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#AvanteOficina

Por: Alessandro
Imagem de blogesportes.ig.com.br


Sim, eu sou é Tricolor!

Falar do Fluminense é difícil. Difícil em vários níveis. Num nível mais objetivo, a dificuldade está relacionada à situação privilegiada do time no que diz respeito às letras: poucos clubes, talvez nenhum, tem a alegria de ter tido tantos torcedores escritores. O maior dos cronistas de futebol do Brasil, o grande Nelson Rodrigues, era torcedor do tricolor carioca. Resumindo: parece que tudo já foi dito. E com melhores palavras que aquelas que vou utilizar.

Há, no entanto um segundo nível de dificuldade. E esse é existencial. Diz respeito não a todos, mas a mim. É difícil escrever sobre o Fluminense porque torcer pelo clube é parte importante da minha história recente. Parte que ainda não consigo medir o tamanho e nem ter dimensão das consequências. Falar do Fluminense envolve pensar não apenas em conquistas e derrotas, na bola rolando ou em goleiros e atacantes, mas em mim, nos laços com pessoas queridas, na rivalidade com amigos, em discussões acaloradas e em gargalhadas sinceras. Enfim, alguém já disse que o futebol serve como metáfora para tudo. Às vezes desconfio que a coisa vá além das meras metáforas...

Tendo em mente os meus limites, vou falar do querido tricolor do único jeito que consigo: Partindo da minha, ainda pequena, experiência. Não é exagero dizer que nasci torcedor do Fluminense. Sou filho de pai tricolor e, embora não me lembre de meu pai ficar fazendo minha cabeça, nunca sequer cogitei torcer para outro time. Ser Fluminense era uma coisa “natural”, tão presente em mim quanto meu sobrenome ou, sei lá, a cor dos meus olhos.

Acontece que, como em tantas outras coisas, a riqueza recebida não significa riqueza usufruída. Eu era tricolor, mas não ligava muito para o Flu ou mesmo para o futebol. Ficava sabendo de um ou outro resultado, vibrei com o gol de barriga do Renato Gaúcho, fui um pouco “zuado” pelos rebaixamentos; mas tudo isso era mais um pretexto para ter conversa na roda de amigos que propriamente torcida pelo clube. Resumindo: Eu era um tricolor não praticante! E assim fui durante 26 anos.

Tudo mudou nos anos de 2008 e 2009. Para quem é tricolor não preciso nem dizer o que aconteceu nesses anos. Libertadores. Copa Sul Americana. Fuga do rebaixamento. 

Em 2008 resolvi assistir junto com meu pai e meu irmão os jogos do Flu na Copa Libertadores da América. Admito que fiz isso mais para estar com eles. E realmente estive. Vibrei junto! Fiquei com raiva. Fiz de tudo para chegar em casa a tempo dos jogos. Fui sendo cativado aos poucos, sem perceber direito. E na final...fui fisgado!

O último jogo começou no dia 2 de julho e terminou no dia 3. Dia dois é aniversário da minha esposa, na época ainda namorada. Dia três é meu aniversário. Reunimos as famílias lá em casa e vimos o Flu jogando muita bola. Tiago Neves nunca mais fará um jogo como aquele. Apesar de tudo, o Tricolor perdeu nos pênaltis e o tão sonhado título da Libertadores foi adiado.

É até difícil dizer o que experimentei naquele dia. Lembro o olhar do meu irmão após o último pênalti. O clima de velório depois do jogo. Recebi os parabéns mais desanimados de toda a minha vida. Eu também estava triste pra caramba! Fui dormir todo cabisbaixo. Pensei que era bobeira sentir aquilo, que se o jogo tivesse sido um ano anos eu falaria “que pena”, mas não ligaria tanto... Mal sabia eu que, em meio a tristeza da perda, o não praticante tornava-se um verdadeiro torcedor.

Veio o ano seguinte. Faltando dez rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, o Fluminense tinha 98% de chances de ser rebaixado. Ao mesmo tempo disputava a Copa Sul Americana. Mais uma vez a final. Mais uma vez perdemos o título para a LDU e para a altitude. E a torcida gritava “TIME DE GUERREIROS”. Não fomos rebaixados desafiando assim todas as previsões dos matemáticos. E na cidade de Petrópolis um rapaz, até então pouco amante do futebol, tornava-se cada vez mais um verdadeiro tricolor.

Indo direto ao ponto: tornei-me tricolor vendo meu time perder títulos e jogar um bom futebol. Os títulos vieram depois. Depois da tristeza veio a alegria. Mas o mais fantástico de tudo é que só depois de começar a torcer e sofrer pelas derrotas, pude realmente sentir alegria pela vitória. Quem ama um time porque ele é vencedor nunca sentirá a real alegria quando ele vencer. Torcer é sofrer. Torcer também é festejar. É justamente esse sofrimento que vem das contingências e perdas que torna tão intenso o sabor dos ganhos e conquistas. Como disse C.S Lewis: “a tristeza de agora faz parte da alegria de então”. É tudo parte do mesmo bolo.

Sair da confortável e insípida situação de Tricolor não praticante teve consequências. As derrotas passaram a doer mais, os erros dos juízes a incomodar. Enfim, arrumei problemas que não tinha. Esses problemas, no entanto, só vieram porque deixei-me fascinar por uma história, por uma tradição, por um clube, por um esporte. E não é possível envolver-se com algo grande sem importar-se verdadeiramente com esse algo. E nessa dinâmica de importar-se descobrimos grandes riquezas: novos laços, novas alegrias.

Se aprendi algo com o Fluminense foi que ser e não praticar é quase não ser. E isso não é um bom negócio. Evita sofrimentos, mas não traz felicidade. Apenas um tédio morno e desinteressado ou esporádicas situações de alegria superficial. Isso vale para o futebol e para inúmeras outras coisas. A esperança é que debaixo das cinzas, normalmente ardem brasas que tem o potencial de virarem fogueiras.

Tricolor de Coração. Sou do Clube tantas vezes campeão. Mas não apenas isso. Sou do clube que fascina pela disciplina. Empunho uma bandeira de três cores que traduzem tradição. Faço parte de uma história que é muito maior que a de um simples torcedor, mas que ao mesmo tempo é a minha história. E isso só foi possível porque um dia comecei a praticar. Saí do quase. Até então, “Fluminense” era apenas a resposta àqueles que perguntavam “qual é o seu time?”. A partir de então, tornou-se realmente meu time. E eu tornei-me aquilo que já era e fui bem mais feliz por isso.

É com muita alegria que hoje, como muitos já o fizeram antes de mim, eu posso REALMENTE dizer e repetir:

Sim, eu sou é Tricolor!!!


Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia -UFRJ
Fundador da Oficina de Valores

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