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#AvanteOficina

Por: Breno

Um dos filmes que marcaram profundamente minha infância/inicio-de-adolescência foi o filme francês “Guerra dos Botões”. O filme é de 1962. Mas há também um remake de 2011 que ainda não vi, por isso falo da primeira filmagem da história. Se você tem preconceitos contra filmes antigos, este muito provavelmente o fará repensar seus conceitos.

Esse é um daqueles filmes surpreendentes que já tem mais de 50 anos de existência e que pode ser colocado para garotos de 10 anos assistirem com garantia de diversão. Guerra dos botões é uma das histórias mais divertidas que já presenciei frente a uma tela. Me lembro que certa vez estava procurando um filme para assistir no fim de semana em uma locadora com filmes um pouco mais difíceis de encontrar. Quando encontrei guerra dos botões de maneira casual tive a certeza de que uma das tarefas do fim de semana já estava traçada. 

Fiquei com medo de rever e desfazer a incrível imagem que o filme imprimiu em mim. Engano! O filme era mais sensacional do que eu mesmo me lembrava. 

Na minha infância um dos meus tios foi proprietário de uma livraria que abrigava também uma locadora de filmes. Quando o negócio acabou uma variedade enorme desses filmes e livros ficaram guardados em um quarto que de quando em vez tínhamos acesso por incentivo deles. 

Era uma época em que os primos, todos da mesma faixa etária, moravam em casas umas do lado das outras, mais os agregados de fim de semana. Época maravilhosa para uma criança! Em um contexto desse, assistir guerra dos botões foi uma mistura explosiva pra cabeça. Assistir a essa guerra de meninos (e meninas) passada na França na década de 60 foi um “pé na porta”, radical! Queríamos estar na tela, queríamos ser eles!

 O filme tem cenas impagáveis de comédia. E na maioria das vezes a comédia é construída a partir de um retrato cru da inocência das crianças que conduzem a história do filme. A inocência, que ao mesmo tempo é engraçada, chama a atenção por sua beleza. Sua sutileza nos atrai e prende nossa atenção. Talvez em alguns surja um sentimento profundo de saudade de uma inocência perdida que as crianças já não têm mais o direito de experimentar. Em alguns (como em mim) talvez seja uma saudade de um tempo em que nunca se viveu exatamente, mas no qual é possível fazer um paralelo. 

O humor é exato e explora as aventuras que se vive na rua, no lago e na pescaria, no contato direto com o ar livre e com um grupo de crianças que não estão cercadas de cuidados o tempo todo. O filme é uma ode à rua. 

A “guerra de botões” tem esse nome por uma ética que se impõem mesmo nas guerras. Quando se captura alguém do outro lado não é permitido tudo, mesmo as crianças percebem essa realidade. Aquele que está do outro lado também merece ser respeitado. É a lei natural das coisas. Quando se faz um prisioneiro, arrancam-se os botões (caros na época) da roupa do oponente, que provavelmente levará o castigo dos pais.

A inocência no filme de Yves Robert (diretor do filme) não é um mero lugar idílico, paradisíaco, sem conflitos, sem arranhões e sem perigos. A inocência é um lugar onde está presente também a violência da guerra entre os meninos dos “povoados” antagônicos de Longevernes e Velrans. A inocência desse mundo faz com que a violência seja estilizada ao seu próprio modo, assim como a inocência é o lugar do aprendizado da amizade e da rivalidade, do significado da honra e da desonra, da convivência com o conhecido e a abertura para o desconhecido. 

Interessante e divertida também é a cena na qual as crianças criam um “imposto” para financiar a guerra. Já que o filme é francês, é interessante notar também que a inocência é o lugar de aprender a lidar com as questões políticas mais amplas, que no caso daquele país significa lidar com uma noção mais republicana da vida coletiva. 

A inocência reformula o mundo com todos os seus elementos e à sua própria maneira. É o local de um primeiro aprendizado e também dos primeiros erros fundamentais acerca de todos esses valores em questão. Os erros e as confusões, as encrencas em que se metem, também têm peso no filme e suas conseqüências também são retratadas. A cena da entrada das crianças na vila onde moram logo depois de terem feito uma grande bobagem é um exemplo disso. 

Guerra dos botões é um filme complexo e com grandes qualidades. O filme não tem um ponto alto ou uma grande virada na história que nos surpreenda. O que de fato nos surpreende é como pode haver complexidade na simplicidade da infância e da vida dos calmos vilarejos de Longevernes e Velrans. O que nos surpreende é como essa complexidade pode ser encarada de maneira simples por essas crianças. O ponto alto de guerra dos botões é o filme todo. 

Para aqueles que sofrem daquele preconceito crônico em relação a filmes antigos, eu digo, estão perdendo muito em qualidade cinematográfica. Perder esse medo só se faz com a experiência de bons filmes antigos. Guerra dos botões pode ser um remédio perfeito! Além disso, essa “guerra” pode nos ajudar a ampliar ou relembrar nossos conceitos do que é ser criança e do que é ser inocente.

Breno Rabello
Mestrando em Sociologia (UFRJ) / Oficina de Valores

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