Por: Yuri
Já dizia o grande Renato Russo na música Teatro dos Vampiros: “Sempre precisei de um pouco de atenção (...)” e isso é a realidade do ser humano de uma forma geral; a necessidade de atenção mesmo quando somos adultos (ainda que de uma forma mais sutil do que na infância). Não digo que essa carência é algo ruim, pelo contrário, é essencial para o nosso psicológico, porém, com alguns adventos atuais, essa carência de atenção tem se tornado cada vez maior, e consequentemente, trazido maiores decepções para alguns e maiores esforços para outros. No mundo de hoje, principalmente nos meios virtuais, percebemos muito claramente pessoas que buscam de todas as formas possíveis serem notadas, seja através de ações extraordinárias, demonstrações de talentos, ou até mesmo através das famosas curtidas do Facebook.
Temos investido nos meios de comunicação em detrimento do contato pessoal. Isso agrava a preocupação que temos de sermos queridos ou não... de sermos agradáveis ou não. Torna-se algo abstrato e causa um conflito cada vez maior no nosso interior. Me referindo especificamente ao Facebook, percebo que cada atualização de status, compartilhamento, ou qualquer tipo de ação é nada mais, nada menos do que variações de uma única solicitação: Notem-me! Olhem pra mim! Se importem comigo! E a partir daquele primeiro like (curtir) nos sentimos satisfeitos. Cada comentário é lido como: Estamos te vendo! Nós te notamos! Gostamos de você! Nós nos importamos! São realmente formas de se receber atenção, e não há nada de mal nisso.
O grande problema é quando isso se torna nossa única fonte “segura” de sermos notados. A ausência do contato pessoal acaba por nos frustrar à medida que passamos cada vez mais tempo na busca da atenção virtual. Nessas últimas semanas me deparei com inúmeras (juro que perdi a conta) reportagens sobre pessoas que cometeram suicídio. Tais situações chamaram ainda mais atenção porque todos os casos relacionavam as mortes às postagens no Facebook... A carência de atenção nos frustra, e pode ocasionar graves consequências. É possível que a busca por ser notado seja tão desesperada assim?
Um dia desses vi um cartaz muito interessante em um ônibus que dizia uma simples frase, sem nenhum outro complemento: “Dê bom dia ao motorista”. Aquilo, de certa forma, me incomodou e me fez refletir sobre a necessidade de um cartaz tão banal colado no ônibus ao invés de publicidades que poderiam fazer com que a empresa lucrasse mais. Naquele momento percebi a necessidade que temos hoje de nos comunicarmos, de nos importarmos, de dar atenção. Naquele dia eu dei um bom dia ao motorista, e percebi que havia sido o único da fila a ter feito aquele simples gesto, porém, percebi também que aquilo resultou num leve sorriso do motorista ao responder alegre: “Bom dia!”. Esse simples gesto me impulsionou a escrever o que vocês estão lendo nesse momento. O irônico da situação é que quanto mais atenção queremos receber, menos atenção nós damos. O “Eu” torna-se superior aos outros.
É incrível como não conseguimos olhar para o outro e perceber que aquela pessoa necessita de um pouco de afeto, por menor que seja a demonstração do mesmo. Hoje em dia, nossos sentimentos se encontram camuflados na pressa, nos compromissos, na agitação. Precisamos pensar nos outros como seres humanos, com suas necessidades naturais, e fazer o mínimo para que elas possam ser saciadas, ou ao menos tocadas. E essa abertura não faz bem apenas ao outro. Ela pode ser o começo do caminho para resolvermos nossas próprias carências.
Termino esse pequeno texto com uma frase de Carlos Drummond de Andrade que resume o ponto que quis explicitar: “Por isso, preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor." Que esse amor, que muitas vezes não enxergamos seja refletido nas pequenas ações, nos pequenos olhares, no simples falar.
Yuri Weilemann
Estudante de Engenharia - UCP / Oficina de Valores
2 comments:
Mandou bem!
Muito bom Yuri, a realidade de textos que chamam a atenção principalmente pelos títulos são cada vez mais importantes, essenciais, parabéns, ótimo texto!
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