“O dia escureceu de vez, eu nunca imaginei
ficar assim. Perdendo a minha lucidez, meu chão sumiu dos pés diante de mim...”
(Logo após o temporal – Rosa de Saron)
Quantas e quantas vezes a gente
se sente assim, né? Me pego fazendo a mesma pergunta por várias vezes: Como
superar o temporal? Como passar por cada fase de amadurecimento, de
crescimento, de perda e dificuldade sem me revoltar com a vida, e, mais
importante... como ser de Deus nessas horas?
Creio ja ter partilhado sobre
isso com alguns amigos, mas analisando o ser humano um tanto de longe, eu
percebi que muitos de nós temos uma necessidade de sentir pena. O bem que nos
traz olhar pro outro e dizer: “É, você não merecia isso, fica bem”.
Mas será que é só isso? Estamos
fadados ao sofrimento, a um ciclo de fases boas e ruins que tem que acontecer
até a nossa morte? E por que quando algo vai dar errado, sempre tem como
piorar? Essa semana acredito que minha fé foi posta à prova algumas vezes. Soube de pessoas maravilhosas que
sofreram um acidente sem explicação, um amigo que descobriu um câncer, algumas
portas que se fecharam com força pra quem eu acho que não mereciam, saudades
infinitas de quem já não está mais aqui. E ainda... sabe quando alguém perto de
você sofre, e a sua vontade é de arrancar isso da pessoa e pegar pra você, só
pra vê-la feliz? É, quando a gente se importa de verdade, fica um pouco mais
difícil encarar tais fatos com naturalidade.
Sto. Agostinho dizia que Deus não
permite um sofrimento que não te traga algo muito melhor depois. Repito isso
milhares de vezes pra mim mesma na tentativa de verdadeiramente acreditar e
confiar nos planos Daquele que eu nunca terei capacidade de compreender completamente.
Saber que minha fé envolve um
mistério e que o que Deus pede de mim nesses momentos é calma, espera e
confiança é algo que sempre mexeu comigo. Acreditar que Ele é comigo em TODOS
os momentos e que tudo que acontece na minha vida e nas vidas de todos aqueles
que me cercam, direta e indiretamente, faz parte de um propósito, é
aprendizado, vivência, experiência.
Nessa hora, eu penso: ontem
estava tudo bem e hoje o mundo desabou na minha cabeça. As pessoas, os lugares,
os relacionamentos – sejam eles da ordem que forem – tudo faz parte de um
inconstante imensurável. Se tudo é tão flexível e mutável, em que basear a
minha felicidade, pra que as decepções e frustrações não levem consigo a minha
vontade de continuar?
Não sei ainda como alguém que não
acredita em Deus possa viver tranquilo, de verdade. Porque depois de tantas
tentativas, depois de depositar o meu porto seguro em namoros, em amigos, no
status que eu tinha no trabalho ou na minha carreira acadêmica e ver como tudo
isso pode ser destruído, eu entendi que a única coisa que nunca mudará na minha
vida é o amor que Deus tem por mim.
De resto, estamos lidando com
seres tão humanos quanto nós mesmos, pessoas que ferem sem querer, que magoam,
que buscam a própria felicidade antes da nossa e que eventualmente vão nos
machucar, nos decepcionar... até porque, não somos o centro do universo.
Tenho descoberto, a cada dia
mais, que a única maneira de ser mais constante, de não perder o rumo quando os
tempos difíceis chegarem é ter em Deus o meu objetivo final. Oferecer a Ele os meus
sacrifícios diários, entregar a Ele as minhas angústias e a certeza de que só
Ele pode agir em certas situações. Somos todos livres, inclusive pra tomar
decisões que não agradem a Deus e ao nosso próximo. Temos liberdade pra
escolher por onde seguir e essa liberdade é comum a mim e a qualquer um que
exista nessa Terra.
Enfim... ainda usando Rosa de Saron: “Um novo dia vai nascer, é bom sentir os pés no chão e saber que ainda
estás aqui.
Com minhas mãos eu toco o céu, enquanto
elevo o coração e posso dizer sou livre sim”
Livre porque o meu Deus me
liberta de qualquer amarra que o mundo apresente. Livre porque em Deus eu posso
ser constante e posso entender que os meus sofrimentos tem propósitos. Ser
cristã não é, nem de longe, a promessa de uma vida feliz e sem dificuldades.
Pelo contrário, ser cristão é um convite a enxergar o mundo com os olhos de
Deus. É ser e viver o amor nas circunstâncias mais adversas possíveis; é saber
dar ao outro e a nós mesmos mais uma chance pra fazer diferente – ainda que
seja a milhonésima chance - mas ao mesmo tempo, ser cristão é saber que Ele
estará lá pra me confortar, me consolar e me dar forças, quando nada mais fizer
sentido.
Hoje, no meio do temporal de
muitos e nas minhas indagações de cada minuto eu escolho reafirmar a minha
vontade de seguir a Deus, ainda que em muitas áreas eu esteja dando os meus
primeiros passos. Quero continuar, quero ser luz de Deus no mundo. E cada
passo, cada contato, cada conquista é um sinal, uma chance de ser mais santa.
Barbara Furtado
Estudante de Letras - Oficina de Valores
3 comments:
Mt bom! "ser cristão é um convite a olhar o mundo com os olhos de Deus".
Já me apropriei. Abç.
Comungo de suas palavras, Bárbara!
Escreveu mt bem.
Beijo!
Parabéns Barbara!!
Excelente texto..
Palavras que espero levar para a vida, em especial no dia de hoje.. obrigada por elas.
Postar um comentário