Uma banana pra mim, uma banana pra você
Eu gosto de
ganhar presente. Você também! Sabe como eu sei? Todo mundo gosta de ganhar
presente! E uma das piores sensações da vida é: esperar ansiosamente uma data
de ganhar presentes – Natal, aniversário, Dia das Crianças – e ganhar, sei
lá... meia. Sabe o que me parece? Que o autor desse ato de profundo amor
simplesmente não me conhece, ou me deu um presente que recebeu e não gostou. É,
amigos, eu estou dizendo que preferia um abraço.
Quando você é
criança, isso é menos comum. Todo mundo sabe como te agradar: brinquedo. E você
adora, tudo certo! Por isso, as “datas de ganhar presente” são ansiosamente
aguardadas.
Mas você cresce
e as pessoas acham que uma camisa (feia, parece que de propósito) ou um par de
meias cinzas são super legais. Sim, amigos, eu estou dizendo que, a isso,
preferia um brinquedo.
Salvem os tios
de bom senso, que, na dúvida, dão dinheiro – não, amigos, eu não sou um
mercenário.
Se você é uma
pessoa minimamente informada, sabe que na semana passada, um gerente de
restaurante da Tijuca, Rio, deu bananas de “presente” a três funcionários pelo
Dia da Consciência Negra. Se não viu, basta entrar em qualquer site de notícias
ou procurar no Google. O restaurante
pediu desculpa, ele foi demitido, mas saiu dizendo que “foi uma brincadeira”.
Se você estiver lendo, amigo gerente, desculpa, ex-gerente, saiba: se você
queria divertir, era melhor ter dado brinquedo.
Essa data é um
feriado recente, o Dia da Consciência Negra. Eu lembro da sua criação, quando
eu era ainda criança – e ganhava brinquedos. Precisei pesquisar pra saber o ano
certo, é claro: 2003. Este ano, a comemoração completou seus 12 anos, vamos lá,
deixou de ser criança. E parece que, como acontece com a gente, as pessoas
deixaram de se importar em fazer dela um dia especial. Como toda novidade, ela
“causou” no início – mas esfriou, perdeu o efeito. Nós temos uma incrível
capacidade de adaptação, que por vezes funciona como capacidade de acomodação.
Nem me refiro mais à data, mas ao preconceito.
É lógico que
esse feriado nunca foi unânime. Sempre foi questionado, sempre foi, para
algumas pessoas de consciência “negra”, uma desculpa para brincadeiras de mau
gosto. Aliás nós adoramos humor “negro”. Mesmo nós, “bonzinhos”. Sem maldade, né? “É só brincadeira!”. E, sem
perceber, nos tornamos instrumentos de reprodução daquilo que, no discurso, nos
posts de Facebook, abominamos.
“É só uma piada,
ele é meu amigo, não liga”. É triste que alguns dos nossos amigos negros não
liguem. “Mas ele faz piada de branco também”. É uma pena que você ache que isso
iguala as coisas. Afinal, ninguém nunca foi recusado num emprego, preso injustamente, escravizado por ser "branquelo azedo".
Dizem que toda
brincadeira tem um fundo de verdade. Mas o preconceito, no Brasil, é uma
verdade com um fundo de brincadeira. Isso não é humor, isso é sadismo. Você
gosta de piada? Fica com essa – é velha, mas cabe bem aqui: Uma das coisas mais
odiáveis do mundo começa com “pre” e termina com “to”: preconceito.
Gustavo Cardoso Lima
Estudante de Jornalismo
Oficina de Valores
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