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Tenho percebido – confesso que com bastante pesar – uma tendência a crescer o número, numa rede social que frequento, de certas postagens em que se lamenta o começo da semana, ou se suplica pela proximidade do seu fim. Geralmente, uma criança ou um animal, captado em algum instantâneo engraçado, seguido de uma frase do tipo: “Oh, não! Segunda de novo!” ou “Onde clico pra voltar a sexta?”.

Considerando que o fim de semana é, tradicionalmente, associado ao descanso e ao lazer, e a segunda-feira, em contrapartida, aparece como a ‘estraga-prazeres’ que traz consigo, de volta, o peso da responsabilidade e o embaraço da rotina, cansativa e indesejável, não deixa mesmo assim de ser curioso, e causa de meditação, tal procedimento recorrente entre tantos frequentadores de tais redes.

Em primeiro lugar, faço aqui referência ao excelente texto “Será que você não é o motivo de seu tédio?”, de autoria do Diego Macedo, cujo título já nos dá muito em que pensar: o seu tema principal (o tédio) pode ser com facilidade associado às motivações das postagens a que me refiro. Sim, de fato, vivemos uma espécie de ‘crise existencial’, profunda porque arraigada nos fundamentos de uma sociedade desprovida de valores, sobretudo humanos e espirituais, que acaba por gerar uma grande insatisfação coletiva, de consequências menos ou mais previsíveis.

Mas esta resposta (embora complexa e sujeita a tantas considerações) não me parece suficiente. Ouso afirmar que há mais do que insatisfação, escondida por trás dessas ‘brincadeiras’, de aparência inofensiva e, digamos, catárticas. Há, eu diria, um pedido de socorro de almas que não sabem encontrar a felicidade onde ela, na verdade, se encontra.

Comentei aquele artigo do Diego dizendo que “o catolicismo me ajudou a enxergar o cotidiano de um modo, ao mesmo tempo, lúcido e lúdico; lúcido, porque não se vive na ilusão, num mundo de fantasia ou ficção, mas se aprende a encarar a realidade sem medo de enfrentá-la e, quando possível, modificá-la; mas também lúdico, porque é preciso perceber a beleza que há por trás das coisas mais corriqueiras da nossa vida, a poesia oculta em cada uma delas, e compreender que estas são as únicas que temos de fato, e as que realmente valem a pena. Cacos de um mosaico – se me faço entender.”

Pois bem, acho que é no aspecto ‘lúdico’ que está a raiz do problema. Explicando melhor: o problema está na ausência desse olhar, como o de uma criança, que consegue captar a beleza de cada momento que lhe é dado viver, mesmo com suas lutas e cansaços, e com seus eventuais fracassos; sofremos, talvez, de uma incapacidade de viver bem o presente, porque não o enxergamos como um dom (significado da palavra ‘presente’) – e, por isso, projetamos a ansiada felicidade como algo que o passado (o terminado fim-de-semana) infelizmente levou para longe, ou algo que o futuro (o vindouro fim-de-semana) poderá talvez nos conceder de novo.

Já nem quero me demorar em discutir sobre a ausência da ‘lucidez’ que essa postura também esconde. Projetar toda a possibilidade de realização, pessoal e social, afetiva e emocional, apenas no que já se foi ou no que virá, deixando de aproveitar o que se tem de ‘efetivo’ pra viver, que é o HOJE, não quer me parecer muito sensato de nossa parte. A palavra ‘proverbial’ de Cristo – “A cada dia basta o seu cuidado” – sugere (antes que despreocupação pelo futuro, como querem entender os tolos) uma porta aberta para a percepção do presente como algo precioso, que não pode ser descuidado ou desperdiçado.

Se não estivéssemos tão ocupados em esperar o fim-de-semana para sermos, afinal, felizes, talvez compreendêssemos que podemos haurir essa felicidade de cada momento dos nossos dias – qualquer que seja da semana! Trabalharíamos melhor, conviveríamos melhor com as pessoas ao nosso redor, aprenderíamos mais com nossos erros e quedas, compreenderíamos mais as limitações dos outros – enfim: não sofreríamos tanto sem razões. É porque estamos com o foco desviado, para o que não volta ou para o porvir, que acabamos perdendo o que o cristianismo chama a “graça atual”, ou seja: o ‘agir’ de Deus presente em cada segundo de nossa existência.

A imagem que me ocorre é a de alguém que pega um ônibus lotado, e segue imprensado e sem conforto, apenas por pressa, por não querer esperar o próximo coletivo, que geralmente (pelo menos em nossa cidade) chega logo em seguida e sai vazio.

Embora pareça o contrário, na verdade é a mesma coisa: ‘imprensamos’ cinco dias de nossa semana – o que quer dizer: a maior parte de nossa vida – na correria sem sentido, na infelicidade de um trabalho não plenamente satisfatório, no convívio nada harmonioso com o nosso semelhante, apenas pela ‘pressa’ de chegar a um suposto destino, um ‘oásis’ imaginário, que serão os dois últimos dias da (a essa altura, perdida) semana. E assim, perdemos a chance de viajar ‘folgados’ durante os sete dias que Deus nos deu, amando, sendo amados, crescendo, produzindo.

Não é só no final da sexta, no sábado e na primeira metade do domingo que vale a pena viver. Ao menos, não para quem sabe valorizar a vida como um dom (presente) a ser desfrutado, dia a dia, momento a momento. Não para quem não perde as oportunidades, para quem rega toda dia suas plantas – como queria o poeta Pessoa. Bom, mas pra entender de poesia, temos de recuperar esse olhar ‘lúdico’ – que deixamos quem sabe embaçar pela dureza dos caminhos e na poeira das horas desperdiçadas com lamentações.

Perguntemo-nos, isso sim: Onde eu clico, dentro de mim, pra isso parar? Onde recomeço a ver a beleza dos dias, cada um único e irrepetível, que Deus me deu pra viver?




Anderson Dideco
Membro da Pastoral das Comunicações – Paróquia de Cascatinha

3 comments:

Alessandro Garcia disse...

Gostei muito do texto. Me fez parar e refletir sobre alguns pontos importantes. Lúdico e lúcido...vou pensar sobre isso.

Valeu Dideco.

Anderson Dideco disse...

Um dia, numa pregação, o esposo da Nancy de Mello Bastos (irmã do Pe.Luís Mello) - por um momento, me escapuliu o nome dele, perdão - disse: 'Devíamos gravar nossas pregações e ouví-las, pra ver se nos convertemos.' Mt bom, né? Analiso a qualidade dos meus txts assim: se os leio depois e eles me fazem rever algo q eu mesmo sei, mas não estou vivendo suficientemente bem. Este é bem o caso...

Juliana Benevides disse...

Ainda não tinha lido esse text por aqui.. muito bom! E digo isso pq justamente ele me fez pensar em como, muitas vezes, eu penso assim...
Parabéns Anderson!

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