sentimos sede porque a água existe e podemos nos saciar, se há uma busca pela felicidade é porque esta busca pode ser realizada, assim como os alimentos e a água sustentam o corpo, a felicidade é o que sustenta a alma, e aí o homem tem duas opções: Alimentar-se dela e realizar a sua essência, ou padecer de fome, se entregando a uma vida esvaziada de sentido.
Referências bibliográficas:
FRANKL, Vicktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Editora Vozes, 1991
Rodrigo Moco
Psicólogo
Oficina de Valores
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