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#AvanteOficina

11:40
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Por: Thales




“Vivemos uma crise sem precedentes”.

“O cenário atual é sombrio”.

“País vive pior momento em décadas”.

Essa é a notícia mais veiculada em todos os jornais do país ultimamente. Só se fala em crise econômica, crise política, crise institucional, crise dos refugiados... crise. É claro que, por um lado, esta é uma palavra que a mídia sensacionalista gosta de pronunciar. Numa sociedade que se alimenta de escândalos e manchetes, a crise é um prato cheio para impressionar o leitor ou ouvinte. Por outro lado, porém, o fato desta palavra estar mais presente em nosso vocabulário que de costume é um bom indicativo de que vale a pena refletir sobre o atual estado das coisas. Afinal de contas, o que significa estar “em crise”? O que de fato quer dizer esta palavra?

Em primeiro lugar, estar em crise significa estar em uma situação desfavorável. Quando, por exemplo, a economia vai mal, e parece que está dando tudo errado economicamente, dizemos que estamos numa “crise econômica”. É a situação onde as coisas estão ruins e a perspectiva não é muito boa. Nesse sentido, a crise não indica um estado permanente, mas sim um estado de incertezas, justamente por ser um momento de mudanças. Estar em crise é estar em travessia. Certamente que, por mais pessimistas que sejam, nenhum economista, sociólogo ou cientista político seria capaz de afirmar que a crise brasileira vai durar para sempre. Uma hora a crise passa.

O problema, então, não é dizer que “estamos em crise”. Em certo sentido, nós sempre estivemos e sempre estaremos em crise, ou na iminência dela. Nunca vamos estar num estado em que a mudança radical não seja possível. O problema, na verdade, está na gravidade de acreditarmos que a crise política e econômica é “a maior crise de todos os tempos”.

Bem, eu não entendo nada de política, muito menos de economia; isso é verdade. Mas digo com a maior segurança do mundo: esta não é a maior crise de todos os tempos. Esta não é a crise mais profunda que cada um de nós, hoje, tem que atravessar. Acreditar nisso é enganar a si mesmo. Não parar de anunciar isso a todos os cantos é enganar os outros.

A crise que nós vemos se desenrolar hoje na sociedade é na verdade uma crise muito pequena comparada a uma outra, da qual é apenas a consequência. A maior crise de todos os tempos, para mim e para você, não é a crise do país, da sociedade.  É a crise da minha e da sua vida. Mudar a nossa própria vida tem que ser, para mim e para você, muito mais urgente do que mudar o mundo.

Vivemos um tempo de travessia, isso é verdade. Mas esta travessia é muito mais dramática do que os números da bolsa de valores, ou quem sobe ou desce na dança do poder. Temos que atravessar os dramas dos nossos defeitos, das nossas limitações. Dos nossos egoísmos e nossas mesquinharias. Arrisco dizer até que o mundo nunca será salvo, se antes não forem salvas as pessoas. Porque o mundo são as pessoas. A maior contribuição que você pode dar para transformar o mundo é, então, transformar a si próprio.

A palavra “crise”, no original grego, significa “decisão”. Ou ainda, mais propriamente, a decisão tomada por um juiz sobre o réu. Crise é sentença. Estamos em crise, é verdade. E isso quer dizer, antes de mais nada, que a nós é exigida uma decisão sobre a nossa vida. Somos, nesta crise, os juízes e os réus. Diante dos nossos defeitos, diante da mudança que se faz necessária em nossa vida, nos é exigida uma decisão, uma sentença. O tempo de decidir não é o tempo de reclamar. Temos sim que denunciar, que debater, que lutar por um mundo melhor. Mas só podemos fazer isso depois de nos comprometermos a mudar em nós o que está errado com o mundo.

A palavra crise deve ainda possuir para nós um outro e importante significado. Diante de tanta desigualdade, tanto sofrimento, tanta injustiça...  devemos ser nós a crise no mundo. Temos que incomodar, colocar o mundo num estado de travessia. Nossa vida tem que ser vivida de um jeito que faça com que o mundo, ao se deparar com nosso testemunho, seja obrigado a tomar uma decisão.

“A maior crise de todos os tempos”. É verdade. Para mim e para você, esta é a maior crise: o agora. Para cada um de nós, a única crise que vale a pena arriscar tudo para atravessar é a crise em que vive a nossa alma. O mundo só estará pronto para a verdadeira crise quando cada um de nós for capaz de atravessar a sua própria.

“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os caminhos que nos levam
sempre aos mesmos lugares…

É o tempo da travessia…
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.”


Fernando Teixeira de Andrade



Thales Bittencourt
Doutorando em Filosofia - Oficina de Valores

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