Há um ditado popular
que diz: “A única certeza que temos nessa vida é que vamos morrer.” É claro que
há um exagero contido na frase, primeiro, porque temos algumas outras certezas
na vida, e graças a Deus por isso. Segundo porque inclusive a certeza da morte
pode ser questionada. Do ponto de vista físico não, são favas contadas, todo
mundo há de morrer e essa realidade é inevitável, embora seja absolutamente
indesejável (em grande parte dos casos), mas quando ampliamos o conceito de vida,
para a representatividade que uma pessoa tem, nós sabemos que ela rompe os
limites do tempo e do espaço e assume contornos de eternidade.
Ontem nós perdemos o Ariano Suassuna. O cavaleiro do sertão, espetacular autor nordestino e um dos principais defensores da cultura brasileira que já ouvi falar. Ariano é gênio e enquanto tal, não morre jamais. Continua vivo, pois teve a capacidade de se eternizar. Tem palavras que se tornam leis, e conceitos que se tornam princípios de regimento para o nosso comportamento e a nossa forma de enxergar a vida. Essa é a minha relação com o Ariano, quantas vezes ao lê-lo ou ao vê-lo falar em sua “aula espetáculo” eu observava uma inteligência prática que me leva a enxergar o meu cotidiano de forma diferente e provavelmente levará durante muito tempo.
Ontem nós perdemos o Ariano Suassuna. O cavaleiro do sertão, espetacular autor nordestino e um dos principais defensores da cultura brasileira que já ouvi falar. Ariano é gênio e enquanto tal, não morre jamais. Continua vivo, pois teve a capacidade de se eternizar. Tem palavras que se tornam leis, e conceitos que se tornam princípios de regimento para o nosso comportamento e a nossa forma de enxergar a vida. Essa é a minha relação com o Ariano, quantas vezes ao lê-lo ou ao vê-lo falar em sua “aula espetáculo” eu observava uma inteligência prática que me leva a enxergar o meu cotidiano de forma diferente e provavelmente levará durante muito tempo.
Em uma entrevista muito
bem humorada do autor (como era costume), ele contava que ao receber sua
primeira premiação ainda na adolescência em um concurso de poesia que
participou, foi convidado para a solenidade através de uma carta que continha:
data, local, horário e dizia para “ir com traje sport fino”. Oriundo de uma
família humilde e no auge de sua inocência adolescente, pensou: “O que é Sport
Fino? O Sport Club do Recife é vermelho e preto. Fino, é porque deve ser roupa
social. Vou de camisa social vermelha e paletó preto.” Ao perceber que tinha
acertado na escolha, ele se caracterizou ao longo de toda vida por trajar esse
sport fino, e assim aprendemos com o Ariano sobre moda.
Em sua fantástica obra
“Pedras do Reino”, Ariano talhou a imagem das 12 pessoas mais importantes da
história da humanidade em sua opinião. Com explicações coerentes e geniais
sobre cada uma das 12 personalidades contempladas, ele nos ensina a cultivar a
memória de quem fez história e assumir referências, verdadeiras referências
para nós. Em se tratando de referência, não podemos esquecer a famosa crítica
que ele faz à nossa geração em uma de suas aulas, quando diz: “como os jovens
de hoje em dia, assumem como ídolo um rapaz que tem uma música dizendo que os
meus heróis morreram de overdose? Aonde vamos parar? Meu herói não morreu de
overdose, meu herói morreu numa cruz.”
Como ignorar o
fantástico auto da compadecida? Obra divertidíssima, um tesouro da nossa
literatura e do nosso cinema. Que entre muitas risadas, nos provoca a reflexão
do papel intercessor de Maria. Em uma sacada genial do que seria o nosso
julgamento após a morte. Jesus é o juiz, diabo é o acusador e Maria a advogada
de defesa.
Em uma profunda mescla
de humor, piedade e genialidade, Ariano nos dá essa base para imaginar o
inimaginável e assim se imortaliza. Seu nome estará para sempre na Academia
Brasileira de Letras, suas obras para sempre nas livrarias, teatros e telas de
tv/cinema, suas palavras estarão sempre circulando nas redes sociais, em nossas
mentes e corações. O luto é inevitável: Perdemos um grande homem. A luta é
interminável: Cultivemos o seu legado!
Para encerrar um
pequeno trecho de grande e penetrante inteligência:
“Um marco da minha vida
foi a leitura de uma frase d’Os Irmãos Karamazov’: “Se Deus não existe tudo é
permitido”. Sartre tirou essa dúvida, porque a frase é duvidosa. Ele disse:
“Deus não existe, portanto tudo é permitido”. Eu tirei a conclusão contrária,
eu digo que nem tudo é permitido e portanto Deus existe. Ou a norma moral tem
um fundamento absoluto, ou ficaria a sabor da opinião individual de todo mundo,
inclusive de estupradores e assassinos.” (Ariano Suassuna)
Que o Ariano descanse
em paz, missão cumprida. Que nós assumamos a renovação dessa sabedoria popular:
Rodrigo Moco
Psicólogo/Coordenador da Oficina de Valores
1 comments:
Muito interessante o comentário o Suassuna sobre o conhecido texto do Dostoievski...
Tá aí mais um autor que tenho que arrumar tempo para ler. Acho que vou começar pela "Pedra do Reino".
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