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Por: Gustavo Lima



Sobre lembrar, sonhar e realizar

A nostalgia é um sentimento (um estado de espírito) quase universal. É das coisas mais comuns do mundo ver pessoas, especialmente velhos amigos, falando saudosamente sobre o passado “fantástico” que viveram. Acho que não conheço uma só pessoa que nunca tenha tido pelo menos um momento nostálgico na vida. E que bom! Sinal de que todos temos boas memórias para guardar.

Mas é curioso notar que, à exceção da infância talvez, as pessoas costumam ter acessos ou longas fases de profunda nostalgia em todas as fases da vida: o adolescente reclama a perda da infância; o jovem suspira ao pensar no tempo livre da adolescência diante da dificuldade de tornar-se adulto; o adulto sofre a lembrança da liberdade e da diversão da juventude. Enfim, as pessoas são nostálgicas enquanto vivem momentos da vida que mais tarde lembrarão com nostalgia. De novo digo que é, no mínimo, curioso.

Isso me leva a crer que essa saudade não significa que, de fato, o passado fosse melhor do que o presente é. O que acho que acontece é que temos uma tendência a achar que o que não temos (nesse caso, “não temos mais”) é sempre melhor que o que temos. E acabamos tendo melhor memória (ou imaginação) para as boas experiências que já vivemos do que para as boas experiências de hoje. Dou por exemplo que outro dia me ocorreu pensar ao sair de uma aula cansativa “ah!, comparado à faculdade, o colégio era o paraíso.”, enquanto deixava a sala antes do término da aula para jogar bola, sem pedir permissão de ninguém, o que nunca poderia fazer no colégio.

Naquela história do “eu era feliz e não sabia”, na verdade, é bem possível que você fosse, no mínimo, tão feliz quanto hoje. Talvez até menos feliz ou mais infeliz (“copo meio cheio ou meio vazio”, cada um sabe seu grau de otimismo... ou pessimismo).  A verdade é que toda fase da vida tem seus “prós e contras”, lazer e responsabilidade, suas alegrias e tristezas. Mas o lado negativo tenta-nos a fugir para outro “lugar” em que só hajam coisas boas. As fugas mais rápidas: a lembrança do passado e a projeção do futuro, a memória e a imaginação, a nostalgia e o sonho.

Na primeira história da saga de Harry Potter (é, a série de textos sobre HP acabou, mas eu não resisto), há um objeto curioso, o espelho de ojesed (pra quem nunca notou, “desejo” ao contrário). Uma pequena passagem do livro narra como Harry e Rony o descobrem e o que ele faz: é um espelho que mostra não um reflexo do real, mas uma imagem do que a pessoa mais quer na vida. Diante dele, Rony se vê mais velho, capitão do time de quadribol, monitor, ganhando prêmios na escola, sua família o reverenciando... E pergunta: “Será que esse espelho mostra o futuro?”. Harry responde que certamente não, já que o que ele vê no espelho são seus pais já falecidos.

Projetar um futuro melhor que o presente, ou sonhar, é ótimo. É uma atitude de esperança, uma digna aspiração de felicidade. Mas corre-se o risco de viver de pensamentos fantásticos, empolgantes, e esquecer de viver o presente, com o que ele já tem de bom, e de maneira a realizar essas aspirações. “Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver”, é o que diz Dumbledore ao descobrir os meninos usando o espelho. Mas os sonhos têm sobre as memórias uma vantagem: a possibilidade de serem vividos ainda.

A nostalgia em excesso faz viver um desejo irrealizável de retorno ao passado (que projetamos na imaginação sempre muito melhor do que realmente foi). “Ah, se eu pudesse voltar no tempo...”: quisera eu que toda pessoa, inclusive eu mesmo, pudesse de fato voltar no tempo nesses momentos e constatar que, contra toda expectativa, o presente é de fato melhor que o passado. E se eu estiver errado, se o passado foi realmente extraordinário, fantástico e maravilhoso, eu ainda insistiria que, não podendo revivê-lo, é melhor pôr os olhos no presente e vivê-lo para fazer dele ainda melhor. “Mermão, passado é passado”, diria eu, não fosse este aqui um texto escrito, mais formal.

Guarde suas memórias com carinho (elas, além de agradáveis, serão úteis quando faltar assunto nos reencontros com velhos amigos), mas trate de viver um presente digno de sorrisos hoje e digno de saudade amanhã. Não estivesse morto e acompanhasse um blog trouxa, Dumbledore certamente diria após ler meu texto e fazer uma pausa longa e dramática: “De fato, pior que viver sonhando e esquecer de viver é viver lembrando e esquecer de viver.”


Gustavo Cardoso Lima
Estudante de Jornalismo/Oficina de Valores

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