E se viéssemos do pó...
Questione-se sobre quem você é;
quem já foi e quem será no futuro! E, se todos pararmos por alguns instantes,
entenderemos que somos, na verdade, uma soma de fatores, um conjunto de
escolhas e de consequências de decisões alheias, o que gera em nós diversas
inclinações e propósitos. Como engrenagens que vão contribuindo umas para o
movimento das outras, o ser humano é afetado e afeta o próximo, compromisso que
nem sempre assume. Contudo, ele tende a acreditar e a se encher de orgulhos por
seus feitos, desconsiderando que, em propriedade, ele não é o inicio desse
movimento, mas uma parte que não se edifica sozinha.
O que te motiva a ir em frente? A
permitir que o novo venha? Quais são as suas influências e referências? Essas
questões são de grande importância para iniciarmos essa reflexão e começarmos a
entender a nossa pequenez. Esse fato se concretiza, pois – pensando na vastidão
do mundo – somos só um ponto, um pedaço bem pequeno dessa imensidão. Primeiro,
a gente constata tal realidade pela vastidão do tempo e do espaço; segundo,
devido às questões biológicas e sociais que formam a nossa aparência,
habilidades e personalidade; terceiro, pela produção de conhecimento que em nosso
tempo é tão abrangente; e, por último, pelas, cada vez mais, infinitas
possibilidades de comunicação que aumentam o nosso contato com os conteúdos.
Porém, na nossa extensa vaidade, insistimos em acreditar que nós, sozinhos,
mudamos o rumo das coisas e da história. E onde está mesmo quem nos levou até
onde chegamos? Quem nos sustentou e nos acolheu? Quem te ensinou a falar, a
escrever e a ler?
Todas as formas e práticas que
aprendemos vêm de outra pessoa, de alguma antecessora observação, que teve seu
precursor e outro... e assim para trás! Nessa dinâmica, ainda que não seja por
outra pessoa, o individuo é influenciado, pelo menos, devido ao comportamento
da matéria. Logo, por maior que seja a descoberta de Isaac Newton, por exemplo,
tudo o que ela contém já existia e continuaria a existir depois dele. E para
enfatizar ainda mais as perspectivas levantadas, a continuidade da vida também
não seria interrompida sem a intervenção humana, já que a ciclicidade da Terra
garante a ela e ao homem a sua manutenção. Então, quem é maior? O físico ou a
física? O biólogo ou a biologia? O cristão ou o Cristo?
Nós interferimos nas
movimentações da Terra, às vezes pro bem, às vezes nem tão pro bem assim. A
partir disso, outro ponto que se deve pensar é sobre a nossa mínima parcela de contribuição:
a escolha. Essa, junto com a matéria e personalidades pré-existentes, ou seja,
não por si só, altera a vida de outras pessoas, demonstrando-nos que, embora
sejamos pequenos, temos responsabilidade com as vidas dos outros. Afinal,
enquanto canal de tudo isso; sob os ajustes feitos pelas nossas opções (que
também são influenciadas), reproduzimos conteúdos e pensamentos que, querendo
ou não, são assistidos e copiados. Tal comprometimento assusta e parece quase paradoxal
no nosso modo de agir, porque temos orgulho das nossas decisões que chegam aos
outros quando nos rendem louros, porém lavamos nossas mãos quando o resultado
dessas é negativo. Então pensemos: quem colocou o menino pra morar na rua se
não nós mesmos? Seja pela nossa ação ou
pela nossa omissão...
Por fim, que possamos pensar: quantos
livros já li que não foram escritos por mim? Ou quantas coisas falamos que não
foram pensadas ou idealizadas por nós mesmos em sua totalidade de construção? Quantas
ideias geniais tivemos que não tivesse uma pitada ou um caldeirão
(possivelmente um caldeirão) de mesclas de outras ideias?
Quem somos e de onde viemos?
Somos pó e para o pó voltaremos...
Rhangel Carvalho
Estudante de Comunicação - UFRJ
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