Imagem: divulgação
Quarteto Fantástico – Resenha
Existencial
Costumo dizer que ninguém é a sua
fama. As pessoas são melhores ou piores do que aquilo que falam delas. Nunca
são exatamente iguais aos discursos que buscam descrevê-las. Não sei se a mesma sentença pode ser aplicada
a filmes e livros, mas creio que, guardadas as devidas proporções, a relação
entre a crítica e a obra criticada pode ser pensada a partir do mesmo princípio.
Como os leitores do blog,
provavelmente, já sabem, sou fã de histórias em quadrinhos. Mais
especificamente ainda, gosto demais de quadrinhos de super-heróis. Nesse
contexto, costumo acompanhar as produções cinematográficas que adaptam
personagens de “hqs” com certo interesse. Não dedico a tais produções a mesma
atenção que tenho para com os quadrinhos, mas fico empolgado e tenho uma boa
diversão com vários dos blockbusters
da Marvel e da DC. Deixo claro que não julgo tais filmes obras primas do
cinema, mas admito que acho muita coisa legal neles.
O mais recente desses filmes foi
“O Quarteto Fantástico”, grupo da Marvel cujos direitos para o cinema estão com
a Fox. Assisti ao filme pouco mais de uma semana depois de sua estreia e sempre
que comentava com algum amigo que desejava assistir logo, ouvia as seguintes
frases: “Tem certeza?”, “Tá todo mundo dizendo que é uma bomba”, “Se eu fosse
você, não iria não”. Diante de tais conselhos, eu justificava:
“Cara, eu vou. Nem que seja para falar mal depois. É meu grupo favorito da
Marvel”.
Bom, eu fui. E agora nem vou
falar tão mal assim. O filme realmente não é um marco dos filmes de
heróis. Comete alguns grandes erros, mas
no final das contas fica na média de tal tipo de filme, sendo melhor do que
vários que não foram tão execrados. Exemplos? Thor 1 e Thor 2, Homem-Formiga,
Homem de Ferro 3 (este último tem uma das 10 maiores bilheterias da história do
cinema).
Para não dar a impressão de que
está sendo realizada uma “defesa pela defesa”, vamos começar apontando alguns
dos defeitos para em seguida falar das qualidades do filme.
Quarteto Fantástico, como quase
todos os filmes de super-heróis, é lotado de clichês. Alguns deles bem rasos. A
ideia do gênio precoce que não é reconhecido no colégio é uma delas. Soa muito
inverossímil que um moleque que criou uma máquina revolucionária não tenha sido
percebido até uma fortuita feira de ciências. O fato de ele parecer
completamente alheio à fundação Baxter também causa estranheza. A invasão ao
ferro-velho também é algo que já vimos diversas vezes em filmes
infanto-juvenis. Nesse momento parecia
que eu estava assistindo ao “clássico da sessão da tarde”, Viagem ao Mundo dos
Sonhos, onde três garotos constroem uma nave espacial com sucata.
Os atores poderiam ter dado mais
carisma aos personagens. Nesse contexto, uma aproximação maior com os
quadrinhos teria ajudado. Reed Richards, por exemplo, parecia mais Peter Parker
do que o cientista revolucionário com toques de arrogância. Tudo bem que a
versão que baseou este quarteto não foi a clássica de Stan Lee e Jack Kirby,
mas o recente “Ultimate Fantastic Four”; contudo, vários elementos
interessantes, e que poderiam ser facilmente inseridos, foram deixados de fora.
Outro erro grave foi a forma como
foi construído o “Doutor Destino”. O personagem, um dos mais legais da Marvel, perdeu
todo o encanto. Ficou um vilão genérico, sem personalidade. Dado o resultado,
seria melhor que tivessem criado um antagonista exclusivo para o filme. Mas do
jeito que foi, queimaram uma bala que poderia ser muito interessante numa
possível sequência.
Além disso tudo, o final foi
abrupto com tudo sendo resolvido de maneira fácil. A batalha final foi algo
constrangedor de tão mal feita. E os
efeitos especiais deixaram da desejar.
Caramba, então sobrou alguma
coisa boa? Algumas coisas, a meu ver.
Em primeiro lugar, Quarteto
Fantástico tenta ser diferente dos demais Super
Heroes Movies, apostando não numa trama de ação e suspense, mas em uma
história de ficção científica com alguns toques de terror. O filme também tenta sair da fórmula pronta
de “ação e humor” do Marvel Studios,
tão bem-sucedida comercialmente. E devo dizer que, em vários momentos, o filme
conseguiu alguns efeitos bem interessantes.
A cena na qual testemunhamos o
aparecimento dos poderes do Quarteto é bem bacana. A motivação para a
imprudência dos jovens pesquisadores também. O isolamento do Coisa é bem
construído. O diretor tenta dar espaço a todos os personagens e os traços
definidores de cada um são apresentados. Reed Richards é o gênio isolado. Bem
Grimm, o amigo fiel. Johnny Storm, o filho que quer marcar diferença do pai distante.
Susan Storm é a que mais deixa a desejar, mas a ideia da capacidade de
reconhecer padrões tem bom potencial.
Além disso, há muitas portas
interessantes que o roteiro abre e que, infelizmente, não fecha tão bem. Reed
Richards visto como um covarde que abandona os amigos. A tensão da família
Storm com o Tocha Humana desejando ser agente do governo, enquanto sua irmã
e seu pai querem evitar que ele seja usado como arma. A visão que o Coisa tem
de si como alguém que só serve para bater e que perdeu toda a vida. A relação
conturbada entre ele e o amigo de infância. Tudo isso está lá.
Outro ponto: Quarteto Fantástico
tem muito menos ação que a maior parte dos blockbusters
de super-heróis. É um filme com um roteiro cheio de problemas que tentou se
sustentar pelo roteiro. Boa parte dos
filmes tenta distrair o espectador do roteiro, apelando para ação ininterrupta
e efeitos especiais grandiosos. É legal
quando uma receita diferente é tentada. Nesse contexto, Quarteto é vítima do
próprio projeto. Projeto que, o resultado deixa perceber, poderia tornar o
filme fantástico, mas que infelizmente fez com que fosse mediano. E por que foi
assim?
Não é segredo para ninguém o jogo
de empurra feito entre a Fox e o diretor Josh Trank, com um lado querendo
culpar o outro pelos problemas apresentados no longa-metragem. Como dados
concretos do imbróglio, temos o seguinte:
roteiro aprovado com atraso, mudanças constantes na história, fortes
conflitos na equipe de produção, cortes no orçamento. Esse contexto todo ajuda a explicar a
sensação de oportunidade desperdiçada que o filme passa.
Antes de encerrar, quero voltar
ao início da resenha e comentar o que mais me marcou nessa minha aproximação
dessa adaptação do “Quarteto Fantástico” para as telonas. A totalidade das pessoas
buscaram impedir que eu perdesse meu tempo não tinha assistido ao filme. Apenas
visto a repercussão negativa que o mesmo teve na internet. Ou seja, não tinham
tido contato com a coisa, apenas com o discurso sobre ela.
Claro que ouvir os outros e levar
em conta suas opiniões não é um mal. É até um bem. Mas numa época em que a
confiança depositada em uma ideia é diretamente proporcional ao quanto ela foi
replicada nas redes sociais, é saudável desconfiar dos “hypes” e dos consensos
de internet.
Claro que a opinião sobre um filme é questão de
gosto. E muito do que falam sobre os defeitos do Quarteto Fantástico está
correto. Mas eu me diverti vendo o
filme. Curti alguns pontos. Se o hype
conduzisse minha decisão, isso não teria acontecido. Tá certo que não seria uma
grande perda para minha vida. Foi só um blockbuster
bem mediano. Infelizmente essa
construção midiática de consenso não acontece só com histórias de ficção.
Ocorre com assuntos e situações bem mais sérios. Cabe então nunca abdicar de pensar.
Fundamental é sempre contrastar o que é dito com aquilo que o contato com os
fatos pode mostrar.
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - UFRJ / Fundador da Oficina de Valores
1 comments:
Sou muito fã das historias de Super-heróis mais Quarteto Fantástico me surpreendo muito, sua historia esta bem estruturada e os efeitos especiais me parecem muito bem cuidados, sem dúvida é uma produção muito boa, no entanto, ele precisa de algo para ser realmente bom. A verdade que eu vi esse filme do Michael B Jordan, como ator se compromete muito com o personagem. as filmes de Michael B Jordan têm seu estilo particular, ele sempre interpreta o seu personagem muito bem, e sobre tudo é diferente a todos os filmes. Eu admiro ele é incrível que qualquer coisa fica bem nele.
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