Por: Rodrigo
Como sabem, sou um profissional da área da Psicologia, e
grande parte da demanda que recebemos nos atendimentos não é de pessoas que
sofrem com patologias, ou transtornos propriamente ditos - o que é muito bom, afinal de
contas não acredito em uma psicologia que existe meramente para remediar, e sim
na que trabalha na promoção do bem estar físico, mental, social e espiritual
que lhe cabe, enquanto ciência que se propõe a estudar e conhecer o ser humano
em todas as suas dimensões.
Sabemos também, através da Psicologia, que a demanda
inicial apresentada pelas pessoas que recorrem ao atendimento psicoterápico
dificilmente é a raiz dos seus problemas; costumamos dizer que é a ponta do
iceberg e é necessário realizarmos um grande mergulho no oceano de pensamentos,
sentimentos e memórias da pessoa, para encontrarmos a real raiz do problema. Um
dos grandes males sociais que temos hoje atende pelo nome de insegurança. Qual
seria a raiz que sustenta esse sentimento ruim, que nada nos acrescenta?
Acredito firmemente que toda insegurança é
fruto de uma auto-estima baixa. Reside numa crença central de que: “Eu não
mereço ser amado”, em alguns (raros) casos essa crença será consciente,
mas na esmagadora maioria será subconsciente, ou seja, a pessoa não elabora
isso nos pensamentos, mas na verdade a crença que está por trás do que faz ou
pensa é essa, ainda que não tenha consciência.
As perguntas que não querem calar: De onde vem essa bendita crença? E o
que ela significa? Não quero aqui ser reducionista e tentar em um pequeno texto
apresentar as soluções, vou tentar apontar apenas dois caminhos entre outros
possíveis, para que possamos pensar juntos a questão.
1 – Raízes no passado
As crianças costumam ser autorreferentes, acreditam serem
elas próprias as responsáveis pelas tristezas e as alegrias que experimentam.
Isso nos mostra que algum evento traumático ocorrido na infância (rejeição,
divórcio dos pais, abuso sexual, morte de um parente, bulling, etc.) pode ter
sido assimilado pela criança como sendo de responsabilidade dela, gerando
sensações ruins de culpa, de complexo de inferioridade, possívelmente uma falsa
noção de que não é digno de amor.
É evidente que as origens no passado não se reduzem à
infância propriamente dita, podem ter acontecido na adolescência e até mesmo na
fase adulta com motivos similares, mas é claro que aplicados aos
relacionamentos próprios da fase da vida em questão.
2 – Raízes na realidade social
Aí são diversas as possibilidades; uma pessoa mal
resolvida financeiramente, profissionalmente, com baixas condições de
desenvolvimento social, estará sujeita a esse risco, por alimentar a crença de
que não conseguirá se realizar, de que não dá para ser feliz no contexto em que
vive. Há também um problema grave, que é o modelo de realização pessoal vigente
na sociedade. O que é uma pessoa realizada atualmente? É quem tem muitos bens,
fama? Ou quem faz muito bem aquilo que gosta e produz o bem para as pessoas? Se
formos pensar em termos de Brasil, não há dúvidas de que é quem tem muitos bens
e fama. Inclusive a forma de valorização disso é um problema grave. Um
professor de Universidade Federal, que acumula as funções de docente e
pesquisador que produz conhecimento, deve conseguir receber no máximo uns 20
mil reais por mês de trabalho. Uma pseudo-celebridade que se torna conhecida
por envolver-se em polêmicas constantemente e aparecer nua em público, cujo
talento é mostrar o corpo em revistas (e aqui não me refiro ao trabalho digno
das modelos, que fique claro) recebe 12 mil para aparecer em uma festa. Onde
estão as noções de valores?
Pessoas que não possuem o corpo, ou o perfil valorizado
socialmente e principalmente midiaticamente, tendem também a nutrir uma baixa autoestima
que leva consequentemente à insegurança. Haveria ainda outros casos a explorar,
mas paremos por aqui.
Respondamos agora à segunda pergunta, para pensarmos nos
caminhos de combate à insegurança. O que significa essa tal crença: “Eu não
mereço ser amado”? A Psicologia nos ensina que existe um sistema de crenças ao
qual todos nós estamos submetidos. Crenças essas que não são necessariamente
religiosas, são crenças a respeito de qualquer coisa. Contudo, existe certa
hierarquia nas nossas crenças, algumas são centrais, outras periféricas. As
crenças periféricas são apenas uma manifestação das centrais, a famosa ponta do
iceberg, por exemplo: no aniversário de casamento, o esposo deu um presente
mais simples para a esposa, em relação aos anos anteriores. Crença central da
esposa – “Não mereço ser amada”; Crença periférica – “Ele deve ter outra”;
Consequência – Ciúme e aumento da insegurança. Na verdade o presente mais
simples pode ser fruto de uma dificuldade financeira do esposo, ou simplesmente
parte de uma surpresa, que será uma viagem na semana seguinte. Mas essas
possibilidades sequer são questionadas por quem alimenta o sentimento de
insegurança.
Possíveis caminhos para combatê-la: 1 – Ajuda de um bom
profissional. É necessário assumir a consciência de que o auxílio vindo da
Psicologia, que é uma ciência séria, nos dá condições para melhorar a nossa
qualidade de vida; 2 – Autoconhecimento. É o principal caminho para vencer a
insegurança, olhar para dentro, reconhecer as próprias capacidades, pontuar as
qualidades que possui e se fazer valer daquilo que tem de bom, todos somos
dignos de ser amados; 3 – Não se comparar. Sempre me lembro da famosa ideia de
Sartre: “o inferno são os outros”, podemos dizer que o inferno são as
comparações. É preciso substituir a ideia de que é preciso ser melhor que os
outros, pela ideia de que é preciso ser o melhor que eu possa ser!
Quem sofre de insegurança, tende a enaltecer os outros,
idealizá-los. Com isso se colocam abaixo e em uma posição de inferioridade. Cabe
ressaltar que todos, todos nós, temos sucessos e fracassos, isso faz parte da
vida de todo mundo. Arriscar-se, ousar, ir além, é o caminho para mudar o
comportamento que nos prende. “A desconfiança de si mesmo paralisa”, que tal
confiar em si e seguir adiante?
Rodrigo Moco
Psicólogo / Coordenador da Oficina de Valores
2 comments:
Parabéns pelo texto! Não acredito que eu seja a primeira pessoa a comenta-lo, bem aprovo todas as questões aqui abordadas.. realmente a insegurança só pode ser derrubada através do corte na sua raiz. Eu estou melhorando paulatinamente a minha e tenho fé que em breve a palavra Insegurança estará bem distante de minha persona. Interessante é que muitos são pessoas de feições belas, inteligentes, saudáveis, modéstia a parte eu me incluo nesse meio, todavia quando existe insegurança nada de externo nos faz ser mais seguros e confiantes, o segredo está em nosso interior!
muito bom o texto, me ajudou a entender melhor o tema.
obrigado
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