O dia 10 de setembro tem um significado especial em minha
história. Foi no dia 10/09/2011 que eu e a Carol nos casamos. Desde então,
nessa data me detenho a pensar um pouco no significado da decisão que tomei e
nos desdobramentos dela em minha vida.
Neste ano resolvi
escrever um pouco para o blog sobre o casamento. Faço isso por três motivos: 1)
colocar os pensamentos em palavras faz com que tenha um pouco mais de clareza
sobre o mistério que é a relação conjugal; 2) Faz tempo que me pedem para
escrever algo sobre o matrimônio. Até me aventurei a falar um pouco no texto
“Por que as pessoas choram em casamentos”, mas queria acumular um pouco mais de
estrada antes de tentar dizer alguma coisa mais substancial; 3) Escrever é uma
forma de prestar uma pequena homenagem àquela que nesses nove anos (seis de
namoro e três de casamento) foi (e é!) uma das maiores causas de felicidade em
minha vida.
Chega de introdução e vamos aos “finalmentes”:
Nos meses que antecederam meu casamento algumas experiências
me marcaram. Uma das principais foi a alegria que as pessoas demonstravam
sempre que a Carol e eu dizíamos: vamos
nos casar! Confesso que até tento entender as reações, os sorrisos, a
empolgação. Provavelmente se perguntarmos para as pessoas que assim reagiram
qual foi o motivo de tais gestos, elas responderiam que é porque gostavam muito
de nós. Mas a coisa parecia ir além... Não estavam felizes apenas porque nós
estávamos (e estávamos muito), a impressão era de que a notícia era ouvida como
uma boa nova, como algo grandioso.
E tendo vivido a experiência “na pele” pelos últimos três
anos, posso dizer que a intuição estava
correta: é grandioso mesmo. Penso que casar-se e começar uma família é como que
fundar uma pátria, embarcar em uma aventura, gerir uma empresa e celebrar um
ritual sagrado. Tudo isso ao mesmo tempo! E essas coisas são todas feitas por
duas pessoas comuns que na maior parte das vezes nem percebem como é
extraordinário aquilo que estão vivendo.
Creio que uma das coisas mais bacanas do casamento é essa
“inconsciência do fantástico”. Um casal, quando vive bem o sim que deu no dia
em que tudo se iniciou, constrói no dia a dia anônimo uma verdadeira obra de arte.
Em um matrimônio bem vivido, o extraordinário é travestido de comum; um bom
dia, uma preocupação com o outro que ficou doente, as contas feitas juntos, a
preparação para paternidade/maternidade, os sonhos, as alegrias, as tristezas e
desavenças. Tudo isso se entrelaça e constrói algo que faz do cotidiano nada
menos que uma realidade mágica. Ainda que essa magia seja na maior parte das
vezes invisível, basta prestar atenção para perceber que ela está sempre lá.
Essas reações positivas, no entanto, não foram as únicas que
encontrei. Era comum também ouvir frases do tipo: “Tem certeza?”, “Se eu
pudesse voltar atrás não teria casado”, “No começo é tudo bom, mas depois você
vai ver só”. Lembro-me de um senhor que não tinha nenhuma intimidade comigo e
disse: “Sou casado faz dezessete anos. Não quero te desanimar, por isso não vou
falar nada”.
Lembro que ficava bastante chateado ao ouvir tais
declarações, mas me calava, afinal, tais pessoas normalmente apelavam para uma
experiência acumulada que eu realmente não tinha. Suas declarações davam a
entender que as pessoas mudavam muito depois que casavam, e mudavam para pior.
Hoje posso dizer que julgo que tais anunciadores da desgraça estavam certos e
errados ao mesmo tempo.
Errados porque ninguém muda da noite para o dia. Uma pessoa
é a mesma antes e depois de casar. O sacramento não faz com que brotem defeitos
que não existiam. Eu, por exemplo, sou distraído e desorganizado. Era assim
antes de casar, continuo assim depois de casar. A diferença é que agora, meus tropeços
afetam a Carol continuamente. Só para dar um exemplo, pelo menos por três vezes
ela reclamou porque eu distraidamente coloquei a toalha de rosto como tapete no
qual seco os pés após o banho (em minha defesa, digo que os dois têm a mesma
cor!). Eu nunca havia feito isso antes de casar, mas isso não é porque eu mudei
e me tornei mais distraído. Não havia feito a troca simplesmente porque não
tinha tido oportunidade!
O que o casamento faz é colocar a relação em outro nível. O
outro continua o mesmo, a percepção que temos dele é que se torna mais
profunda. As pequenas máscaras caem uma atrás da outra; defeitos incômodos, que
ficavam escondidos, começam a aparecer. Isso, no entanto, não é por si
negativo. É exatamente esse aprofundamento na relação que permite que
percebamos melhor certas limitações e egoísmos... E a partir daí a melhora pode
acontecer. Creio que hoje sou ao menos um pouco melhor justamente porque o
casamento revelou limites que, aos meus olhos, ficavam ocultos.
Vale ainda ressaltar que o aprofundamento de uma relação não revela apenas trevas. Muita luz e bondade aparecem também. Creio que quando vivida em uma dinâmica de amor e abertura, a convivência diária faz com que o aquilo que nos encantou no outro fique ainda mais visível. A admiração é então a consequência natural.
Seria injusto e mesmo irreal, no entanto, dizer que o
casamento não opera nenhuma mudança nos que casam. É claro que as situações
afetam as pessoas. Daí vem a importância de cuidar para que tais situações
sejam cultivadas da melhor maneira possível. Quando há fechamento ao diálogo,
anulação de um dos lados em prol de caprichos do outro, ou uma luta para ver
quem vence as discussões... aí a coisa corre sério risco de desandar. Mas
friso, não é necessário que isso aconteça. Sem querer cair no clichê, mas não
conseguindo fugir dele, digo apenas que um casamento é bem parecido com uma
planta. Se não for bem cultivada, pode morrer. Ou mesmo que não morra, provavelmente
ficará murcha.
O matrimônio, assim como toda vocação, é ao mesmo tempo um
dom e uma tarefa. Dom porque é um presente que não conseguimos nem medir um
tamanho. A possiblidade de amar e ser amado, de viver um amor fecundo, de ter sempre
alguém diferente com quem trocar ideias. Tarefa porque o casamento envolve
vários desafios no dia a dia: conciliar opiniões divergentes, planejar um
orçamento, perceber que o outro também tem necessidades, harmonizar humores,
respeitar preferências divergentes... Enfim, a lista é grande. Esses desafios,
no entanto, não estão destinados a matar o laço que um dia uniu o casal. Muito
pelo contrário, é justamente o lidar com eles que faz com que a relação
amadureça.
Terminar um texto desses é difícil. Com certeza voltarei ao
assunto outras vezes. Por hoje deixo
como conclusão algumas frases que a Carol e eu dissemos aos nossos convidados
três anos atrás e que hoje poderíamos repetir com uma convicção ainda maior:
“Carregamos também a
convicção de que a felicidade não consiste em viver cotidianamente coisas
extraordinárias, mas viver extraordinariamente as coisas cotidianas. O dia a
dia não é inimigo do amor, mas o único lugar onde o amor verdadeiro pode
florescer. Começamos... O melhor está por vir... Obrigado por tudo. Continuem
rezando por nós.”.
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia, fundador da Oficina de Valores. Esposo da Carol!
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