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Essa
terra sem lei chamada Facebook me deu um jato de água fria hoje quando me dei
com uma imagem com várias curtidas e comentários de aprovação. Claro que já
passei por isso muitas vezes (ainda mais em época de eleição!), mas hoje fiquei
pensando muito em como muita gente, de fato, pensa assim.
A frase
é de uma música muito famosa, Infinita
Highway, que diz: “não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos
ir”.
Sério,
Humberto?
Até
entendo se pensar que há toda uma vibe
sou-jovem-revoltado-subversivo-vocês-não-me-mandam-vou-agir-vive-la-revolución-guevara.
E acho muito válido que haja esse impulso emocional quando a gente tem uns 14
anos e acredita que tá tudo errado com o mundo e que raspar o lado da cabeça e
odiar pagode demonstra muito conhecimento político e uma postura de mudança. E,
de certo modo, que bom! Tem mesmo muita coisa errada com o mundo e a gente tem,
mesmo, que querer mudá-lo.
Se
estou certa, foi mais ou menos por aí que o autor deve ter ido. Trabalho com
literatura e que eu esteja liberta de super interpretações ou adivinhações, mas
acho que o clima da música e o da banda (Engenheiros do Hawaii) me dão essa
pista. Vamos mudar as coisas, não fiquemos parados, ainda que o caminho esteja
escuro é necessário ação.
Tá
certo? Tá.
Mas
precisamos, muito, sempre, com urgência, saber pra onde vamos. Dar um primeiro
passo inicia a jornada de milhares de quilômetros, diz a frase famosa, mas como
dar esse passo se não sei a sua direção? Entendo que talvez esteja esperando
muito de uma música que, provavelmente, pretendia era vender discos através dos
adolescentes que escrevem letras de música na capa do fichário (quem nunca?),
mas a gente tem que pensar que a revolta, a vontade de mudança, o incômodo têm
que ter uma origem e uma destinação.
É muito
fácil criticar “o governo”, “a carga tributária”, “o sistema”, “os pais”;
difícil é saber quem foi lá ler a lei, quem foi lá criar o filho, quem estava
lá fazendo acontecer. E é através desse conhecimento que podemos adquirir as
ferramentas necessárias pra alterar as realidades que não nos agradam, que não
nos comportam ou que não nos servem. Não basta saber que se está infeliz ou que
há algo errado – é necessário identificar os problemas para pensar as soluções.
Partir para uma ação sem objetivo, planejamento ou foco pode resultar uma busca
vazia ou, pior, levar-nos a uma situação ainda mais desagradável. De uma forma
ou de outra se desperdiça tempo, energia e permanecemos em um loop em que nada
se realiza.
Para
além do fazer críticas, que possamos ter a vontade e a iniciativa de conhecer
(a nós mesmos e nosso meio, no sentido mais amplo possível) para que daí
tiremos conclusões nossas e, de posse desse cabedal, possamos saber pra onde
vamos, como vamos, quem vai conosco e, arrisco, até se vai chover no caminho.
Se não chover, claro, acontece: não temos bola de cristal (mas o guarda-chuva
nem pesa tanto assim).
Joyce Scoralick
Mestre em Estudos Literários / Oficina de Valores
1 comments:
Caraca Joyce, simples e cirúrgico. Muito legal o texto e, sim, esse me representa...
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