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Por: Alessandro


Ainda vale celebrar o Natal?

Ao sair às ruas, é impossível não reparar nos enfeites coloridos nas casas, nas lojas, nas praças. O Natal aproxima-se. Junto com os votos de “feliz natal” e as campanhas caritativas tão típicas dessa época, chegam também as denúncias de hipocrisia e as considerações “antinatalinas”.

Há aqueles que dizem que o Natal é só uma data para celebrar o consumismo, para fazer com que as pessoas gastem mais do que têm. Uma data na qual presentes acabam por ser mais importantes que a presença. Há também os que se sentem incomodados com as relações forçadas em reuniões de famílias em que não gostariam de estar presentes. Sobrinhos reclamam dos tios enxeridos que forçam uma intimidade que não tem; tios reclamam dos sobrinhos cada vez mais mal educados e orgulhosos.

Há também algumas pessoas religiosas que todos os anos denunciam o Papai Noel dizendo que ele tomou o lugar do verdadeiro aniversariante. Há os que se entristecem com a data porque acaba fazendo com que se lembrem com mais intensidade daqueles que já não estão mais em nosso convívio.

Existem, por fim, aqueles que olham para as comemorações como um tempo de tédio que devem suportar para cumprir compromissos que julgam não serem tão importantes assim.

Dada essa situação, não é despropositado perguntar se vale a pena continuar comemorando a data. Claro que o feriado é bem vindo, mas ele pode ser mantido sem todas as formalidades envolvidas. Colocando de maneira bem direta: Ainda há sentido em continuar celebrando o Natal?

A resposta que acredito ser mais adequada é: sim e não.

Muitas das críticas às celebrações natalinas são críticas que dizem que elas não são o que deveriam ser. E dificilmente alguém concordaria que é uma coisa boa continuar insistindo em um erro. O Natal é mais do que tem sido e aquilo que fazemos acaba mais por esconder que por revelar a grandeza do significado da data. Acontece que deixa-lo de lado apenas porque não tem sido feito direito pode fazer com que joguemos fora algo muito valioso apenas porque está mal embalado.

É cair no lugar comum dizer que no Natal celebramos a vinda de Jesus Cristo ao mundo. O problema é que por ser tão comum é exatamente esse o lugar em que não prestamos atenção, que julgamos óbvio. No Natal, celebramos um Deus que resolveu pisar nosso chão, rir nosso riso, chorar nosso choro e empreender a aventura de viver como humano. Deus fez-se homem e isso abriu para a humanidade as portas da divindade.

É impossível alguém acreditar de verdade nisso e não se emocionar no dia em que convencionou-se celebrar tal fato. No dia separado para atualizar e fazer com que a grandiosidade do maior dos nascimentos possa ser percebida.

... Mas isso vale para os que creem. Que eles celebrem então! O que as pessoas que não acreditam que Jesus tenha sido Deus têm a ver com o Natal?

Concordo que tais pessoas não verão o mesmo significado na data. Mas, ainda assim, creio que para elas o Natal e a história do Deus que se fez menino possam ser significativos. Se os cristãos celebram o Natal como fato, os ateus tem toda a liberdade de celebrarem como uma lenda. Julgo eu que ganhariam muito em fazê-lo.

O grande Chesterton certa vez desafiou os ateus a procurarem um Deus com quem pudessem identificar-se. E disse que dificilmente encontrariam um com o qual pudessem ter tanta empolgação quanto o Deus dos cristãos. Esse é um Deus que julgou a companhia humana tão interessante que quis estar muito próximo desses seres tão engraçados e dramáticos. Um Deus que quis imitar os homens de maneira tão plena que veio a tornar-se um deles. Enfim, um Deus a quem nada que é humano é estranho.

Um ateu, além de celebrar uma lenda que considera bela, pode celebrar as consequências belas de uma lenda. Pode vibrar com a ideia de que no Natal são valorizados aqueles que infelizmente são considerados menos importantes. Pode sorrir porque o Natal quer lembrar a todos que um nascimento é algo tão grandioso que não pode deixar de ser comemorado. Pode celebrar o ensinamento do amor ao próximo e ideia de que a humanidade é divinizada.

Claro que isso não significa que os ateus devam ir às missas, embora sejam muito bem vindos, caso desejem ir. A celebração do fato é diferente da celebração da lenda. Cristão celebram rezando, imitando e festejando. Os ateus podem celebrar festejando e imitando, apenas. 

Claro que isso não resolve de imediato alguns dos problemas levantados no começo: parentes inconvenientes, tédio, inversão de valores... mas ao menos aponta um caminho. Quando o significado é claro, as ações vão se acertando.

Além disso, há um valor nessas reuniões natalinas que normalmente não é mencionado. Está certo que todo ano as piadas são as mesmas, tudo bem que por vezes as conversas podem não fluir tão bem e que o choro pelos que já partiram acaba sendo inevitável, mas nesse dia (e em alguns poucos outros), somos lembrados de que deveríamos estar mais juntos. Que embora tenhamos diferenças e elas possam ser sérias, devemos cultivar nossos laços. Nessas festas, fica nítido que a família é uma escola de convivência que pode e deve ser melhor aproveitada.

E para aqueles que pensam que essas formalidades e celebrações são um estorvo e que o Natal deveria ser todos os dias, devo dizer que nós precisamos de ritos, que eles nos ajudam a perceber os significados e as riquezas que já estão em nosso cotidiano. É o fato de ter um dia reservado para o Natal que faz com que todos os demais possam ser iluminados por sua luz. Ou nas palavras de Joaquim Garcia-Huidobro:

“As formas não são tudo, nem o mais importante. Mas não existe conteúdo algum que se sustente sem uma forma que o acompanhe, proteja e cubra. Como não há sorriso que não se reflita nuns lábios e num certo brilho dos olhos. Por isso há dias em que festejamos as pessoas que amamos. Ainda que as amemos todos os dias.”

Termino desejando um Feliz Natal a todos. Para aqueles que, como eu, creem no fato. Para os que apenas admiram a lenda. E também para aqueles que não se encontram em nenhum desses grupos. A alegria dessa data é tão grande que gostaria que ninguém dela fosse excluído.

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - UFRJ
Fundador da Oficina de Valores

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