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#AvanteOficina

Por: Alessandro
imagem de: noticiascatolicas.com.br
Faz algum tempo que desejo escrever um texto sobre a Bíblia  para o blog. Praticamente toda semana chego a cogitar esse tema, mas até hoje não tinha saído nada. Sempre vacilava em relação à abordagem que adotaria. Decidi por fim fazer uma  proposta ampla de leitura da Escritura tanto para os que são cristãos quanto para os que
professam outros credos e os que não acreditam em religião alguma.

Deixo claro desde o início que,  por ser eu católico, minha aproximação da Bíblia é uma aproximação reverente.  O conjunto de livros ali compilados possui para mim um caráter sagrado. Caráter esse que, é claro, condiciona minha leitura. A leitura da Escritura feita por um cristão nunca será a mesma que aquela feita por uma pessoa com outra crença, afinal o primeiro está se aproximando daquilo que julga ser não uma palavra, mas A Palavra divinamente inspirada.

Apesar da diferença de enfoques, creio ser a leitura da Bíblia algo frutuoso tanto para os que acreditam quanto para os que não acreditam. Julgo que as Escrituras cristãs são textos fundacionais. O que é isso? Simples. Textos fundacionais são aqueles que de alguma maneira marcam as raízes de uma cultura, instituição ou projeto.  Os escritos de Karl Marx, por exemplo, são fundacionais para aqueles que abraçam o credo comunista. Outros exemplos de tais textos são a Constituição Americana, o Corão, as obras de Platão, Aristóteles e São Tomás Uma característica fundamental de textos fundacionais são que a partir deles linhas de identidade são delineadas. Mesmo que o Corão não seja a única fonte de identidade do Islã, é fato que muito do que é ser muçulmano encontra suas raízes em tal livro. Além disso, um texto só se torna fundacional  quando não é letra morta, mas continua sendo lido e atualizado nas práticas cotidianas.

Os livros da Bíblia  compõem  o principal texto fundacional do Ocidente, ou seja, muitas das crenças que julgamos hoje fundamentais encontram ali suas raízes. Não é a toa que falamos de civilização judaico-cristã. Independente do credo que venhamos a professar,  elementos bíblicos estão contidos em nossas mentalidades. Um fato que ilustra bem tal ponto é a adaptação que muitas religiões orientais fazem no  ocidente. Não é difícil encontrar religiões de origem panteísta que quando chegam por aqui começam a falar em termos monoteístas. 

Além disso, a grande crítica ao orgulho e o elogio ao amor que são encontradas nas mais diversas esferas sociais têm origem inegavelmente cristã. Fiz todo esse caminho simplesmente para dizer que vários dos elementos que julgamos positivos em nossa cultura são derivados do cristianismo que se encontra, em grande parte, transcrito na Bíblia. Nesse sentido, conhecer melhor a Bíblia significa conhecer melhor a nós mesmos como civilização, conhecer parte dos pilares que fazem com que sejamos quem Creio que existam muitos empecilhos que atrapalham uma aproximação dos textos bíblicos. 

O primeiro, embora pareça mais banal é talvez o mais recorrente. Falo da barreira da linguagem. Muitos ao se aproximarem da Bíblia se deparam com algo que, num primeiro momento, parece incompreensível. Isso para não falar em certas temáticas: listas de nomes, descrição de ritos, menção a costumes diferentes dos nossos. Admito que tal dificuldade seja bastante incômoda, no entanto creio que isso se deve muitas vezes a um itinerário de leitura equivocado. Quem, por exemplo, começa a ler no Antigo Testamento e segue a ordem de um livro normal, provavelmente desanimará. O melhor é começar pelos Evangelhos e depois ir caminhando por outros livros mais fáceis como as epístolas de Pedro.  Até mesmo muito daquilo que  inicialmente soava estranho começará a se revelar interessante com o tempo (e alguma ajuda). Concordo com Santo Agostinho quando ele compara a Bíblia a uma harpa. Neste instrumento tudo é fundamental para o som, embora apenas as cordas sejam tocadas.

Outra barreira é o caráter de coisa conhecida que a Bíblia adquiriu. Como vivemos em uma cultura cristã parece que seus ensinamentos são truísmos, obviedades que não temos necessidade de conhecer. Se isso fosse verdade talvez realmente fosse melhor partir para outros livros. No entanto trata-se de um preconceito sem fundamento. Mesmo sendo um texto fundacional e o livro mais vendido do mundo, a Bíblia é uma grande desconhecida para a maior parte das pessoas. Mesmo eruditos costumam ser ignorantes em relação a ela.

Há ainda outro postura que muito afasta leitores da Sagrada Escritura. Trata-se do uso feito por grupos fundamentalistas (além de algumas escolas teológicas) que instrumentalizam o texto para dizer barbaridades. Torcendo as palavras defendem coisas que dificilmente se coadunam com o que o cristianismo ensina. Por causa de tais grupos, a Bíblia acaba parecendo uma enciclopédia para os ignorantes. Nada mais longe da verdade. Basta ler Shakespeare, Dante, Dostoievski ou mesmo Machado de Assis para ver quanta inspiração literária e moral ela já trouxe.

Sei que muito do preconceito em relação à Bíblia se deve ao preconceito em relação aos cristãos. Não é difícil encontrar sites na internet que listam de frente para trás e de trás para frente supostos erros e contradições contidos nas Escrituras judaico-cristãs. O teor desse texto não é polêmico, nem apologético, por isso não vou me deter tanto nesses pontos, mas acredito que valham a pena algumas palavras.

Muitas das contradições apontadas são frutos de uma leitura que considera a Bíblia um livro, quando na verdade ela é uma biblioteca. Isso mesmo, um conjunto de livros. Há abordagens diferentes que são costuradas no plano de uma tradição maior que deve ser conhecida para que o significado religioso seja realmente compreendido. Outro conjunto dessas contradições se deve a pedir da Bíblia algo que ela não se propõe. Os livros históricos da Bíblia, por exemplo, não foram feitos através dos atuais métodos de pesquisa, sendo assim as imprecisões cronológicas, devem ser esperadas. Não custa dizer também que a Bíblia nunca  pretendeu ser um tratado de zoologia, astronomia, botânica ou economia.

Pessoalmente julgo que em uma leitura aberta as “contradições” bíblicas só tornam o texto mais fascinante. Um dos aspectos que torna a Bíblia tão interessante mesmo para  cristãos e não cristãos é o caráter humano, demasiadamente humano, de seus protagonistas e autores. Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Pedro e Paulo são, no texto bíblico, grande heróis e protagonistas de grandes feitos. Apesar disso todos eles possuem graves defeitos e incoerências. Limitações essas, no entanto que não os impediram de seguir aquilo que julgavam ser o chamado divino. Além disso, livros como os Salmos ou Eclesiastes exteriorizam em suas passagens muitos sentimentos e ideias que fazem muitas críticas ferozes de ateus parecerem cordiais. Pessoalmente acho essa sinceridade das Escrituras encantadora.

Para terminar resumindo,  devo dizer que proponho a leitura da Bíblia para crentes e não crentes porque ela é “um livro” historicamente relevante e existencialmente provocante. É um livro humanamente riquíssimo... Provavelmente é justamente essa riqueza humana que faz com que muitos de nós acreditemos que ela é Palavra divina.

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia / Fundador da Oficina de Valores

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