Por: Alessandro e Thales
Fonte: regbit.blogspot.com.br
Uma tradição muito antiga no
Carnaval, é o uso de máscaras nos bailes e desfiles. A tradição remonta ao
século XVI, em Veneza, onde os ricos usavam as máscaras durante o Carnaval para
poderem sair pelas ruas e não serem reconhecidas pelo povo. O propósito da
máscara é claro: disfarçar seu usuário para que ele pareça ser quem não é.
Usadas no carnaval, ou em outros momentos de festa, as máscaras são motivos de
alegria e diversão. Neste texto, porém, vamos falar de um outro tipo de
máscaras: as que usamos diariamente e que são invisíveis aos nossos olhos.
Muitas vezes e em diversas
situações nós queremos mostrar que somos algo que não somos de fato. Às vezes,
durante uma conversa com um grupo de amigos, queremos causar uma impressão de
sermos muito inteligentes ou muito engraçados. Às vezes, com pessoas que nós
estamos conhecendo, nós queremos ser mais simpáticos do que realmente somos. Ou
ainda, queremos nos “adaptar” melhor ao contexto, e queremos ser pessoas
diferentes em cada ambiente de nossa vida: somos de um jeito com a família, de
outro com os amigos, de outro no trabalho ou na escola, e assim por diante. E
muitas vezes, nessas situações, nós “usamos uma máscara”, ou seja, nós nos
tornamos atores e atrizes para interpretar um papel, para passar uma imagem que
não é exatamente fiel ao que somos.
E qual o problema nisso?
Dependendo da situação, não há nada de mal em nos esforçarmos para impressionar
alguém. Quando temos uma entrevista de emprego, ou quando queremos conquistar
alguém que nós gostamos, nós certamente não ficamos demonstrando nossos defeitos,
mas ao invés disso nos empenhamos para mostrar as nossas qualidades. Quando
falo, porém, de “usar máscaras”, estou falando de uma outra realidade. Falo de
quando nós estamos insatisfeitos como aquilo somos, quando achamos que as
pessoas não vão gostar do que nós somos de verdade e, por isso, nós preferimos
representar um papel, viver uma mentira. Nós, muitas vezes, achamos que não
somos bons o suficiente, que o que nós temos em nossa personalidade não vai interessar
às pessoas, ou mesmo vai afastá-las. Outras vezes, nós queremos chamar a
atenção. Temos necessidade de sermos percebidos, reconhecidos.
O problema é que uma hora a
máscara cai. Não dá pra ser ator todo dia, toda hora. Em algum momento, vamos
deixar transparecer aquilo que realmente somos, e aí nós podemos acabar
decepcionando aquelas mesmas pessoas que na verdade gostaríamos de
impressionar. E nossa imagem, que a gente queria que parecesse melhor do que
realmente é, pode acabar ainda pior... No fundo, usar máscaras é nada mais do
que mentir. E todo mundo sabe: mentira tem perna curta. E o maior problema é
que muitas vezes quando nós usamos máscaras nós acabamos mentindo para nós
mesmos, e perdemos a noção de quem realmente somos.
Muitas vezes, talvez na maioria
delas, nós usamos máscaras para esconder os nossos defeitos. Na verdade, não se
contentar com o que nós temos de ruim é uma coisa boa. Todos temos defeitos, e não
devemos nunca nos conformar com eles. Só que não basta parecermos bons, temos
que ser bons de fato! Sentir vergonha das coisas ruins que temos em nossa
personalidade é algo que deve servir para que nós nos esforcemos para sermos
melhores, para superarmos os nossos defeitos. Se nós queremos ser diferentes, temos
que dar passos concretos. O uso de uma máscara lembra a atitude de varrer o
lixo para debaixo do debate. A sujeira permanece lá e a limpeza é apenas uma ilusão.
Quem age dessa maneira vive
sempre perseguido por duas sensações: insegurança e medo. Insegurança porque
sente que ao gastar tempo fingindo, não consegue fortalecer relacionamentos e
mesmo desenvolver a personalidade. Medo porque, por mais que a poeira esteja bem
escondida, mais cedo ou mais tarde o tapete pode ser puxado.
As máscaras do carnaval, das
festas à fantasia, dos cosplayers, quando vestidas em espírito de brincadeira,
são peças divertidas. O problema acontece quando na vida queremos imitar a festa e nos
habituamos a esconder nossos rostos, nossas ideias, nossos corações. O
verdadeiro drama é que para parecer (e aparecer) sacrificamos o ser.
Para terminar, deixamos uns
versos de Fernando Pessoa que podem servir para a nossa reflexão. Que em nossa
vida a beleza ilusória das máscaras que usamos se transforme na verdadeira
beleza que transborda de nossos corações.
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada
disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que
sou sublime.
(Fernando Pessoa – Tabacaria)
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - UFRJ / Fundador da Oficina de Valores
e
Thales
Bittencourt
Doutorando em Filosofia - UFRJ
1 comments:
A mascara nunca cai.
O conceito de que a mascara sempre cai é repetitivo, erroneo e mal fundamentado.
A mascara é vida, essencia da mentira de minha vida, mais forte do que qualquer outra faceta. Eu a alimento, vicio, vivo dela enquanto ela vive de mim, somos um e não somos nada, tão qual Alvaro Campos.
E verdade? sim, há verdade, é verdade e ela dói. A mentira tb doi, mas gozo de prazer
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