Ouse não comparar
Ah, as comparações... O ser humano, com suas carências existenciais,
em vez de mirar em si mesmo, de planejar seu futuro, tem o vício de muitas
vezes se comparar, e pior, comparar as pessoas umas com as outras. Você compara
quando coloca uma pessoa do lado da outra com o propósito de enfatizar
diferenças entre elas ou mostrar semelhanças. Isso acontece com lugares e
coisas também.
O grande problema é quando essas comparações começam a fazer mal. Aqui
eu me refiro a basicamente dois casos de comparações: a comparação de mim mesmo
com outra pessoa e a comparação dos outros com os outros.
No primeiro caso, podemos ainda encontrar dois tipos de comparação:
“Eu sou muito superior a alguém”, (levando a um egocentrismo e orgulho exagerado)
ou, ainda, podemos lidar com um “complexo de inferioridade” (acreditando que o
outro será sempre melhor que eu, colocando-o em um “pedestal” e menosprezando a
mim mesmo).
O segundo caso (que julgo o pior) é comparar as pessoas umas com as
outras. O que dá esse direito a alguém? Quantas vezes eu já não escutei um
“nossa, por que você não é como Fulano?” “Fulano faz isso e isso, e você?”
Imagino que esse Fulano seja uma pessoa beirando a perfeição, de tanto que o
exaltam...
Cada um de nós é o que é, tem a sua própria essência, sua história.
Comparar é negar o outro!
Muitas vezes essas comparações acabam limitando as pessoas, uma vez
que uma barreira invisível é criada toda vez que você escuta dizer que há
alguém melhor que você, alguém que você se sente quase que obrigado a querer
ser. E como isso é irritante!
Como se não bastasse as pessoas compararem umas com as outras, você
acaba muitas vezes pegando essa “doença” e começa a se comparar com quem te
cerca e começa a acreditar que, de fato, tem algo errado com você.
Quando uma pessoa começa a se comparar com outra, ela começa a perder
sua identidade, pois passa a tentar imitar o outro, criar um padrão, como se só
aquele jeito de ser pudesse ser o certo.
Comparar-se com os outros não é saudável. É claro que não me refiro a
ter exemplos e se inspirar em alguém, não é isso. Inspiração é como um
combustível de um carro: se for bom, todos deveriam usar em seus carros, pois
seria algo eficiente, faria bem. Já a imitação é como se todas as pessoas
tivessem o mesmo modelo de carro, imaginem que chato, e aí a diferença.
Cada um de nós é único. Seria muita pretensão de nossa parte pensar
que somos o outro. Essas comparações afetam os relacionamentos porque,
principalmente em nossa família ou entre amigos, sentimo-nos no direito de dar
palpites na vida alheia. Obviamente, se vemos alguém próximo sofrendo, é nosso
dever alertar, mas viver a vida do outro causa um grande sofrimento, em
primeiro lugar porque nos desvia de nossa caminhada, nossa vida; e em segundo lugar
porque sufoca a outra pessoa sem que ela consiga decidir por si mesma, fazendo
com que fique dependente dos demais.
Talvez tenha parecido que eu seja uma pessoa que não aceita conselhos
ou que é a favor do “tem que errar para aprender”. Não é isso, pelo contrário!
Eu acredito sim que bons amigos devem alertar sobre possíveis “furadas” e ser
um “norte” em situações difíceis. O que não me parece certo são as comparações.
É aquele “o filho da Maria vai fazer medicina e você aí fazendo teatro”,
“Juninho já vai casar, e você? Vai ficar solteiro pra sempre?”
Algumas pessoas têm essa mania de dar “pitaco” na vida alheia, e
muitas vezes não é nem por preocupação, é mais por se intrometer, achar que é o
dono da verdade. Se cada um cuidasse da sua própria vida como cuida da dos
outros, o mundo teria bem menos gente frustrada, pois estas só são assim porque
a vida alheia, muitas vezes, lhe é mais interessante que a sua.
Muitas vezes, eu posso não saber ainda o que quero. E mais uma vez, espero não ser mal interpretada com a
ideia de que “ser um à toa na vida”, esperar que tudo se resolva e caia do céu
seja uma solução, não é isso. Mas também não é o outro que vai viver sua vida,
é você!
Atualmente, é assim que as coisas funcionam, com cobrança e sob
pressão, acredito que cada um saiba das suas responsabilidades e tarefas.
Em uma roda de amigos, é engraçado observar o tipo de assunto dos bate-papos.
Falar de pessoas alheias parece que é de lei. Mas os comentários são para falar
sobre qualidades ou destacar defeitos?
Em muitos casos, cuidar da vida dos outros pode ser tentativa de
esquecer os próprios fracassos e desilusões ou pelo fato de que na própria vida
não há nada de interessante para ser discutido. Criticar os outros é fácil,
difícil é melhorar a si mesmo.
São as diferenças que nos tornam pessoas incríveis. O empenho de
tentar ser igual a alguém a fim de sermos valorizados é um insulto ao nosso
verdadeiro ser. Deus teve o cuidado de fazer cada um diferente do outro e
também não fez ninguém perfeito. Imagina que tédio se fossemos todos iguais.
Podemos sim nos inspirar nas pessoas e em seus atos e tentar
desenvolver algo positivo em nós a partir disso, mas devemos fazer isso do
nosso próprio jeito.
Um sábio, certa vez, declarou: “Por que perder tempo em ver meus
defeitos, se as pessoas podem dedicar esse tempo a buscar suas virtudes?”
Termino com a frase que tem me guiado muito ultimamente: “Cobra mais
de ti e espera menos dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos.”
Mariana Freitas
Professora de Inglês
1 comments:
Excelente descrição de situações corriqueiras nas vidas das pessoas! Muito bem escrito! Parabéns Professora Mariana!
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